A
família com adolescentes precisa também mudar, para garantir ao jovem um lugar
privilegiado no grupo.
As
famílias têm mudado, e muitos julgam as mudanças negativas e prejudiciais aos
mais novos, à comunidade e à sociedade. Entretanto, com as transformações no
mundo que provocaram verdadeiras revoluções pessoais, tais mudanças têm
permitido que a família continue a existir.
Temos,
hoje, famílias muito diferentes entre si. Mas, se há algo que provoca maiores e
extraordinárias mudanças no grupo, independentemente de sua configuração, do
contexto em que vive e de sua dinâmica, é a chegada de um filho à adolescência.
Vamos considerar a adolescência o período em que o filho deixa, gradualmente,
de ser dependente dos pais para conquistar sua autonomia, requisito para a vida
adulta em vários aspectos como o afetivo, o social e o do trabalho.
Muitos
pais enxergam as mudanças apenas no filho, mas toda a família muda e tem a
oportunidade, nessa fase, de reconstruir sua história, de se reconfigurar para
abrir espaço para um filho que tem, a partir de então, condições de viver a
vida como um adulto ou quase.
Vamos
fazer um exercício de empatia para tentar compreender melhor o que se passa com
os adolescentes: vamos ocupar, na imaginação, o lugar que eles ocupam. A primeira
coisa que percebemos é que eles sofrem inúmeras e intensas pressões e
cobranças, tanto dentro do grupo familiar quanto fora dele.
Em
casa, as cobranças costumam ser para que eles tenham mais responsabilidade com
os estudos, para que consigam resistir às influências de seus pares com as
quais a família não concorda, para que respeitem as normas da família etc.
E
fora? Não são poucas as pressões. Começa com a aparência: como se adaptar aos
modelos que a sociedade demanda com um corpo que muda quase que diariamente e
que teima em ser singular? Nesta sociedade que faz com que todos tentem ter um
corpo de adolescente, a concorrência é desleal para eles.
Tem
também a questão do consumo, ou melhor dizendo, do consumismo que os consome. E
nesse item entram também dois tipos de consumo que preocupam muito os pais e
seduzem os adolescentes: o sexo e as drogas, lícitas e ilícitas --todas elas.
Imagine
verdadeiramente, caro leitor, que você está na pele de um adolescente; dá para
perceber que o sexo, as drogas e o consumo desenfreado das tecnologias e do
mundo virtual ofertam a eles um lugar privilegiado no mundo? Esse é um dos
motivos que faz com que muitos deles cedam a essa pressão e não consigam
resistir a tantas ofertas de prazer, popularidade, aceitação, felicidade...
Por
esses motivos é que a família com filhos adolescentes precisa também mudar.
Para garantir ao jovem um lugar privilegiado no grupo, e para tanto a família
precisa ganhar flexibilidade.
Os
jovens precisam de limites, mas é preciso sensibilidade para saber quando
afrouxá-los e quando apertá-los. É preciso reduzir cobranças e conflitos:
escolher as brigas que realmente valham a pena. Eles reclamam da escola? Eles
têm razão. Então, se conseguirem seguir adiante com a vida escolar, é o que
basta. Gosto pelo estudo? Mais tarde, quem sabe?
Sermões
e conselhos que eles não irão seguir? Melhor se poupar e poupar os filhos do
que não vai funcionar. Diálogos com argumentação sólida e consistente, de ambas
as partes, são muito mais efetivos para construir respeito mútuo, espírito
crítico e capacidade de negociação.
Não
é fácil para a família viver esse período, mas é possível que os ganhos sejam
maiores que os danos.
Rosely Sayão – psicóloga e consultora em educação
Fonte: caderno cotidiano / jornal FSP