Tomara
que o investimento chegue logo a este mercado, não importa com qual
nacionalidade
Houve de tudo nos ares do Brasil nos últimos dias, menos
céu de brigadeiro: foi aceito o pedido de recuperaçãojudicial da Avianca; o governo Temer assinou Medida
Provisória que libera 100% de capital estrangeiro nas
companhias aéreas, e os atrasos de voos transformaram, por vários
dias, o aeroporto de Guarulhos em um inferno dos passageiros. E a Embraer e a Boeing fecharam negócio para
criação de nova companhia, acordo que ainda terá de ser validado pelo governo
federal.
A Folha mostrou
que, segundo dados da agência reguladora (Anac), o atual nível do transporte
aéreo doméstico equivale ao patamar de 2011! Para a Abear, associação das
grandes companhias aéreas, o nível atual recuou para 2013, início de sua série
histórica. Sempre defendi que não houvesse reserva de mercado na aviação civil.
Nada justificava a restrição ao capital internacional. Ao menos, o fim desta
limitação foi um saldo positivo desta semana ruim. Mas a situação da Avianca
demonstra que as dificuldades financeiras não são exclusividade do duopólio
Gol/Latam.
Passageiros lotam área de embarque no aeroporto de
Cumbica
Nesse cenário, cai como uma luva uma estrofe da canção
“Como dois e dois”, de Roberto Carlos: “tudo vai mal, tudo, tudo é igual quando
canto e sou mudo”. Em agosto, artigo publicado neste espaço começava com a
pergunta: Empresas aéreas querem que o passageiro viaje em pé?
Não estava brincando com assunto tão sério. A pergunta decorria da operação
promovida pelo Ministério Público, OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e
Associação Brasileira de Procons. Eles apuravam as irregularidades e o
desrespeito a que são submetidos os passageiros da aviação comercial.
Lembrei, na ocasião, que os preços dos bilhetes aéreos
poderiam ter caído se tivesse sido aprovado projeto de lei para redução das
alíquotas de ICMS incidentes sobre o querosene de aviação, insumo que mais
onera este tipo de transporte. O teto seria 12%, mas a redução de imposto que
chega, em alguns estados, a 25%, não foi apoiada pelos governadores. Critiquei
a má ideia das companhias de cobrar pela marcação do assento, como se fosse
possível viajar em pé, caso o passageiro não aceitasse mais este ônus.
De lá para cá, a situação piorou. Não bastasse tudo
isso, desde quinta-feira centenas de voos atrasaram mais de 30 minutos no
Aeroporto de Cumbica, Guarulhos (SP). Dezenas deles foram cancelados, a maioria
da Latam. O que provocou isso? Segundo as autoridades e as empresas, as fortes
chuvas que caíram sobre a Grande São Paulo na quinta-feira (13/12). O mico,
novamente, ficou para os passageiros, que receberam poucas
informações. Tomara que o investimento chegue logo a este mercado, não
importa com qual nacionalidade, para melhorar a qualidade dos serviços
oferecidos ao consumidor.
Maria
Inês Dolci - advogada especialista em
direitos do consumidor, foi coordenadora da Proteste (Associação Brasileira de
Defesa do Consumidor).
Fonte;
coluna jornal FSP