Como lidar com o lado cruel da rede


Qualquer um que em algum momento tenha navegado na internet já foi testemunha, ou mesmo alvo virtual, de um comentário maldoso. "Se você pretende ser um blogueiro, se vai tuitar coisas, é melhor criar uma casca dura", disse John Suler, professor de psicologia na Universidade Rider, em Nova Jersey, que é especializado no que ele define como psicologia cibernética. Aproximadamente 69% dos adultos usuários das mídias sociais nos Estados Unidos disseram já ter visto "pessoas sendo maldosas e cruéis com as outras nas redes sociais", de acordo com um relatório de 2011 elaborado pelo Projeto Internet e Vida Americana, do Pew Research Center.

As postagens cobrem um espectro que vai de meras farpas a brincadeiras sádicas por parte dos trolls, os provocadores que intencionalmente se empenham em cutucar ou irritar os outros. Não importa se você é um escritor-celebridade ou uma mãe com um blog sobre decoração, você é um alvo fácil.

No mundo virtual, o anonimato e a invisibilidade nos ajudam a ser mais desinibidos. Algumas pessoas se sentem inspiradas a se comportar com maior amabilidade; outras liberam seu lado obscuro. A meta peculiar dos provocadores é infligir dor. Mas esses comentários, embora desagradáveis, apresentam uma oportunidade para aprendermos alguma coisa sobre nós mesmos.

Cientistas sociais dizem que tendemos a nos fixar nos aspectos negativos. Corrigir essa tendência requer a compreensão de que, no final das contas, você está com o controle. "Ninguém faz você sentir coisa alguma", diz Suler. A chave é administrar o que os psicólogos definem como atenção involuntária.

Do mesmo modo que a nossa atenção é atraída por ruídos fortes, nossa mente se fixa em aspectos negativos. Estudos como "Bad Is Stronger Than Good" [o ruim é mais forte que o bom], publicado em 2001 na "Review of General Psychology", mostraram que nós reagimos mais fortemente a experiências ruins e críticas e nos lembramos delas mais vividamente. "Essas são coisas que grudam em nosso cérebro", disse James Pawelski, da Universidade da Pensilvânia. "Se permitirmos que nossa atenção se movimente involuntariamente, é para lá que ela vai."

A mente, porém, pode ser domada. Um jeito é se perguntar se aquelas farpas que você parece não conseguir deixar de lado têm um elemento de verdade. Se a resposta for sim, Suler tem um conselho: deixe que seus críticos sejam seus gurus. Pergunte a si mesmo por que você está ruminando um comentário. Talvez ele possa ajudá-lo a aprender alguma coisa sobre si mesmo.

"É fácil se sentir emocionalmente atacado por essas coisas", disse Bob Pozen, da Harvard Business School. Para ele, isso não significa que os seus críticos não tenham razão. Mas nem sempre é possível aprender alguma coisa com um comentário desagradável. Algo que ajuda é avaliar a motivação do autor.

Suler escreveu em 2004 na publicação acadêmica "CyberPsychology & Behavior" sobre um conceito conhecido como o "efeito on-line da desinibição" -a ideia de que "pessoas dizem e fazem coisas no ciberespaço que não diriam ou fariam normalmente no mundo cara a cara". O resultado pode ser benigno ou tóxico: "linguagem grosseira, críticas rudes, raiva, ódio e até ameaças", disse Suler.

Comentários grosseiros podem ter seu poder reduzido se você se questionar sobre o que foi dito. Se, por exemplo, alguém escreve que você "é um idiota de quem ninguém gosta", você pode listar provas que contradigam isso, lembrando-se do óbvio: você tem instrução, emprego, amigos.

Além disso, fique atento quanto ao momento de olhar as postagens no seu blog ou página nas redes sociais: fique fora do Twitter se você acabou de se sair mal em uma apresentação em público.

Outro meio de evitar o impacto dos retornos negativos é entrar no que os psicólogos definem como "fluxo", um estado no qual a mente está completamente concentrada. O fluxo pode ser alcançado quando tocamos um concerto de piano, praticamos caratê, nos aprofundamos numa conversa com um amigo. "O momento mais duro é quando a mente não está plenamente ocupada", disse Pawelski, que também prescreve o humor como um meio de se desviar das farpas.

Mesmo quando uma pessoa está sozinha, o humor pode ser bem eficaz. Tente ler em voz alta comentários desagradáveis com uma entonação abobalhada, aconselha Pawelski.

E que tal se você compartilhar algumas das melhores coisas boas com os amigos em vez de comentar sobre aqueles que o magoaram? Pesquisas mostram que leva mais tempo para experiências positivas se incrustarem em nossa memória de longo prazo, então não é apenas prazeroso se debruçar sobre um elogio -é uma atitude inteligente.

"Em termos culturais, nós somos em geral verdadeiramente ruins quanto à aceitação de cumprimentos", disse Pawelski, "Eles existem para serem aceitos e realmente apreciados."

Stephanie Rosenbloom – colunista da seção de viagens do jornal New York Times
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