Para aproveitar ao máximo um
intercâmbio, o jovem não pode precisar dos pais para as decisões
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Há pais que querem que o filho adolescente faça um
intercâmbio em outro país, seja para uma imersão em outra cultura e língua ou
até para ganho de autonomia, que eles não têm ainda. Já outros são pressionados
pelos filhos que querem fazer esse programa, mas não permitem, porque acham que
o filho não tem maturidade para tanto.
Muitos têm a mesma dúvida: qual a idade ideal para
um intercâmbio produtivo? Como gosto de fazer, vou trazer exemplos reais,
levemente modificados, que irão nos ajudar a refletir sobre o assunto.
Marina, 17, é uma garota tímida, segundo ela mesma
e os seus pais. Estudiosa, sempre aprendeu muito mais do que a escola exigia e
tem um interesse especial pelas ciências exatas. Desde os 10 anos frequentava
uma boa escola de inglês, mas não se sentia capaz de estabelecer uma conversa
nessa língua, apesar de ouvir e ler muito bem. Em busca de ajudar a filha a
resolver as duas questões –timidez e inibição na conversação em inglês– seus
pais decidiram, no ano passado, enviá-la a um curso de três meses em Londres,
cidade que ela mesma escolheu.
Ela afirma que aproveitou muito a viagem, apesar de
ter sentido muito a falta dos pais, mas retornou com as mesmas questões que os
levaram a encaminhá-la para essa viagem.
João, 16, era inquieto: vivia metido em encrencas e
não aceitava a maioria das normas que deveria cumprir, tanto em casa quanto nas
escolas que frequentou, que foram três.
Um tio recomendou aos pais do jovem uma viagem de
intercâmbio para ficar na casa de uma família conhecida, muito rigorosa na
educação dos filhos, também adolescentes. A viagem foi feita, e João retornou
bem mais maduro: hoje, apesar de sempre contra-argumentar com os pais quando é
orientado a fazer algo ou impedido de fazer ou ter o que quer, acata a
autoridade deles, além de se responsabilizar pela organização de suas coisas em
casa e na escola. Do jeito dele, é claro.
Não é a idade o principal sinalizador para os pais
de que os jovens podem aproveitar bem uma viagem de intercâmbio. Eles são muito
diferentes uns dos outros, mesmo que vivam em contextos familiares e sociais
semelhantes.
Para aproveitar ao máximo uma viagem desse tipo, o
adolescente já deve ter se emancipado da família, ou seja, seus pais não devem
ser corresponsáveis por sua vida, como o são durante toda a infância.
O jovem não deve precisar da presença física
próxima dos pais o tempo todo para tomar suas decisões e fazer suas escolhas,
mas deve poder recorrer a eles sempre que sentir necessidade. Claro que eles
irão tomar algumas decisões arriscadas, equivocadas e diferentes das que os
pais gostariam, mas se não fizerem isso, não serão adolescentes: serão crianças
em corpo de adolescente, o que é um risco para eles.
Além disso, uma viagem desse tipo não deve servir
para solucionar questões que podem ser resolvidas em casa, com a tutela dos
pais, como no segundo exemplo citado. João voltou diferente certamente porque
foi levado a honrar os seus compromissos pela família com quem ficou, não é?
Uma viagem de intercâmbio pode ser muito bem
aproveitada por alguns adolescentes, e por outros, não. Por isso, caro leitor,
antes de tomar sua decisão, avalie os seus motivos, os de seu filho, converse
com ele a respeito e, sobretudo, considere o conhecimento que você tem sobre
ele para chegar à sua escolha.
Rosely Sayão - psicóloga e consultora em educação, fala
sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de
educar
Fonte: coluna jornal FSP