Atendimento Integrado e Prevenção trazem resultados para a Saúde Suplementar


Especialistas em saúde suplementar debatem soluções para o setor durante seminário em São Paulo.

 

Os desafios do setor de saúde suplementar não são poucos. Porém, iniciativas que utilizam foco em atenção primária, atendimento integrado, prevenção e mudança na mentalidade de usuários e médicos já começam a aparecer no mundo todo com resultados significativos. Um exemplo é o Plano de Inovação em Saúde de Porto Rico, apresentado durante o II Seminário Internacional Sesi de Saúde Suplementar, realizado em setembro, em São Paulo. O evento, que contou com a presença de mais de 300 representantes de empresas, reuniu algumas das mais importantes experiências internacionais e nacionais com o objetivo de debater maneiras de aumentar a qualidade dos serviços prestados sem pesar ainda mais no bolso dos usuários e das empresas contratantes.

Iniciado em janeiro de 2016, o projeto de Porto Rico teve como foco inicial o tratamento de diabetes, começando pela definição de métricas e de três tipos de pacientes que seriam priorizados pelo governo. “Com ele, maximizamos a produtividade da força de trabalho e criamos a jornada do paciente com base nos dados. Ela nos permite conversar com todo o ecossistema sobre a jornada de cada doença a ser tratada”, diz Luis Peres, presidente da Faro, consultoria especializada em gestão de saúde. A empresa, em parceria com o governo daquele país, desenvolveu todo um plano de atendimento integrado que resultou nesse projeto e trouxe redução de custos, melhoria nos diagnósticos e oferta dos recursos adequados aos pacientes corretos.

No Brasil, já começam a tomar corpo discussões que devem levar a resultados semelhantes aos de Porto Rico. A presidente da Associação Paulista de Medicina do Trabalho, Flávia de Almeida, reconhece que, em alguns casos, os médicos do trabalho já não se preocupam apenas com os exames clínicos, mas com a saúde integral do trabalhador. “Nosso desafio hoje é tentar ampliar essa visão para todos os médicos do trabalho. Temos que dar um passo a mais”, afirma.

Um avanço de diálogo entre poder público e setor privado foi a celebração do acordo de cooperação entre o Serviço Social da Indústria (Sesi) e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Firmado em 2017, o entendimento tem como objetivo aprimorar o modelo atual, para um de atenção integrada à saúde. “O debate sobre os desafios do segmento e as alternativas encontradas por países que enfrentam problemas semelhantes aos nossos nos ajuda a encontrar soluções”, avalia o diretor de Operações do Sesi, Paulo Mól.

Colaboração é o caminho

Para Emad Musleh, diretor de Relações Corporativas da Novartis, a saída para o setor está na cooperação e na colaboração entre os diversos agentes. Ele afirma que a própria companhia está se reinventando e, com isso, encontrando novas formas de se relacionar com o mercado e internamente.

Quem também vem mudando internamente é a companhia biofarmacêutica AbbVie. “Hoje nos concentramos em um foco importante que é a educação. Por mais inovador que seja, um produto não transforma essa situação”, explica Camilo Gomez, gerente-geral da companhia. Nessa linha, a empresa vem criando iniciativas educacionais com foco em três públicos: funcionários, que devem ser transformados em agentes de mudanças; médicos, que precisam entender mais sobre economia de saúde; e o público em geral, este por meio de livros criados pela empresa.

A União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas), por sua vez, aposta em uma plataforma de serviços que pretende colocar no ar a partir de outubro. O presidente da companhia, Anderson Mendes, explica que a plataforma servirá para que as empresas que fazem autogestão em saúde compartilhem experiências e, juntos, trabalhem melhor para que todos ganhem. O executivo reconhece, no entanto, que ainda há um longo caminho para que o mercado absorva novos conceitos, como o de saúde baseada em valor, e passe a trabalhar efetivamente com eles. “Todos vamos perder alguma coisa. Ou receita, ou resultado, mas isso será necessário para a acomodação do setor. Com o sistema como está hoje, fica difícil discutir sustentabilidade”, afirma.

Gestão de mudanças como solução

Um dos maiores entraves para as evoluções que vêm sendo pensadas para o setor de saúde está na resistência às mudanças. Para Kate Hilton, diretora da Rethink Health, a resistência das pessoas é o maior obstáculo às mudanças, e enfrentar isso vai exigir, também, uma nova mentalidade. “Os líderes precisarão perceber, por exemplo, que a resistência é algo bom. Ela indica que as pessoas estão comprometidas e é preciso trabalhar com ela em vez de confrontá-las”, explica. A executiva afirma que é importante que não se diga às pessoas o que fazer. Ao contrário, são os responsáveis pelas transformações que devem mudar o foco da questão de “Como fazer que as pessoas façam o que eu quero?” para “Como posso fazer que todas elas façam o que elas querem?”.

Por fim, a especialista reforçou uma regra de ouro de recursos humanos, que é a valorização da equipe. E justificou: “É mais fácil manter o foco em profissionais que já estão comprometidos”. Segundo Kate, todo esse esforço deve ser feito para que as empresas coloquem atenção no valor que elas querem. Falando especificamente da área de saúde, ela lembrou que “temos que aceitar a realidade de nossos sistemas e a responsabilidade de mudá-los”. “Mas para isso temos que adotar novos modelos de
liderança”, destaca.

Desafios e alternativas para o setor

Especialistas em saúde suplementar apontam entraves e caminhos possíveis para o segmento durante o II Seminário Internacional Sesi de Saúde Suplementar. Veja o que eles disseram:

“Precisamos debater e analisar os resultados que realmente importam ao paciente, que é para quem todo o sistema trabalha. É preciso colocar o usuário no centro e trazê-lo para a discussão” – Leandro Fonseca da Silva, diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde.

“Debater sobre os desafios do segmento e as alternativas encontradas por países que enfrentam problemas semelhantes aos nossos nos ajuda a encontrar soluções” – Paulo Mól, diretor de Operações do Sesi.

“Transformamos a antiga função de médico do trabalho em verdadeiros médicos da família. Hoje, cerca de 80% dos eventos de saúde são resolvidos por eles” – Edson de Marchi, vice-presidente de Saúde e Benefícios da Ambev.

“Evoluímos para além do fornecimento de medicamentos. Hoje vendemos tratamentos, e eles não são para todos. Você perde em escala, mas ganha em qualidade. É assim que a medicina vai avançar” – Emad Musleh, diretor de Relações Corporativas da Novartis.

“O sistema é fragmentado, e o nível de desperdício é enorme. Só no Brasil, um terço do valor investido é desperdiçado: 62% dos pacientes não buscam os resultados dos exames laboratoriais que realizam” – Camilo Gomez, gerente- geral da AbbVie.

Fonte: Estadão

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