No início de julho, escrevi uma coluna chamada "Não compre bitcoins". Nela, alertava para o fato de que a moeda virtual
estava prestes a passar por uma mudança técnica (chamada Segwit) que poderia
gerar grande turbulência. Se desse errado, o preço poderia desabar ou até
levar à inviabilidade do bitcoin.
As semanas que antecederam a implantação do Segwit
foram tensas. Não só o bitcoin despencou mas também todas as moedas virtuais
(ethereum, litecoin, monero e outras), resultando em uma
temporária crise de confiança.
Em fins de julho, o Segwit foi implementado com
sucesso. Nem todos os atores aceitaram a mudança. Isso levou o bitcoin a se
dividir em dois ramos. Um majoritário, que aceitou o Segwit, e outro
minoritário, que não aceitou. O resultado foi a criação de um bitcoin
"alternativo", que foi batizado de "bitcoin cash".
Apesar da cisão, o preço do bitcoin original
explodiu desde então. Pulou de cerca de US$ 2.200 em meados de julho para US$
4.800 na semana passada. Mais do que isso, o bitcoin "alternativo"
também se valorizou. Pulou de zero (afinal, ele não existia) para US$ 590 na
cotação da semana passada.
Com isso, a empolgação com o bitcoin retornou à
praça. Na semana passada, meu colega de Folha Leandro Narloch escreveu um
artigo chamado "Compre
bitcoins", dizendo que "os temores passaram em agosto.
Desde então cada vez mais gente descobre que as criptomoedas são versões
digitais de metais preciosos".
Com isso, fica o dilema: comprar ou não comprar
bitcoins? Como qualquer investimento de alto risco, ninguém tem a resposta.
Talvez a melhor posição seja a do empresário argentino Wences Casares, criador
da empresa Xapo e hoje integrante do conselho do PayPal.
Ele sugere uma fórmula simples para investir em
bitcoins: pegue 1% ou menos do que você tem de patrimônio e compre bitcoins. A
partir daí, esqueça o investimento por pelo menos cinco anos ou, idealmente,
uma década. Transcorrido esse prazo, ou você irá perder 1% do que possui (o que
que é tolerável) ou você poderá ter feito muito dinheiro com a valorização da
moeda virtual.
Casares afirma que o bitcoin é um modelo de
"vai ou racha". Ou seu preço irá explodir nos próximos anos, à medida
que se tornar padrão global, ou vai ruir completamente, estagnando ou mesmo
zerando seu valor. Segundo ele, a chance de ruína é de 20%. A chance de
explosão é de 50%.
Dá para acreditar em Casares? Ninguém sabe. O fato
é que hoje ele é uma das pessoas mais influentes no Vale do Silício sobre o
assunto. É possível que sua "fórmula" tenha sido criada justamente
para funcionar como profecia que se autorrealiza. Graças a sua influência,
muita gente vai colocar 1% das suas economias no bitcoin. O que elevará o preço
e beneficiará o próprio Casares.
Se o bitcoin irá se converter em um padrão global
ou será lembrado como o maior esquema de pirâmide da história, só o tempo rei
dirá.
Ronaldo Lemos - advogado, diretor do
Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em
direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil.
Fonte: coluna jornal FSP