Sobrevivência - Qual é o limite?


Estamos acostumados com o jargão “ter uma vida longa, ativa e com saúde”. Este é o desejo da maioria da população mundial e é algo que tem se tornado uma possibilidade cada vez mais real na vida das pessoas. Nesse sentido, se almejamos a busca de uma maior longevidade, temos que ter em mente a adoção de práticas de gestão do risco de longevidade, que dentre outras coisas estabelece que, para conseguirmos alcançar a desejada vida longa, ativa e com saúde, necessitamos de recursos econômicos e financeiros para mantê-la.

Mas, quase sempre, as estatísticas que são publicadas nos mostram que estamos vivendo mais, quer seja por nossa vontade ou não, e isso é um fato. Nesse sentido, cabe a nós fazermos a gestão de recursos de forma que sejam suficientes para o tamanho da nossa longevidade, e evitarmos de termos que pedir desculpas pela nossa excessiva sobrevida ao sistema de previdência.

Recentemente o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que a expectativa de vida dos brasileiros nascidos em 2014 é de 74,8 anos, sendo 71,3 anos para os homens e 78,5 anos para as mulheres. Segundo os dados divulgados, a esperança de vida chegará a 80 anos em 2041. Em 2060, a expectativa média de vida chegará a 81,2 anos, sendo 78 anos para os homens e 84,4 anos para as mulheres. O ganho em relação a 2013 chegará a 6,7 anos para a população masculina e 5,9 anos para a feminina.

Então, considerando essa evolução constatada constantemente nas estatísticas, nos surge a pergunta: como será a longevidade no futuro? Ou ainda, qual será o limite de longevidade que poderemos alcançar? Que deveremos considerar para o planejamento das economias de recursos para o período de sobrevida.

Para responder a esses questionamentos buscamos os ensinamentos nas características das tendências de mortalidade. O gráfico a seguir representa a função de sobrevivência para a população brasileira, tomando a experiência de mortalidade mais recentemente diferenciadas por idades.

Da análise da evolução da função de sobrevivência se detecta uma tendência, nomeadamente, um forte aumento da sobrevivência nos anos iniciais da vida, uma maior resistência à morte até uma idade cada vez mais avançada e um aumento do número de indivíduos que atingem idades mais avançadas.


No que se refere à evolução da função de mortalidade, percebe-se uma acentuada redução da mortalidade nos anos iniciais de vida, uma diminuição da mortalidade nas idades intermediárias, e a deslocação para a direita, aproximando-se do ponto de máxima incidência da mortalidade (probabilidade máxima de morte), ou seja, andando para uma maior concentração da função de probabilidade de morte.

Segundo Olivieri[1][1] essas tendências repetem-se nas mais diversas populações e podem sintetizar-se nas seguintes características principais:

A função de sobrevivência sofre o efeito de “retangularização”, uma crescente concentração das mortes junto da moda (nas idades adultas e mais velhas) da curva de mortalidade;

A função de sobrevivência sofre o efeito de “expansão”, uma vez que a moda da curva de mortalidade move-se para a direita para as idades mais avançadas;

Mais recentemente, observa-se ainda um terceiro efeito, ocorrendo níveis mais elevados e uma maior dispersão das mortes nas idades mais jovens (devido as doenças como AIDS, consumo de drogas e em violência urbana).

As figuras a seguir, ilustram os efeitos “retangularização” (concentração das mortes junto a moda da curva de mortalidade) e “expansão” (deslocamento da moda para idades mais avançadas) pelas alterações na função de sobrevivência.

“Retangularização” da função de sobrevivência:


“Expansão” da função de sobrevivência:


As projeções de tendências são relevantes para o estudo do risco de longevidade, em especial para os estudos atuariais para planos de previdência, mas não são suficientes. Assim, necessitamos verificar se estas tendências se manterão ou evoluirão, de modo a elaborarmos um modelo de previsão mais preciso.

Em “Longevity Risk in Living Benefits”[2][2] encontram-se três teorias sobre a previsão da evolução da mortalidade. Segundo o autor, existem três cenários possíveis no que se refere à evolução da esperança de vida em função da idade dos indivíduos.

A teoria da “compressão” aponta para o retardamento do aparecimento de doenças degenerativas em consequência dos avanços da medicina. Se considerarmos que o ser humano possui um limite biológico da duração da vida, então o resultado é uma compressão do período pós aposentadoria;

A teoria “pandêmica”, segundo a qual a redução das taxas de mortalidade não será acompanhada pela diminuição das taxas de incapacidade. Desta forma, teríamos um crescimento significativo do número de pessoas incapazes;

A teoria do “equilíbrio”, que evidencia o fato de que a maior componente das alterações na mortalidade está relacionada com patologias especificas, pelo que o aparecimento de doenças degenerativas e a incapacidade serão retardas, assim como o momento da morte.

Finalizando, temos que cada uma destas perspectivas de evolução futura da mortalidade tem impactos diferentes sobre os planos de benefícios previdenciários, e as diferenças substanciais que apresentam implicam em um elevado grau de incerteza, sem um limite definido a ser descoberto ou verificado.

Assim, cada vez mais, necessitamos de ferramentas para realizar controles e projeções além de implantar uma gestão do risco de sobrevivência que imprima, na prática, o compartilhamento ou transferência do risco de longevidade.

Cesar Luiz Danieli - Atuário, graduado pela UFRGS, com Master em Auditoria Internacional e Gestão Empresarial – Universidad Europeia Miguel de Cervantes / Espanha; Pós-graduação em Gestão Financeira com ênfase em Mercados de Capitais – Fundação Getúlio Vargas – FGV, é profissional certificado pelo ICSS ênfase em Administração. É Diretor Técnico da GAMA Consultores Associados.


[3][1] Olivieri A. (2001), Uncertainty in mortality projections: An actuarial perspective, Insurance: Mathematics & Economics, 29 (2) págs. 231-245.

[4][2] Pitacco, E, (2002), Longevity Risk in Living Benefits, WP CePP Nº 23/02 (published in Fornero E. and E. Luciano, Developing na Annuity Market in Europe, Cheltenham: Edward Elgar, 2004).

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