Nunca pressuponha que seu
cliente sabe sobre o que você está falando!
Muitos prestadores de
serviços para fundos de pensão, como gestores de investimentos e firmas de
serviços atuariais, assumem que os clientes possuem ao menos uma base de
conhecimento técnico sobre o assunto, o que frequentemente está longe de ser
verdade.
Se investimento, economia ou
atuária, por exemplo, não são o seu trabalho diário, sua exposição ao assunto
será seletiva, parcial e muito baseada no que você lê ou ouve por aí.
Esse nível de conhecimento
não substitui a genuína experiência de quem trabalha com aqueles ou com outros
assuntos muito técnicos (jurídico, comunicação etc.).
Mesmo conselheiros de fundos
de pensão indicados pelas patrocinadoras ou eleitos pelos participantes, com
bilhões de reais em patrimônio, só mudam o foco para os investimentos
esporadicamente e de forma inconsistente, encaixando a discussão do assunto
numa pequena parte do seu dia de trabalho.
Um conselheiro frequentemente
adquire conhecimento num rápido rompante durante uma reunião periódica do
conselho deliberativo, apenas para perdê-lo no intervalo de espera até a
próxima, que em alguns fundos chega a 3 meses.
É por isso que a prestação de
contas de muitos gestores de investimentos ou de consultores atuariais pode
passar voando por sobre as cabeças do conselho, até mesmo questões básicas!
O caso que aconteceu num
fundo de pensão alguns anos atrás é um bom exemplo de “pressuposto de
conhecimento”.
O conselho deliberativo de um
prestigioso fundo de pensão encarava sua responsabilidade fiduciária de maneira
extremamente séria, se reunindo regularmente e com agendas cuidadosamente
estruturadas.
Muito desse rigor na
governança do fundo se devia ao profissionalismo do Presidente do Conselho
Deliberativo, conhecido como Sr. Estamura.
O Sr. Estamura gerenciava
suas reuniões estritamente dentro do tempo, não deixava espaço para os
conselheiros perderem o rumo em discussões infindáveis.
Ele acreditava ser essencial
manter o olho nos gestores dos investimentos do fundo e por isso exigia que os
representantes dos gestores externos participassem de duas reuniões do conselho
deliberativo por ano.
Assim aconteceu ao longo de
toda a presidência do Sr. Estamura, que já durava quase 20 anos naquela ocasião
(ele deve ter sido um dos mais longevos presidentes de conselho de fundo de
pensão no país).
Uma gestora de investimentos
– que vamos chamar de Sombra Asset Management – sempre
atemorizada pelo presidente, submetia um extenso relatório escrito com bastante
antecedência de cada reunião.
Então, durante a reunião
propriamente dita, os representantes da Sombra (nunca menos do
que duas pessoas, as vezes mais) faziam uma apresentação detalhada.
Começavam com uma visão
abrangente da situação macro econômica e desciam para as estratégias de
investimentos da casa, antes de esmiuçar o racional por trás da seleção de cada
ação específica e das decisões de alocação.
A exposição deixava todos de
boca aberta, com minúcias econômicas apoiadas por vasta estatística, métricas e
indicadores complexos.
Era impressionante, os
conselheiros balançavam as cabeças concordando com os pontos-chave e a
concordância mais vigorosa sempre vinha do Sr. Estamura.
Infelizmente, devido ao
gerenciamento militar da agenda pelo Sr. Estamura, raramente sobrava tempo para
muito questionamento no final da reunião.
Um dia, porém, algo inesperado
aconteceu. Numa reunião só apareceu uma representante da Sombra e
sem o vasto e denso material costumeiramente mostrado.
Como ela terminou mais cedo a
apresentação, sugeriu que seria uma boa oportunidade para ela responder
qualquer questão mais complexa que os conselheiros pudessem ter em mente.
O Sr. Estamura ficou
visivelmente excitado com essa possibilidade – 10 minutos livres na agenda para
perguntas – e não se conteve em ser o primeiro a perguntar!
- “Bem, há algo que eu venho
matutando já por algum tempo”, disse ele, se endireitando na cadeira.
- “Sim?”, assentiu a
apresentadora, se preparando para uma pergunta de abissal tecnicidade.
- “Eu sempre quis saber”,
perguntou o Sr. Estamura, ”... o que é um equity (ação)?”
Qualquer semelhança com
histórias ou nomes reais terá sido mera coincidência.
Não obstante, caso você tenha
se identificado com uma situação parecida, saiba que este é um dos motivos
pelos quais tenho defendido incansavelmente a adoção pelos fundos de pensão
brasileiros, da figura do Conselheiro Independente.
Conselheiro Independente é
aquele profissional de mercado, remunerado para aportar sua experiência de
mercado no fundo, que não participa de nenhum plano administrado pela entidade
da qual é conselheiro, que não é empregado ou ex-empregado de patrocinadora,
nem possui qualquer vinculo com o fundo de pensão.
Fonte: Adaptado do artigo Assumptions
of Knowledge, escrito por Steve Delo da Mooreland Human Capital
Crédito de Imagem: http://www.mdig.com.br
Eder C. da Costa e Silva - atuário, com
especialização em propaganda e marketing, mestre em
administração.