Todas. Todas juntas e misturadas. Muito se tem falado sobre a
decadência da imprensa (mídia espontânea) e, por decorrência, da queda concreta
de número de anunciantes e de valores anunciados nas mídias pagas. Fato e
contra fato não há argumento. Será?
A verdade é que os novos hábitos do público, que prefere
consumir notícias no celular e que, com déficit de atenção, lê cada vez menos
jornais e revistas, assiste cada vez menos TV aberta e praticamente ignora as
propagandas (exceto as que são cool e viralizam nas redes sociais),
tudo isso tem afetado enormemente a indústria de comunicação. Isso afeta os
veículos, os anunciantes (as empresas) e, em última análise, o próprio público,
que tem que explicar melhor como quer se relacionar com as marcas nesse novo
universo.
As marcas e suas agências estão tateando no escuro, mas a
essa altura do campeonato já concluíram que, just in case, está na hora de
repensar o terceiro eixo da comunicação, até aqui tão desprezado: a comunicação
utilizando conteúdo proprietário (branded, ou owned content, como batizam
os gringos).
Convenhamos que marketing de conteúdo não é exatamente nada
de muito novo. Até aqui implicava na compra de espaço para publieditoriais nos
veículos de maior circulação e mais relevantes para o negócio, no envio de
e-mail marketing para o mailing da empresa, publicação conteúdo no web site,
publicações em blogs corporativos e espaços proprietários nas redes sociais. Só
que o impacto nos negócios proporcionado pelo chamado marketing de conteúdo era
muito pequeno e de difícil mensuração.
O que mudou nesse cenário? Mudou o público, que conectado,
interativo e sempre ligado nas novas tendências, deixa rastros e pode ser
melhor entendido. Por meio de poderosas plataformas de monitoramento e
marketinganalytics é hoje possível detectar os interesses do público,
tornando as plataformas de conteúdo branded mais utilitárias e, por
consequência, com maior poder de engajar os consumidores com as marcas.
Outra coisa que mudou é que os outros dois eixos da
comunicação, as mídias paga e espontânea, podem agora ser orientados pelo eixo
da mídia proprietária, com base nos interesses continuamente explicitados pelo
público. Dessa forma, um ad no Google deixa de ser apenas promocional (e pouco
útil) para direcionar para um conteúdo proprietário, sabidamente de interesse
de um particular perfil de público (persona). Ou seja, o anúncio on-line, direciona
a audiência para os canais proprietários e, de quebra, ajuda a melhorar a
indexação da marca na busca orgânica do Google.
Da mesma forma, por meio de sua agência de comunicação, a
empresa explorará prioritariamente os temas mais ligados aos interesses do
público. E vice-versa. As matérias que mais interessarem ao público serão
reproduzidas nos canais de mídia proprietária.
Ou seja, a comunicação corporativa passa a funcionar com uma
engrenagem, com três eixos sincronizados: mídias paga, espontânea e proprietária.
E o eixo propulsor passa a ser a mídia proprietária. Tudo isso parece óbvio e
simples, mas não é. Por exemplo, migrar web sites chatos (QUEM SOMOS, NOSSOS
PRODUTOS, NOSSOS VALORES, TRABALHE COM A GENTE, ETC) para sites de conteúdo
utilitário, E DINÂMICO, sempre orientado pelos interesses do público e que,
sutilmente, conecta com as competências da empresa, não é trabalho para
amadores. Da mesma forma, tornar o Facebook, Twitter ou Youtube em canais de
engajamento, tudo isso requer muita reflexão, planejamento e trabalho pesado. E
nada disso voa sem a adoção de plataformas de software para monitorar a
analisar o comportamento de consumo de conteúdo por parte do público.
Bem vindo a 2015. Talvez a crise instalada no país possa ser
um interregno oportuno para uma drástica mudança na estratégia de comunicação
corporativa da empresa. Uma coisa é certa. A crise vai passar e no final do
túnel só vai voar quem tiver comprado asas.
Augusto Pinto - engenheiro de formação, com
mais de 30 anos atuando no mercado de TI., atua há 13 anos em Comunicação
Corporativa, como sócio fundador da RMA Comunicação.
Fonte: site aberje