Há anos, publico nesta época do ano, um artigo sobre as perspectivas para o ano seguinte.
Nos últimos quatro anos, alertei que as
expectativas de crescimento do PIB, que oscilaram entre 4% e 5%, decepcionariam e, infelizmente, o crescimento efetivamente ficou aquém das expectativas, em alguns anos até
mesmo das minhas.
Crescemos apenas 1,6% a.a., nestes quatro anos,
menos que todos os países latinoamericanos.
Pasme, mas para os próximos quatro anos, as
probabilidades de surpresas positivas são maiores do que de más surpresas.
Não, as boas surpresas não começarão em 2015. As
expectativas de crescimento de 0,7% parecem relativamente realistas.
Realistas, mas muito ruins. Por que cresceremos tão pouco?
Altas de preços controlados pelo governo e do
dólar pressionarão a inflação e exigirão que o Banco Central continue a subir a taxa
de juros, encarecendo o crédito e limitando assim consumo e investimentos em
expansão da capacidade de produção.
O péssimo estado das contas públicas exigirá um
duro ajuste fiscal, retirando recursos da economia.
O cenário político estará conturbado, com o avanço da Operação Lava-Jato. As incertezas colaborarão para deprimir ainda mais a confiança de
empresários e consumidores, limitando investimentos e consumo.
Assim, novas quedas do PIB na primeira metade do
ano são bastante possíveis.
Dois riscos adicionais podem até fazer com que
o PIB caia no ano como um todo: um eventual racionamento de energia elétrica na
região sudeste e uma possível nova crise externa. Porém, este não é o ponto deste
artigo.
O ponto é que as atuais expectativas de
crescimento de menos de 2% em 2016 e menos de 2,5% em 2017 e 2018 são muito
ruins, criando uma boa chance de surpresas positivas, o que chamo de “efeito
Copa do Mundo”. A maioria dos brasileiros considerou a Copa um sucesso, não
porque nossa organização foi impecável – lembra-se da ponte que caiu em Belo
Horizonte? – mas porque a expectativa de caos da maioria não se concretizou.
O mesmo fenômeno aconteceu com a economia
brasileira em 2009 e 2010. Em 2009, o PIB caiu e, com ele, as expectativas para 2010. No entanto, em 2010 o Brasil acabou registrando a
maior taxa de crescimento em um quarto de século, 7,5%.
Joaquim Levy, conhecido em Brasília como Joaquim
Mãos de Tesoura, é o homem certo no lugar certo. Se a Presidenta deixá-lo
ajustar as contas públicas reduzindo gastos públicos, ao invés de aumentando impostos, poderemos ter um choque positivo de confiança,
gerando uma recuperação inesperadamente robusta.
Cortes sistemáticos e profundos dos gastos
públicos abririam espaço a seguir para elevação dos investimentos em
infraestrutura, redução dos impostos e da necessidade de financiamento do
governo, permitindo que os juros caíssem a partir do de 2016, o que por
sua vez reduziria a atração de capital especulativo, permitindo que o país
tivesse uma taxa de câmbio mais competitiva.
Antes que o novo ministro tenha sequer tomado
posse, é cedo demais para garantir que isto vá acontecer, mas pela primeira vez
em muito tempo, a probabilidade de boas surpresas econômicas é maior do que as
das más. Aí é que mora a oportunidade.