Alerta dos EUA contra danos de
redes sociais à saúde mental é incomum e urgente
Artigo de diretor de Saúde Pública afirma que excesso de tempo online
pode dobrar riscos de depressão e ansiedade.
O alerta do principal assessor
de saúde pública do governo federal americano sobre o "risco de profundo
dano" à saúde de crianças e adolescentes por excesso de uso das redes sociais é
incomum e urgente.
Mais de uma década após os smartphones se tornarem amplamente equipados com apps de
videogames e mídias sociais, ainda não há suficiente conhecimento
epidemiológico para determinar o vínculo inegável entre as horas passadas na
tela e doenças mentais, como é o caso da relação entre cigarro e câncer.
Mas não há dúvida de que
as redes sociais e os videogames são
programados para satisfazer a parte do cérebro que busca prazer e é
comprovadamente associada a tabagismo, dependência de drogas e vício em jogos de azar.
O médico Vivek Murthy, diretor
de Saúde Pública nomeado por Joe Biden, emitiu um documento de 19 páginas e
publicou um artigo no jornal The Washington Post sobre o tema. Ele é autor do
livro "O Poder Curativo das Relações Humanas", lançado no Brasil no
ano passado.
Há anos, psiquiatras e
psicólogos vêm alertando sobre o aumento de casos de distúrbios que vão
da depressão a transtornos alimentares causados por
baixa autoestima pelo uso excessivo de redes sociais.
Murthy afirma que os
adolescentes americanos passam uma média de três horas e meia por dia online, o
que segundo ele, pode dobrar o risco de depressão e ansiedade.
Ele reconhece que games e
aplicativos sociais podem ter potencial benéfico no desenvolvimento
psicossocial. As premiações nesta indústria têm reconhecido games que promovem o engajamento comunitário,
não o isolamento.
A brasileira nascida nos EUA
Luisa Dantas é uma veterana criadora de conteúdos multimídia que promovem
justiça social e produtora executiva e editora de narrativa de Dot’s Home (a
casa de Dot), premiado como melhor game de 2022 na categoria de impacto
cultural entre os aplicativos, escolhidos pela Apple.
Dot’s Home acompanha a jovem
negra Dorothea, que mora com a avó em Detroit, numa incursão sobre passado e
presente da sua vizinhança e mostra como as transformações urbanas decidem o
futuro de minorias raciais.
Dantas diz que,
mais de um ano depois do lançamento, o game repercutiu muito além das
expectativas de audiência de minorias e provocou discussões entre um
público maior sobre as relações entre moradia e raça nos EUA.
Dot’s Home vai
ganhar uma versão encenada e interativa em Detroit.
Na semana passada, a atriz Kate Winslet fez um discurso
passional ao receber o mais importante prêmio britânico de cinema e televisão,
o Bafta.
Winslet e sua filha na vida real, Mia
Threapleton, vivem mãe e filha em "I am Ruth" (eu sou Ruth), um drama
poderoso exibido pela primeira vez em dezembro passado.
O filme acompanha a batalha da
mãe que descobre o isolamento e a escalada de autodestruição da filha quando
ela se torna alvo de ódio na rede social. Winslet denunciou a
inação de governos e empresas de mídia e pediu a erradicação de conteúdos de
ódio que mantêm famílias como "reféns do mundo online".
Ela se dirigiu aos jovens,
dizendo: "Esta não precisa ser sua vida." E concluiu: "Queremos
nossos filhos de volta, não queremos passar noites em claro aterrorizados por
sua saúde mental".
LÚCIA GUIMARÃES - jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi
correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos
jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.