Matemática e indústria precisam conversar no Brasil


Matemática e indústria precisam conversar no Brasil

 Atividades econômicas com alto conteúdo matemático geram cerca de 15% do PIB.

 Contam que Henry Ford, pioneiro da indústria automobilística, encomendou um dínamo para seus carros, mas o aparelho não funcionava, e o fornecedor não conseguia resolver o problema. 

Ford então chamou “o homem mais inteligente da América”, o matemático de origem húngara John von Neumann, do Instituto de Estudos Avançados de Princeton.

Von Neumann olhou os diagramas, caminhou em volta do dínamo, tirou um lápis do bolso e marcou uma linha no invólucro: 

“Se cortar aqui, funciona”. Cortaram, e o dínamo funcionou. 

Quando Ford pediu a conta, von Neumann mandou nota no valor de 5 mil dólares, uma soma enorme para a época. Surpreso, Ford pediu o detalhamento. 

Von Neumann respondeu: marcar a linha com o lápis, 1 dólar; saber onde marcar a linha, 4.999 dólares. Ford pagou.

Que conhecimento é dinheiro (e poder) é lição antiga. A 2ª Guerra Mundial foi ganha pelo poderio industrial norte-americano, baseado no conhecimento científico e tecnológico. 

E os EUA nunca mais pararam de importar os melhores cérebros do mundo de países menos capazes ou menos cuidadosos em preservar sua relevância e independência. 

 O Brasil da época percebeu e fez o dever de casa, construindo um sistema científico nacional (CNPq, Capes, a que se seguiriam Finep, Ministério da Ciência e Tecnologia, as fundações estaduais), ao mesmo tempo em que desencadeava sua industrialização.

O valor material da ciência está amplamente comprovado e mensurado. 

Peguemos o caso da matemática: estudos técnicos realizados nos últimos anos em diversos países (Reino Unido, França, Austrália, Holanda e Espanha) comprovam que as atividades econômicas com alto conteúdo matemático geram grande parte da riqueza nacional: cerca de 15% do PIB.

Produzir conhecimento é fundamental, mas é igualmente necessário incorporá-lo aos processos produtivos. 

Dados divulgados pelo diretor científico da Fapesp, professor Carlos Brito Cruz, apontam que a colaboração entre academia e indústria vem crescendo no Brasil, mas ainda há enorme potencial a explorar. 

Especialmente no que tange à matemática, parece claro que o diálogo entre os dois setores ainda está muito atrás dos países mencionados.

Esse diálogo não surge espontaneamente, precisa ser construído, e com urgência. 

Trata-se de trazer empresas para interagir com pesquisadores, identificar domínios de colaboração e construir parcerias que beneficiem os dois setores e o país.

O que está em jogo não é pouco: 15% do PIB do Brasil é R$ 1 trilhão. Por ano.

Marcelo Viana - diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

Fonte: coluna jornal FSP


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