Chegando ao
final do exercício! As empresas se voltam para os cálculos e análises dos
resultados alcançados. Nesse contexto, o reconhecimento de passivos e de
despesas em decorrência dos custos de benefícios a empregados é uniforme a
todas as empresas com base na norma contábil e relatórios financeiros ao IFRS[1] / IAS[2] já consolidado no Brasil, temos o IAS
19 R1 traduzido no CPC[3] 33 R1 (e aprovado pela Deliberação CVM
695/12).
Assim,
aplicam-se o normativo às empresas que oferecem benefícios pós-emprego, de
longo prazo, e rescisórios aos seus funcionários, sendo os mais relevantes:
- Planos
de benefícios de Previdência Complementar e Aposentadoria;
- Planos
de Saúde;
- Programas
de premiação por tempo de serviço;
- Pagamento
de multas do FGTS por demissão;
- Pagamentos
de indenizações por término de vínculo empregatício;
- Aviso
prévio proporcional ao tempo de serviço;
- Bônus
pagos em função da permanência do funcionário na empresa;
- Outros
benefícios pagos a empregados em função do tempo de serviço.
Como acima
exposto, o leque de benefícios a empregados, que geram passivo atuarial, é
extenso e, ainda, em alguns casos, são de soma vultosas. Sobre os quais,
pequenas reduções nos parâmetros de cálculo, em termos percentuais, como a
causada pela redução da taxa de juros de desconto atuarial, podem trazer
acréscimos significativos no valor do passivo contabilizado e implicar em uma
redução de custos de juros em seus resultados futuros.
Uma das
principais variáveis de influência nos cálculos do passivo atuarial nos termos
da IAS 19R1 (CPC 33R1) (CVM 695/12) referem-se às taxas de juros dos títulos
públicos (NTN-B), observada a duration de cada plano.
Em conformidade
com ISAP[4] 3 a hipótese da taxa de juros de desconto
deverá manter um padrão de razoabilidade. A sua escolha deve levar em conta a
exigência da norma IAS 19, pois essa taxa juros precisa refletir os rendimentos
de mercado na data da mensuração (encerramento do exercício) dos títulos
corporativos de alta qualidade, caso o mercado para tais obrigações seja
significativamente ativo, ou caso contrario, serão considerados os rendimentos
dos títulos do Tesouro Nacional, observando a consistência com a moeda e
prazo estimado da obrigação de benefícios ao empregado. Para tanto o atuário
pode se utilizar de uma variedade de abordagens a fim de identificar uma
hipótese de taxa de juros de desconto que satisfaça este requisito, incluindo o
seguinte:
- Curva
de Rendimento Completa – pode ser recomendada uma curva de rendimento de
taxa spot total (taxa de juros à vista) para descontar fluxos de caixa de
benefícios projetados. Também, pode-se desenvolver uma curva de rendimento
apropriada a partir dos dados de rendimento dos ativos garantidores da
obrigação na data de medição;
- Taxa
de desconto média ponderada única, com base na curva de rendimento –
pode-se recomendar uma única taxa média ponderada de taxa de desconto,
considerando o fluxo de desembolsos de benefícios;
- Taxa
de desconto média ponderada única baseada no modelo dos ativos
garantidores da obrigação – pode-se recomendar uma suposição de taxa de
desconto média ponderada única determinada considerando o fluxo de
desembolsos de benefícios; ou,
- Abordagens
Alternativas – podem ser utilizadas ainda abordagens alternativas às
descritas acima. Ao fazê-lo, deverão ser considerados os dados e
pressupostos em conformidade com a abordagem e as circunstâncias em que é
aplicado, desde que sejam adequados. A abordagem alternativa deve levar em
conta tanto a duração dos fluxos de caixa de benefícios projetados
atribuídos ao serviço do empregado até a data de mensuração e sua forma
(ou seja, se os fluxos de caixa ao longo do tempo são constantes ou
irregulares), sujeitos à materialidade e proporcionalidade.
Contudo,
geralmente aceitam a taxa de desconto única observado a Duration do
plano de benefícios.
O quadro a
seguir contém exemplos das taxas de juros de desconto adotados em 2013, 2014,
2015 e a expectativa para 2016, com o comparativo entre 2016 e 2015.
|
TAXA DE DESCONTO
|
DURATION
|
31/12/2013
|
31/12/2014
|
31/12/2015
|
21/11/2016
|
VARIAÇÃO
2016 X 2015
|
6
|
6,24%
|
6,11%
|
7,35%
|
6,20%
|
-15,63%
|
8
|
6,39%
|
6,13%
|
7,32%
|
6,14%
|
-16,06%
|
10
|
6,47%
|
6,16%
|
7,34%
|
6,00%
|
-18,17%
|
12
|
6,49%
|
6,17%
|
7,23%
|
6,01%
|
-16,93%
|
14
|
6,50%
|
6,18%
|
7,24%
|
6,02%
|
-16,81%
|
16
|
6,51%
|
6,20%
|
7,24%
|
5,98%
|
-17,35%
|
18
|
6,52%
|
6,20%
|
7,24%
|
5,98%
|
-17,35%
|
20
|
6,52%
|
6,20%
|
7,24%
|
5,98%
|
-17,35%
|
|
|
|
|
|
|
|
Fonte: Estimados
com base no prazo da Duration e em títulos NTN-B.
Considerando a
redução na taxa de juros de desconto atuarial, conforme duration de
diferentes planos, podemos esperar, para o exercício de 2016, o aumento na
obrigação atuarial na ordem de 6,4% para uma duration de 6 anos; 12,4%
para uma duration de 10 anos, 13,7% para uma duration de 12 anos
e 18,7% para uma duration de 16 anos.
Nesse sentido,
considerando as estimativas para o exercício de 2016 podemos aferir uma
expectativa de aumento no passivo atuarial nas empresas e redução das despesas
de juros com benefícios pós-emprego para o próximo exercício, bem como uma
piora no “status” dos planos, ou seja, uma relação negativa entre ativos
justos frente ao passivo atuarial, o que é um ponto de atenção a mais nestes
tempos de crise.
Desta forma,
conforme norma CPC 33 R 1, as empresas que aplicam o IFRS e o CPC devem seguir
as regras relativas à contabilização de ativos e passivos, além da divulgação
dos resultados e premissas utilizadas em sua mensuração.
Contate a Mercer
GAMA caso tenha interesse em consultoria atuarial específica para estudos de
definição da taxa de juros de desconto, envolvendo o levantamento dos
benefícios pós-emprego e desenvolvimento do demonstrativo em atendimento à
norma.
[1]
Significa International Financial Reporting Standards.
[2]
Significa International Accounting Standards.
[3]
Significa Comitê de Pronunciamentos Contábeis.
[4]
International Standard of Actuarial Practice 3, norma atuarial relacionada e
aplicada ao IAS 19 benefícios a empregados, emitida pelo International
Actuarial Association – IAA.
Cesar Luiz Danieli - atuário graduado, Pós-Graduado em Gestão
Financeira com ênfase em Mercados de Capitais e Máster Internacional em
Auditoria y Gestión Empresarial pela Universidad Europea Miguel de Cervantes –
UEMC. É Diretor de Previdência, Saúde e Seguros da Mercer GAMA.