Inflação digital esvazia o bolso sem chamar atenção


Questão não é somente o quanto pagamos para ter todos estes serviços, mas sim os gastos que fazemos a partir deles

Você já somou suas despesas mensais com serviços de streaming (como Netflix, Looke e Spotify); transporte por aplicativo (Uber, Cabify, 99); aparelho celular, e combo de TV por assinatura, acesso à banda larga e telefone? É provável que não, mas sem dúvida consomem percentual crescente da renda de grande parte dos brasileiros. Os serviços digitais, sem alarde, podem esvaziar nosso bolso.

transformação no perfil de consumo é tão forte que, a partir de 2020, estes itens farão parte do cálculo da inflação. Mas é ainda mais urgente quantificar todo seu custo mensal para evitar surpresas financeiras desagradáveis.

Até porque as lojas virtuais têm conquistado clientes dos estabelecimentos convencionais, provocando inclusive o fechamento de unidades no Brasil e no exterior. E os preços, a propósito, nem sempre são menores do que nas lojas de rua e de shoppings.


Enfatizo aos mais jovens que nem sempre foi assim. Por décadas, a despesa mensal com comunicação era a conta do telefone fixo.                                                                                                                                                                                                                       

 Havia, além disso, adicionais por excesso de ligações, interurbanos e chamadas internacionais.


As redes de telefonia celular surgiram por aqui em 1990. Hoje, há cerca de 230 milhões de celulares, ou seja, mais do que os 210 milhões de habitantes do país.

Entre os anos 1950 e 1980, depois de comprar um aparelho de televisão e a antena, só havia custos com consertos (relativamente frequentes nos primórdios da TV), mas não se pagava nada para assistir a programação, toda gerada por canais abertos.

Embora houvesse canais pagos antes, as primeiras redes de TV a cabo só surgiram na década de 1990.
A Internet, que talvez pareça sempre ter existido, chegou ao Brasil em 1995, tornando-se mais popular a partir do ano 2000.

Aplicativos, streaming, acesso à banda larga, TV paga, dispositivos móveis, portanto, fazem parte de nosso cotidiano há menos de 30 anos. A questão não é somente o quanto pagamos para ter todos estes serviços, mas sim os gastos que fazemos a partir deles. Por exemplo, comprar roupas, calçados, perfumes, passagens aéreas, hospedagem, comida, bebida, cinema, teatro, livros, transporte urbano etc.

Para algumas pessoas, a facilidade de consumir sem entrar em uma loja pode dar a impressão de que não gastem muito. Ledo engano. Despesas como transporte, refeições e compras de supermercado, por se repetirem várias vezes por mês, se acumulam e se avolumam.

Os serviços são digitais, mas as contas bem palpáveis e salgadas.

Maria Inês Dolci - advogada especialista em direitos do consumidor, foi coordenadora da Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor).

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