A desonestidade bem-sucedida se
perpetua
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A história é conhecida: mesmo os maiores
salafrários começaram pequeno. Um virar dos olhos para o outro lado aqui, um
subornozinho ali, e logo estão tramando altos esquemas de desvio de verbas e
corrupção. Por que pequenas desonestidades geram desonestidades cada vez
maiores, numa bola de neve que só faz crescer?
Atos desonestos são inicialmente tão moralmente e
emocionalmente perturbadores para o perpetrador quanto para quem ouve a
respeito. A sensação de apreensão e angústia com a perspectiva de ser desonesto
age como um freio importantíssimo: estudantes que tomam substâncias que reduzem
a sensação de estresse tem o dobro de probabilidade de colar em provas, por
exemplo.
O problema é que a desonestidade bem-sucedida se
perpetua não só ao ser recompensada mas também ao encontrar cada vez menos
objeção do próprio cérebro. Este é apenas mais um exemplo de como o cérebro se
modifica com seus próprios atos e fica cada vez melhor no que faz. Isso é o que
mostra um estudo da University College London, no Reino Unido, que
examinou a atividade na amígdala cerebral, estrutura envolvida na geração de
respostas emocionais, como angústia e medo, a situações variadas.
Os pesquisadores avaliaram a ativação da amígdala
enquanto voluntários em uma máquina de ressonância magnética funcional viam a
imagem de um pote de moedas e orientavam um "parceiro" fora da
máquina sobre quanto dinheiro haveria ali; voluntário e parceiro receberiam um
prêmio dependendo de suas estimativas. A equipe constatou desonestidade
crescente dentro da máquina –mas só quando os voluntários acreditavam que
enganar o parceiro seria vantajoso para si mesmos.
O mais importante é que não só os pesquisadores
observaram uma habituação da amígdala cerebral a cada ato desonesto
interesseiro, como essa habituação –conforme a amígdala se
"acostumava" com a desonestidade– predizia corretamente uma
desonestidade interesseira ainda maior da próxima vez.
É como se a amígdala, impune, fosse perdendo a
vergonha a cada ato desonesto em prol de si mesma. A habituação explica a
desonestidade crescente, mas claro que não a justifica. A lição mais importante
é como é fundamental cortar o mal pela raiz.
Eu cresci pensando que o "jeitinho
brasileiro" era uma demonstração bacana de como somos flexíveis,
compreensivos e tolerantes no Brasil. Agora sei que é apenas mais um triste
sinal do desrespeito pelas regras que impera no país, combinado à certeza da
impunidade, e que só faz gerar mais desonestidade. Abaixo o jeitinho brasileiro!
Eliane
Miraglia - mestre em Ciências da Comunicação,
especialista em Gestão de Processos Comunicacionais e consultora de
comunicação, tem participado em projetos com a Suporte Educacional.
Fonte: blog da Eliane: www.elianemiragliablogspot.com.br