Há muitos políticos com
saudades do tempo em que o rádio e a TV eram centrais para a definição de uma
campanha eleitoral. Em 2016, tudo é diferente. As ferramentas que definem
posições políticas estão nas mãos de empresas do Vale do Silício. Basta
acompanhar as primárias nos Estados Unidos para ver como as mídias sociais se
tornaram as principais armas na batalha eleitoral.
A campanha de Hilary Clinton é
uma aula sobre isso. Depois de aprender com Barack Obama nas duas últimas
eleições, a candidata saiu na frente em tecnologia. Sua campanha é inteira
baseada em "data science" (ciência de dados).
Para isso, o Partido Democrata
fez uma coisa incrível. Unificou todos os seus bancos de dados, nacionais,
estaduais e municipais, em uma única plataforma, que é acessível por todo e
qualquer candidato do partido.
O sistema é de tirar o fôlego.
Congrega em um só lugar um conjunto de ferramentas. Por exemplo, permite
realizar arrecadação de fundos on-line. Ou ainda gerir cabos eleitorais
espalhados pelo país. Tem também uma caixa de ferramentas para mobilizações
sobre temas que são de interesse do partido.
Qualquer um pode usar para se
eleger prefeito, senador ou presidente. Só é exigido uma coisa: ser democrata.
O sistema não é aberto para outras forças políticas.
Para se ter uma ideia da
importância da plataforma, em 2014 o Comitê Nacional do Partido Democrata
bloqueou seu uso por parte do candidato Bernie Sanders por causa de uma
violação às regras partidárias. Enquanto durou o bloqueio, a campanha de
Sanders ficou paralisada, tamanha a dependência da ferramenta.
Os republicanos estão atrás em
tecnologia, mas não por muito tempo. Há um esforço para se construir uma
plataforma similar. Não ajuda o fato de que o Vale do Silício é majoritariamente
democrata. Mas há exceções, como o bilionário Larry Ellison, uma das dez
pessoas mais ricas do planeta. Sozinho, ele doou US$ 3 milhões para a campanha
do republicano Marco Rubio.
Enquanto nos Estados Unidos as
campanhas abraçam a rede, no Brasil os políticos morrem de medo dela. Está em
trâmite no Congresso o projeto de lei 215/2015. Seu objetivo: criminalizar quem
fala mal de políticos na internet. Em alguns casos, transformando esses
"crimes" em hediondos.
O projeto também quer obrigar
qualquer site ou aplicativo a pedir o CPF do usuário, para facilitar processar
o "criminoso". O projeto deve ir a voto a qualquer momento na Câmara.
Além disso, está na reta final a CPI dos Crimes Cibernéticos, cujo relatório
sai em março. É de se esperar que haja outras bombas contra a internet e a
liberdade de expressão vindas dali também. Seria muito bom se o Congresso
Nacional olhasse para a rede e enxergasse seu potencial para gerar
desenvolvimento e empregos. E não uma ameaça a seus privilégios.
Ronaldo Lemos - advogado, diretor do
Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org), é mestre em
direito por Harvard e doutor em direito pela USP. Pesquisador e representante
do MIT Media Lab no Brasil