O paradoxo de Einstein, Podolsky, Rose
Para cientistas,
teoria deixava de fora ‘variáveis ocultas’ do comportamento da natureza.
Em 1935, Albert Einstein, Boris Podolsky e Nathan Rose
publicaram no periódico científico Physical Review um artigo intitulado "A
descrição da realidade física dada pela mecânica quântica pode ser considerada
completa?".
O
princípio da incerteza, formulado oito anos antes por Werner Heisenberg,
implica que a posição e o momento (massa x velocidade) de uma partícula
subatômica nunca podem ser determinados simultaneamente com precisão: qualquer
experimento para medir um desses valores perturba a partícula, tornando o valor
do outro impreciso.
A
interpretação prevalente à época, liderada por Niels Bohr, era que essas
grandezas não têm sentido físico em si mesmas: seria o experimento que, ao
medir uma delas lhe confere existência física, em detrimento da outra.
Einstein,
Podolsky e Rose rejeitavam essa ideia de que a realidade física seja
determinada pelo observador, afirmando que o problema estaria em que a mecânica
quântica não cobriria toda a realidade: existiriam "variáveis
ocultas" não contempladas na teoria que explicariam o comportamento da
natureza de forma mais razoável.
Para provar a sua tese, propuseram o seguinte experimento
mental: Consideremos duas partículas, A e B, que interagem por um breve momento
e logo se afastam.
Eles mostraram que a partir da medição da posição de A é
possível determinar a posição de B e, analogamente, a partir da medição do
momento de A podemos determinar o momento de B, sem fazer qualquer experimento
com B, mesmo que as duas partículas estejam a milhões de anos-luz de distância!
Como
a informação não pode ser transmitida instantaneamente de A para B, pois nada
se move mais rapidamente do que a luz, os valores da posição e do momento de B
não podem ser resultado da medição em A, eles têm que ter existência real.
Bohr
respondeu em artigo com o mesmo título, publicado no mesmo ano no mesmo
periódico.
Os seus argumentos convenceram os especialistas de que o argumento
de Einstein, Podolsky e Rose não era o golpe mortal na mecânica quântica que os
três autores pretendiam dar.
Mas ele não tratou de modo satisfatória a questão
mais importante para Einstein: como explicar que o que façamos com A aqui
determine a realidade de B em qualquer outro lugar, numa "ação
fantasmagórica à distância"?
Os
físicos acabavam de descobrir a ideia de emaranhamento, e o universo estava
ficando realmente muito estranho. No final, o tira-teimas entre Bohr e Einstein
seria resolvido por um teorema matemático.
MARCELO VIANA - diretor-geral do Instituto de Matemática
Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.