Parlamentares fazem protesto em defesa do Marco Civil da
Internet durante discussão, em 2013
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O consumidor brasileiro continua
sendo alvo das "balas perdidas" das empresas que confundem lucro com
exploração. Nas últimos semanas, debatemos sobre reajustes abusivos das escolas particulares, quebra do sigilo bancário com imposição dos
dados em arquivos de bons pagadores e negativação do crédito sem envio de AR (carta com aviso de
recebimento).
Agora, são as teles, as operadoras
de telefonia, que pretendem alvejar a neutralidade da rede, determinada pelo
Marco Civil da Internet. Elas perseguem o direito de bloquear ou reduzir a velocidade de acesso a
certos conteúdos ou aplicativos de vídeo.
O Marco Civil da Internet decorreu
de um grande consenso nacional em torno do mundo digital. É muito bem feito e
equilibrado. Implodi-lo para fazer a vontade das teles equivaleria a retirar o
poder do Código de Defesa do Consumidor (CDC) sobre as atividades dos bancos,
como já foi tentado e derrubado, felizmente, pelo Supremo Tribunal Federal
(STF).
Essa discussão embute uma
combinação cruel: acesso à banda larga caríssimo e muito ruim. Pagamos caro por
um serviço meia-boca, e não se vê as autoridades defendendo os cidadãos, que
necessitam deste acesso para trabalhar, estudar, comprar e se divertir.
As teles estão aguardando decisão
da FCC (a Anatel dos Estados Unidos) para pressionar o governo brasileiro.
Segundo matéria publicada nesta Folha, um dos argumentos será o advento
da internet das coisas (a conexão entre equipamentos).
O Marco Civil tem pouco mais de
três anos. Torpedeá-lo para obedecer a interesses das operadoras seria declarar
guerra aos consumidores brasileiros. Nem preciso dizer o que isso significaria
às vésperas das eleições presidenciais. Se forem em frente, não assistiremos de
camarote a tamanho despropósito.
Que as teles invistam mais em tecnologia
e ofereçam um serviço de melhor qualidade, coisa que não fazem até hoje. Quem
duvida do que digo, veja os rankings de reclamações do Procon.
Esta espécie de "governo das
Teles" não foi determinada pelos eleitores brasileiros, mas existe à margem
de nosso arcabouço legal.
PS: Haveria fortes indícios do uso
de robôs nos Estados Unidos, simulando pessoas para interferir nos resultados
de consulta à população sobre a neutralidade à rede. O procurador-geral de Nova
York e parlamentares pediram que a decisão seja adiada para melhor avaliação
das manifestações públicas. Os brasileiros serão consultados sobre a
neutralidade, Anatel?
Maria
inês Dolci -
advogada, é especialista em direitos do consumidor, especializou-se em direito
empresarial na Coral Gables University (Estados Unidos).
Fonte:
coluna jornal FSP