Três investimentos que não podem faltar em seu
portfólio em 2021
A pandemia provocada pelo Covid-19
demandou dos governos estímulos fiscais e monetários.
Em 2020 esta injeção de
recursos trouxe duas consequências: taxas de juros de curto prazo mais baixas e
inflação mais elevada.
Estes reflexos devem se propagar por 2021 e definir três
investimentos que você deve possuir para o próximo ano.
Você já deve ter notado os preços
mais altos de bens e serviços nos últimos meses.
Segundo o boletim semanal Focus do
Banco Central desta última segunda-feira (21/dez), economistas do mercado
esperam que o IPCA em 2021 seja de 3,37% ao ano.
Portanto, 2021 deve ser o
segundo ano em que a Selic e o CDI perdem do IPCA, conforme expectativa destes
economistas.
Neste ambiente, ativos conhecidos
como ativos reais, ações e ativos financeiros referenciados ao IPCA devem se
destacar. Vamos começar por estes últimos.
Títulos e fundos de renda fixa
referenciados à inflação
Não é qualquer título público que deve ser comprado
neste momento.
Conforme pode ser visto no gráfico abaixo, da dívida pública
federal de R$ 4,8 trilhões, a maior parcela é de títulos referenciados à Selic.
Justamente estes são os títulos que mencionei acima que deveriam perder da
inflação.
Para obter juros reais, acima da
inflação, o foco devem ser os títulos e fundos referenciados ao IPCA (ou
NTN-B), pois estes rendem uma taxa de juros real mais a variação da inflação.
No gráfico acima, são os classificados como “Índice de Preços”.
Entretanto, é arriscado investir nos
títulos de vencimento longo, ou seja, acima de seis anos para o vencimento.
A
variação destes vai ser muito mais influenciada pelos movimentos de taxa de
juros.
Se o Banco Central elevar as taxas de juros acima do esperado, os
títulos de longo prazo podem sofrer negativamente e você não vai capturar os
ganhos da inflação no curto prazo.
Prefira os títulos com vencimento de
curto e médio prazos, com vencimento inferior a seis anos.
Estes títulos devem
sofrer muito pouco com eventuais aumentos de taxa de juros, favorecendo o ganho
de curto prazo da inflação.
Para os títulos privados, você deve seguir esta mesma
estratégia. No entanto, estes possuem uma vantagem adicional.
Os títulos privados possuem um prêmio
em relação aos títulos públicos. Esse prêmio pode quase dobrar o juro real, ou
seja, os juros acima da inflação obtidos.
Por exemplo, o título público Tesouro
IPCA 2026 tem taxa de IPCA + 2,4% ao ano.
No entanto, deve subtrair desta
remuneração a taxa de custódia da CBLC.
Assim, o retorno que deve receber,
ainda bruto de IR, será de IPCA + 2,15% ao ano. Existem CDBs de mesmo prazo com
retorno de IPCA + 4,0% ao ano. Portanto, quase o dobro de juros real.
Alternativamente, há fundos de renda
referenciados ao IPCA isentos de IR. Estes além de promoverem o prêmio do
título privado, também possuem o benefício da isenção de IR.
O cenário de juros de curto prazo
menores e maior inflação deve promover uma migração por parte dos investidores.
Este rebalanceamento dos portfólios já vem ocorrendo e deve se prolongar pelo
próximo ano.
Esta migração deve favorecer ações e
os chamados ativos reais como fundos imobiliários.
Fundos de ações nacionais e
internacionais
Não há dúvidas de que o mercado de
ações deve ser favorecido. No entanto, depois da alta recente observada no
mercado brasileiro, o investimento direto em ações se torna ainda mais
desafiador.
Adicionalmente, existem riscos não
desprezíveis de o crescimento econômico brasileiro decepcionar, tendo em vista
os riscos relativos à extensão da pandemia e a fragilidade de nossa dívida
pública.
Neste sentido, é ainda mais
recomendável o investimento por meio de fundos de ações com bons gestores para
navegar neste ambiente.
Também é recomendável a
diversificação internacional.
Pelo viés denominado home biased (viés
doméstico), concentramos os investimentos em ativos braseiros. Por estarem mais
próximos, temos a falsa impressão de que estes ativos são menos arriscados.
A figura acima mostra uma tabela com
os múltiplos P/L (preço/ lucro) e Dividend Yield (taxa de
dividendo). O P/L é internacionalmente usado como forma de padronização dos
preços para comparação.
Este múltiplo no caso brasileiro não é dos menores e os
riscos inerentes a nossa economia sugerem atenção.
Ainda assim, nosso mercado deve ser
favorecido pelo fluxo positivo para mercados emergentes e pelo rebalanceamento
de carteiras dos investidores no Brasil.
Fundos imobiliários
Os fundos de investimentos imobiliários (FIIs)
também são uma boa alternativa para proteção da inflação. Os aluguéis dos
imóveis são corrigidos pela inflação.
Adicionalmente, quando comparamos os
dividendos dos FIIs com a taxa de juros de títulos públicos referenciados de
dez anos de vencimento, vemos que os dividendos estão quase em sua máxima
histórica relativa (painel inferior da figura abaixo).
Os FIIs guardam uma vantagem em relação ao investimento em
imóveis diretamente, pela diversificação, liquidez, isenção de IR e maior
remuneração.
Os FIIs que investem em CRIs são uma
alternativa interessante para os que desejam correr menos risco.
Destaco que estes não são as
únicas aplicações que um investidor deve ter em carteira.
Tampouco, que se deve
acabar com investimentos de liquidez. Manter parte dos recursos em liquidez e
baixo risco servem para capturar oportunidades com oscilações desfavoráveis do
mercado.
Michael Viriato - professor de finanças do Insper e
sócio fundador da Casa do Investidor.