Reprodução de xilogravura do artista Fernando Vilela -
A empresa até usa um sistema de inteligência artificial e quer um dia transformar os robôs em autônomos de verdade. Mas a realidade é que por traz dos Kiwis existem trabalhadores fora dos EUA, ganhando bem menos do que um entregador de comida naquele país ganharia.
Os Kiwibots são um bom exemplo do que o economista Pascual Restrepo (professor da Universidade de Boston e especialista em automação) chama de “inteligência artificial mais ou menos”.
Atualmente, há um grande debate sobre os impactos sociais da inteligência artificial, até mesmo do ponto de vista ético. Pascual, no entanto, alerta para a possibilidade da inteligência artificial acabar não sendo lá essas coisas.
Os processos de automação começaram a acontecer, mas não por causa de tecnologias incríveis que trazem ganhos enormes de eficiência e sim por causa de soluções mequetrefes que eliminam o trabalho humano sem gerar qualquer crescimento pra valer de produtividade ou eficiência.
Nas palavras de Restrepo: “Em uma era de automação rápida, a importância relativa do trabalho irá se deteriorar especialmente se as novas tecnologias que eliminarem empregos não elevarem a produtividade de forma suficiente. Isso acontece quando essas novas tecnologias são apenas ‘mais ou menos’, boas o suficiente para serem adotadas, mas não muito mais produtivas do que o trabalho que estão eliminando. Com esse tipo de automação mais ou menos, a demanda pelo trabalho cairá, mas não haverá ganhos de produtividade efetivos para compensar”.
Em outras palavras, quando se pensa nos desafios da inteligência artificial, o perigo maior não é o surgimento de robôs futuristas superinteligentes, mas sim o mundo ser tomado por robôs fulustrecos, bangalafumengas, fubicas, beldroegas ou brochotes.
Ronaldo Lemos - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.
Fonte: coluna jornal FSP