Quer
uma boa notícia do PIB do ano passado que não está no PIB do ano passado? O
Brasil liderou o ranking global do empreendedorismo em 2014.
Segundo
nova pesquisa da GEM (sigla em inglês para Monitor do Empreendedorismo Global),
34,5% dos brasileiros adultos entre 18 e 64 anos possuíam uma empresa ou
estavam envolvidos na criação de um negócio em 2014. É a maior taxa de
empreendedorismo do mundo, à frente da China (26,7%), dos Estados Unidos (20%),
do Reino Unido (17%), da Índia (10,2%) e de todos os outros países pesquisados.
Esse
campeonato mundial vale muito mais do que qualquer Copa ou Olimpíada. É essa
massa de empreendedores que levará o país de volta ao crescimento.
Diante
do quadro atual, essa é uma das perspectivas que mais me animam. Afinal, o
Brasil é também uma nação "start-up", mesmo que seja "low
tech". Imagina num ambiente de negócios melhor.
O
empreendedorismo é a forma mais eficiente de gerar riqueza e bem-estar para a
população. E pode ser muito estimulado com soluções simples e eficientes. Um
exemplo do que já se fez, o Simples, que uniu diversos e complexos tributos
numa única, simplificada e reduzida taxa, inseriu uma legião de empreendedores
na formalidade e facilitou a vida de milhões de empresas. No ano passado,
enquanto a arrecadação geral caía, a arrecadação do Supersimples aumentava.
Quantas
medidas como essa, que não geram despesa, geram riqueza, podem ser formuladas e
adotadas? Já há até nova proposta tramitando para a ampliação do Simples, que
estenderá sua incidência a mais setores e trará mais empreendedores para a
economia formal.
Aliás,
o relatório da GEM 2014 abre com uma daquelas frases incríveis do Albert
Einstein: "Tudo de valioso na sociedade humana depende das oportunidades
de desenvolvimento oferecidas aos indivíduos".
Mesmo
que num ritmo lento, o Brasil vem desde a redemocratização e a Constituição de
1988 provendo uma base sobre a qual os indivíduos estão avançando. Não é uma
linha reta --as histórias de sucesso raramente se dão em linha reta. Mas os
índices macroeconômicos e sociais são hoje muito melhores do que os de dez anos
atrás. O imenso mercado interno brasileiro consolidado no último ciclo de
crescimento pode estar mais fraco, mas não vai embora. E uma hora volta a
crescer. Nossas empresas evoluíram muito também nesse período, com enorme
aprendizado.
Voltando
à pesquisa GEM, patrocinada por centros de saber como o Babson College e a
London Business School, a taxa de empreendedorismo entre a população adu- lta
brasileira teve evolução notá- vel nos últimos dez anos, subindo de 23% em 2004
para os 34,5% do ano passado.
Esses
milhões de brasileiros que se tornaram empresários vêm de todas as classes
sociais. E todos trazem contribuição enorme ao país.
Nasci
no Pelourinho, em Salvador, e me tornei empresário no mundo porque crescendo no
Brasil pude ver claramente as grandes oportunidades diante de mim e estava
capacitado a desenvolvê-las.
Há
muito a fazer para capacitar esse exército de empresários e suas novas
empresas, da educação à legislação, passando pelo trampolim da tecnologia.
A
propagação das novas tecnologias é o atalho para o empreendedor. Hoje, com
poucos recursos, ele pode facilmente se comunicar com os seus diferentes
públicos, realizar transações financeiras em áreas remotas e a baixo custo,
aprender com parceiros locais e distantes, usufruir de gadgets, aplicativos e
softwares para todas as necessidades.
São
os empreendedores e suas empresas que criarão os empregos e gerarão as receitas
para mudar o patamar de desenvolvimento do Brasil.
As
crises trazem confusão, mas trazem também clareza. Que ela exerça sua função
suprema de depurar defeitos e fortalecer acer- tos. O apoio ao empreendedor já
se provou seminal aqui e em todo o mundo.
Essa
crise vai dar trabalho, e só vamos sair dela trabalhando e empreendendo.
Nizan Guanaes - publicitário e presidente do
Grupo ABC, colunista do jornal FSP.