Em
2050, teremos dois trabalhadores para sustentar um aposentado
É um fato reconhecido que o problema do atendimento às
necessidades básicas da população como segurança coletiva, saúde, educação,
habitação, saneamento e mobilidade urbana é agravado pela falta de recursos e
pela baixa qualidade dos serviços públicos.
Quem tem alguma experiência, por exemplo, com a
administração da educação nas escolas públicas de primeiro e segundo grau, sabe
que ela depende essencialmente das qualidades e do preparo dos seus diretores.
Quando eles têm competência para manter a ordem, fazer-se respeitar, fazer
respeitar os professores e atrair a atenção das famílias dos alunos, floresce
uma cooperação e uma solidariedade que eleva a qualidade da educação.
É claro que as condições físicas da escola e a
satisfação dos professores com a sua nobre profissão são condições necessárias,
mas a condição suficiente é a capacidade de cooptação do diretor produzida por
seu preparo e personalidade. Ele e os professores precisam de uma boa carreira,
salários razoáveis e uma aposentadoria digna, hoje fortemente prejudicados
pelos espantosos gastos com salários e aposentadorias da alta burocracia não
eleita que controla o Estado.
Um exemplo disso são os gastos médios com aposentadorias
pagas durante o exercício de 2016. Se a aposentadoria média paga pelo INSS
(Instituto Nacional do Seguro Social) for usada como unidade de medida, o
“teto” do sistema é igual quatro vezes a média, ou seja, quem se aposenta com o
maior valor do INSS recebe, aproximadamente, o que recebem quatro aposentados
médios. O servidor humilde do Poder Executivo recebe, em média, a soma de seis
aposentados médios do INSS e os servidores militares, oito.
A partir daí há uma enorme descontinuidade: Ministério
Público, com média igual a 15 vezes a média do INSS; Judiciário, com média
igual a 21; e Legislativo, com média igual a 23 vezes a média do INSS. Em um
mês, chega-se a receber o que um trabalhador ganha em dois anos.
Na média geral, uma aposentadoria do setor público é
equivalente à aposentadoria de 13 participantes do setor privado. O gráfico
abaixo mostra a generosidade insustentável do nosso sistemaprevidenciário. Em 2050, teremos dois trabalhadores para sustentar
um aposentado. Lá vamos lembrar de Temer, pois a demografia não perdoa.
Projeção do gasto público com
Previdência em relação ao PIB, em %; no Brasil, em comparação a outros países,
a fatia passa de 9,1%, em 2013-2015, para 16,8%, em 2050 .
Antonio Delfim Netto - economista, é ex-ministro da Fazenda (governos Costa
e Silva e Médici), ex-deputado federal e professor.
Fonte: jornal FSP