Para games funcionarem, a latência precisará ser próxima de zero; isso é revolucionário.
Pipocou nos últimos dias a notícia de que o Google lançou um novo serviço de games online, chamado Stadia.
Hoje, se alguém quer jogar um jogo de ponta, precisa comprar um dos principais videogames, como Xbox ou Play-Station. Com o novo modelo, isso não é mais necessário.
Usando o próprio navegador Chrome, passa a ser possível jogar games complexos como “Assassin’s Creed” pela internet, via streaming. O jogo fica na “nuvem”, e todos os comandos e respostas são transmitidos pela rede em tempo real.
As análises sobre o novo produto afirmaram: “O Google Stadia mudará para sempre a indústria de games e como as pessoas consomem jogos”. Está certo. No entanto, na verdade esse modelo vai mudar para sempre toda a indústria de telecomunicações e como as pessoas se conectam à internet.
Explico. Os games estão servindo de ponta de lança para uma profunda revolução na infraestrutura da internet. A razão é simples: games demandam respostas imediatas. Não dá para soltar um comando para Lara Croft atirar em um monstro em “Tomb Raider” e isso levar três segundos para chegar aos servidores do Google. Até lá a personagem terá sido trucidada pelos adversários virtuais.
Em outras palavras, para que esse tipo de modelo funcione, será preciso acabar com a latência na internet, definida como o tempo que leva para mandar uma informação do emissor para o receptor. Para games funcionarem, a latência precisará ser muito próxima de zero.
Isso é revolucionário. Hoje, a conexão à internet é organizada em torno de basicamente dois modelos: velocidade e volume de dados.
Quando assinamos um provedor em casa, perguntamos qual a velocidade de conexão: 25 mpbs e assim por diante.
Quando assinamos a conexão pelo celular, perguntamos qual o tamanho do “pacote de dados”: 1 gigabyte, 5 GB e assim por diante.
Serviços como o do Google introduzem no mercado um novo conceito: qual é a latência oferecida pelo serviço. Se a latência é alta, não importa a velocidade da conexão ou o tamanho do pacote de dados. A conexão fica imprestável para essas aplicações mais novas (e que serão as mais cobiçadas).
Isso vai obrigar as operadoras de telecomunicações a reorganizar suas redes para oferecer latência baixíssima. Se não fizerem isso, as próprias empresas de internet construirão elas mesmas a infraestrutura de latência baixa para oferecer a seus usuários.
É claro que games são só a ponta da lança. A internet “imediata” é revolucionária. Ela inclui telemedicina, em que vai ser possível operar pacientes a distância. Carros autônomos (que também não admitem latência), redes de drones e outros modelos de interatividade ainda nem sonhados.
Vem aí a internet imediata, interativa, de alta definição e em tempo real. Isso só reforça a importância do 5G.
Entre suas promessas, está justamente a latência baixa. Países que se posicionarem primeiro quanto ao 5G terão capacidade de desenvolver primeiro esses novos tipos de aplicação e liderar.
Por fim, quem me chamou a atenção para tudo isso foi Thiago Camargo, que, além de gamer inveterado, foi secretário de políticas digitais do Ministério da Ciência e Tecnologia no Brasil.
Ronaldo Lemos - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro
Fonte: coluna jornal FSP