No
mundo de hoje, ter um plano nessa área não é facultativo, é obrigatório.
É muito angustiante ver quando o país fica para trás não
só com relação aos países desenvolvidos, mas também com relação a nossos
próprios vizinhos latino-americanos. Foi publicado há poucos dias pela
Universidade de Oxford o índice anual de preparação dos governos para a
inteligência artificial (“Government AI Readiness Index”) que
cria um ranking global com relação a essa nova tecnologia. A posição do Brasil
não é nada animadora.
O estudo analisou 33 variáveis em 10 áreas relacionadas
a fatores que contribuem para o desenvolvimento da inteligência artificial.
Esses fatores incluem infraestrutura tecnológica, a existência de
bancos de dados organizados e acessíveis que possam treinar sistemas de IA,
disponibilidade de capital humano e assim por diante. Em suma, o estudo cria
uma lente poderosa para analisar o presente e a capacidade futura dos países de
se posicionarem no campo.
O Brasil ficou em 63º lugar no estudo. Nosso país perde não só
para potências globais como EUA, Europa e China, mas se posiciona mal até quando
comparado com economias muito menores. Na América Latina o Brasil fica atrás do
México, Colômbia, Argentina, Uruguai e Chile em capacidade de inteligência
artificial. No cenário global, perde de países como Egito, Índia, Kuwait,
Arábia Saudita, Chipre e as Ilhas Maurício.
O país vai mal em vários critérios do índice, como falta
de planejamento, capacidade digital, infraestrutura, inovação e assim por
diante. O estudo destaca fatos regionais relevantes. Por exemplo, o Uruguai vem
se tornando protagonista em transformação digital. O país é o primeiro da
América Latina a lançar sua rede de 5G. Além disso, é o líder da região
também em governo aberto, com bases de dados governamentais abertas para
análise pública e organizadas para processos de inteligência artificial. O país
tornou-se também o maior exportador de software per capita da região.
A Colômbia também tem destaques. O país tem sete
empresas consideradas unicórnios (com valor de mercado de mais de US$ 1
bilhão), tem um plano de transformação de digital em curso e está com sua rede
5G já em testes. A Argentina, por sua vez, é o único país da região hoje que
tem uma “puro-sangue” de tecnologia na lista da Forbes das 2.000 maiores
empresa do planeta, o Mercado Livre.
O que fazer? O Brasil precisa de um Plano Nacional de
Inteligência Artificial para coordenar o desenvolvimento em todas as variáveis
necessárias. No mundo de hoje ter um plano assim não é facultativo, é
obrigatório. Precisa também fomentar bases de dados de forma aberta e
organizada. O Poder Judiciário é no país quem lidera essa questão e não por
acaso é também líder no uso e desenvolvimento de IA para o setor público. Os
outros poderes deveriam aprender com o judiciário.
Precisa cuidar de infraestrutura e do 5G, que é uma
janela de oportunidade. Não faz sentido o país ficar para trás dessa forma. A
alternativa é atraso permanente do país com relação ao mundo e à própria
vizinhança.
Ronaldo
Lemos - advogado, diretor do Instituto
de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.
Fonte:
coluna jornal FSP