Facebook, Twitter e outras redes sociais trouxeram coisas boas e ruins.
Uma das mais convenientes é saber os assuntos que mais interessam.
Recentemente, poucos temas geraram tanta inquietação e nenhum, tanta
incompreensão, quanto nossos números de emprego. Quase todos sabem que a taxa
de desemprego despencou e está entre as mais baixas do mundo e da História, mas
você sabia que de cada 100 brasileiros em idade de trabalho, só 53 trabalham?
Isto mesmo. Pelos dados oficiais do IBGE, de cada 100
brasileiros em idade de trabalho, 53 trabalham, 3 procuram emprego e não
encontram e 44 não trabalham, nem procuram emprego. Segundo a Pesquisa Mensal
de Emprego (PME), 5% estão desempregados nas 12 maiores regiões metropolitanas
do país.
Só é considerado desempregado quem procura emprego e não
encontra (3%) sobre o total dos que procuraram emprego (56%). Quem não procura
(44%), tecnicamente não está desempregado. Esta não é uma manipulação
estatística. O mesmo conceito vale no mundo todo. Porém, se a estatística não é
manipulada, sua interpretação é. Baseado na baixa taxa de desemprego, o governo
sugere que quase todos os brasileiros têm emprego. Na realidade, quase metade
(47%) não tem e muitos estão subempregados – sem carteira assinada ou
trabalhando menos do que gostariam. Basta uma hora semanal de trabalho
assalariado para ser considerado empregado.
Excluindo-se empregados e desempregados, sobram os que só estudam, os
aposentados, os pensionistas e os que não querem trabalhar, totalizando 44% da
População em Idade Ativa (PIA). Na PME, a PIA considera todos acima de 10 anos.
Quem tem menos de 18 anos não deveria trabalhar, mas paradoxalmente, incluí-los
na PIA reduz a taxa de desemprego. Os poucos que trabalham aumentam o total de
empregados, mas a quase totalidade dos que não trabalham não procura emprego.
Por isso, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, também do IBGE,
que mede o desemprego em 3,5 mil municípios entre os maiores de 15 anos, aponta
uma taxa de 7%, contra 5% da PME. Considerando apenas quem tem de 18 a 65 anos,
a taxa de desemprego seria ainda mais alta.
A porcentagem dos que trabalham em relação à PIA no Brasil (53%)
é hoje menor do que na maioria dos países da Europa, onde as taxas de
desemprego chegam a 5 vezes mais do que aqui.
Pior, o número de empregos tem caído. Nas maiores regiões metropolitanas, há
hoje 142 mil empregos menos que há um ano. Por que o desemprego continua
caindo, então? Porque mais gente desistiu de procurar emprego do que caiu o
número de empregos.
Infelizmente, quem determina a geração de riqueza em um país é o total de
pessoas trabalhando, não a taxa de desemprego. Com menos empregos, o
crescimento tem sido pífio, mas com menos gente procurando emprego, o
desemprego caiu.
Milhões de pessoas deixaram de buscar empregos nos últimos 10 anos por quatro
razões. Temos, hoje, dois milhões de estudantes universitários a mais, o que é
ótimo. Uma parte deles não trabalha nem busca emprego.
As outras três razões são negativas. A população brasileira está envelhecendo,
reduzindo a parcela dos que trabalham e aumentando a dos aposentados. Há ainda
os efeitos das políticas do governo. O Bolsa-Família melhora as condições de
sobrevivência de milhões de famílias, mas em locais onde os salários são pouco
superiores ao benefício, desestimula a busca por emprego. Desde 2004, o número
de beneficiários subiu de 6,6 milhões para 14,1 milhões.
Por fim, há a expansão do prazo e valor do seguro-desemprego.
Nos últimos 10 anos, o desemprego caiu de 13% para 5%, mas os gastos com abono
e seguro desemprego subiram de R$13 bilhões para mais de R$45 bilhões. Quem
recebe seguro desemprego e não busca emprego não é considerado desempregado na
estatística. Com a ampliação do benefício, mais gente entrou neste grupo.
De um ano para cá, o mercado de trabalho piorou.
Há menos empregos e quem procura demora mais para encontrar. Entre os novos
empregados, a participação dos que encontraram emprego em menos de 6 meses caiu
8%; já a dos que levaram de 6 meses a um ano subiu 19% e a dos que levaram mais
de um ano subiu 36%. Dificuldade em achar emprego leva alguns a deixarem de
procurar, reduzindo a taxa desemprego. É o que tem acontecido.
Resumindo, criar condições para que o país volte a criar empregos e estimular
os brasileiros a quererem trabalhar serão dois dos
maiores desafios dos próximos anos.
Ricardo Amorim - Economista, apresentador
do programa Manhattan Connection da
Globonews e presidente da Ricam Consultoria.
Fonte: revista ISTO É