Mariana investe em conta poupança e tem sido
incentivada pelo gerente do banco a investir em aplicações mais rentáveis.
Perguntou se deve comprar uma LCI a 88% do CDI ou aderir a um fundo de
investimento com rentabilidade de 108% do CDI. Perguntou, ainda, o que
significa "Renda Fixa Duração Baixa Grau de Investimento", classe do
fundo que lhe foi oferecido.
Os números da indústria de fundos de investimento
impressionam. São 13 milhões de contas com patrimônio líquido de R$ 4 trilhões.
Os dados, publicados pela Anbima, são de 13 de setembro deste ano.
Quatro categorias respondem, em conjunto, por 90%
da indústria, sinalizando de maneira inequívoca a preferência do investidor. A
categoria "Renda Fixa" abocanha a maior fatia do bolo (48%), seguida
de "Multimercados"(19,9%) e "Previdência"(17,3%). Os fundos
de ações respondem por 4,5% da indústria.
A categoria "Renda Fixa" por sua vez se
desdobra em subcategorias, cujas denominações ajudam o investidor a entender a
política de investimento de cada fundo. Os fundos classificados como
"Renda Fixa Duração Baixa Grau de Investimento" respondem pela maior
fatia do bolo, com patrimônio líquido de R$ 666 bilhões, 16,6% da indústria, e
rentabilidade de 12,1% em 12 meses.
Voltando à pergunta feita pela Mariana, é preciso
dizer que uma das cotações a ela oferecidas carece de correção. Não é possível
predeterminar a rentabilidade de um fundo de investimento. A rentabilidade
divulgada por instituições financeiras e pela Anbima, em seus relatórios, é a
passada. Assim, a rentabilidade de 108% do CDI foi observada em algum período
passado, do último mês, no ano ou em 12 meses.
Supondo a taxa básica de 8,25% ao ano, a
rentabilidade proporcionada pelo fundo em questão foi 8,91% (108%). Essa
rentabilidade resultou da estratégia de investimento implementada pelo gestor
da carteira no período medido. A denominação do fundo e a queda na taxa básica
de juros ajudam a explicar o resultado favorável.
"Renda Fixa" significa que o gestor
pode investir em operações de taxa prefixada, pós-fixada e índices de inflação,
segundo expectativas desse gestor relativas ao comportamento futuro dessas
taxas. Posições de taxa prefixada ganham valor
em cenário de queda dos juros.
"Duração Baixa" significa que o prazo
médio dos ativos que compõem a carteira do fundo é baixa, inferior a 21 dias
úteis, conforme classificação da Anbima. O prazo curto dos ativos minimiza o
impacto da oscilação nas taxas de juros futuros no valor da cota do fundo. Como
a flutuação do preço dos ativos é baixa, é baixo o risco de
mercado do investidor.
"Grau de Investimento" significa que o
fundo investe no mínimo 80% da carteira em títulos públicos federais e/ou
ativos com baixo risco de crédito conforme rating das agências classificadoras
de risco.
Se Mariana optar pela Letra de Crédito Imobiliário
(LCI), ganhará 88% do CDI, ou seja, 7,26% (88% de 8,25%), isento do pagamento
do Imposto de Renda. Neste caso é possível determinar a rentabilidade da
operação em razão de sua natureza: compra de um único título,
por um único investidor.
Se Mariana optar pelo fundo de investimento, não é
possível predeterminar a rentabilidade. Ela será fruto de estratégias que não
podem ser antecipadas. Será fruto, ainda, do comportamento futuro dos juros, de
previsão incerta. É possível estabelecer expectativa de retorno, mas não é
possível garantir qual será a rentabilidade no período do investimento. Aliás,
a Comissão de Valores Mobiliários, órgão regulador e fiscalizador desse
mercado, proíbe promessa de rentabilidade. A razão é simples: não é possível
prever o futuro.
Por fim, depois da relevante ressalva, a matemática
que comprara as duas cotações. O retorno líquido de um fundo a 108% do CDI
(8,91% bruto), após Imposto de Renda de 20%, será 7,13%. A rentabilidade da LCI
será de 7,26%.
Vale lembrar que Mariana corre o risco de crédito
na operação de LCI, com garantia do Fundo Garantidor de Créditos limitada a
R$250 mil. No caso do fundo, o risco de crédito será representado pelos títulos
da carteira. Apesar de não contar com a proteção do FGC, o risco é baixo em
razão da política de investimento do fundo e da diversificação do risco em
vários ativos.
Marcia Dessen - planejadora financeira
pessoal, diretora do Planejar e autora do livro 'Finanças Pessoais: o que Fazer
com Meu Dinheiro'.
Fonte: coluna jornal FSP