Primeiro passo: a embalagem
O publicitário Chuck Lieppe dizia: “Aparentar ter competência é tão importante
quanto a própria competência”.
De
fato, o aspecto externo é o primeiro que observamos. Comprando frutas, selecionamos
aquelas que nos parecem mais belas e viçosas. Em um evento social, disparamos
olhares àqueles com trajes e cortes de cabelo atraentes. Ao planejar uma
viagem, escolhemos como destino uma localidade cuja paisagem nos faça brilhar
os olhos, seja ela bucólica, dotada de rios, dunas ou florestas; seja ela
‘urbanoide’, repleta de luzes, cores e sons tecnologicamente pulsantes.
A
embalagem é o princípio de tudo. E você nunca terá uma segunda oportunidade de
causar uma primeira boa impressão. Para tanto, deverá contemplar os seguintes
aspectos:
a)
Aparência: banho tomado, cabelo cortado, unhas aparadas, dentes escovados.
Parece óbvio demais, mas há quem negligencie isso. Estes eventos, por mais
elementares que sejam, representam o ponto de partida da construção de sua
imagem.
b)
Trajes: para cada ambiente, uma vestimenta apropriada. Da mesma forma como você
não irá à praia calçando sapatos sociais, um bom terno ou tailler é a melhor
recomendação para o dia a dia no trabalho. Combinar cores e tecidos é menos complicado
do que possa parecer. Além disso, você deve priorizar o conforto e a
praticidade. Roupas adequadas podem compensar uma baixa estatura, disfarçar um
excesso de peso. Muito cuidado com o casual day, aquelas sextas-feiras insanas
nas quais muitos se revelam de forma comprometedora.
c)
Acessórios: anéis, correntes, brincos, pulseiras, enfim, acessórios diversos,
são permitidos desde que utilizados de forma regrada. É importante também
acompanhar o bom senso da moda. Abotoaduras para os rapazes, apenas em ocasiões
especiais, o mesmo se aplicando para as mulheres em relação a joias. Atenção
redobrada com cosméticos. Há quem use perfume de maneira a ter sua presença
reconhecida em um ambiente pelo rastro de aromas (ou odores...) que deixa no
ar.
d)
Etiqueta: edificar uma marca demanda estudo. Por isso, atente para a
necessidade de adquirir um bom livro com regras de etiqueta social. Afinal,
haverá ocasião na qual você será apresentado a tantos talheres e copos que suas
mãos e boca ficarão em dúvida sobre por onde começar. Há profissionais de
grande competência no mercado capazes de lhe ensinar as normas da boa etiqueta
que, a propósito, não se aplicam exclusivamente às refeições, é claro. Enquanto
conferencista, por exemplo, é importante que você saiba como compor a mesa de
um cerimonial e como homenagear aos presentes, com base na hierarquia.
e)
Postura: cabeça inclinada, ombros arqueados, tronco curvado... Onde você pensa
que vai assim? Qual percepção pretende conferir àqueles que o encontram? Seria
você alguém derrotado e infeliz? Uma postura elegante ao assentar-se e ao
caminhar demonstra altivez, autoconfiança e independência, além de contribuir
com sua própria saúde.
f)
Vocabulário: a menos que suas pretensões restrinjam-se à exposição na mídia
como modelo fotográfico, o que convenhamos é acessível a poucos, você
invariavelmente terá que abrir a boca para sedimentar sua imagem. Neste
momento, pronunciar “menas", “poblema” e seus derivados, será suficiente
para destruir toda a credibilidade que foi erguida nos passos anteriores. Nunca
é tarde para se aprender nosso idioma. Basta estudar um pouco e ler muito –
jornais, revistas, livros, gibis e bulas de remédio. Desta forma, você ampliará
seu vocabulário, ganhando maior versatilidade para falar em público. É importante
também salientar que igual preocupação deve-se ter com a escrita. Redigir um
bilhete grafando “essessão" ou “quizer”, entre outras pérolas, deveria ser
salvo-conduto para uma demissão por justa causa na empresa ou a precipitação de
um divórcio no lar.
g)
Saúde: embora esteja sendo considerada ao final, é o aspecto mais fundamental a
ser observado. E isso tanto em termos de marketing pessoal quanto de qualidade
de vida. Demonstrar estar saudável, mais do que apenas parecer bem,
constitui-se na chave de ouro que sela o primeiro passo do processo de
construção de uma marca pessoal. E uma vida saudável implica sono reparador,
alimentação balanceada e prática regular de esportes, entre outros aspectos.
Segundo
passo: o conteúdo
Muito bem. Você seguiu à risca o tutorial de fabricação de uma embalagem
bonita, vistosa e atraente. Porém, embora o design seja determinante, se o que
estiver por dentro não respaldar a expectativa criada, você seguramente deixará
de se estabelecer. Pior, poderá ser tido como impostor, a ponto de perder por
completo a reputação pela qual tanto lutou. E você sabe que credibilidade é
algo que leva anos para se edificar e que se perde em instantes...
É claro
que o caráter é mais importante que a reputação, pois o primeiro simboliza o
que você realmente é, enquanto o segundo remete àquilo que os outros pensam a
seu respeito. Esta é uma verdade incontestável, muito bem expressa pela frase
de Montaigne que prefacia este artigo. Mas estamos trabalhando para arquitetar
uma imagem capaz de ser admirada pelos demais e melhor será que isso ocorra
espontaneamente, como consequência da pessoa que você demonstra ser com
naturalidade.
Trabalhar
o conteúdo significa cuidar dos seguintes pontos:
a)
Formação: se você já tem um curso superior, faça uma especialização ou uma
pós-graduação. Por outro lado, se você ainda não cursou uma faculdade,
matricule-se com urgência em uma. Pouco importa o nome da instituição, sua
tradição e toda a retórica que a cerca. Esteja certo de que é você quem tornará
seu curso uma experiência indescritível ou um exemplo de mediocridade. Assista
às aulas, empenhe-se na realização dos trabalhos individuais e em grupo,
questione seus professores. Se os estudos foram interrompidos ainda no ensino
fundamental, evite lamentar-se. Trabalhe para recuperar o tempo perdido. Faça
um supletivo, estude nos momentos mais singulares, tais como dentro de um
ônibus ou metrô, e quando estiver em uma fila de banco. Lembre-se de que sua
formação será dada menos pelo pedaço de papel emoldurado que você pendurar na
parede, e mais pelos livros que você ler, as pessoas que conhecer e os debates
dos quais participar.
b)
Currículo: aprenda a redigir um currículo personalizado. Nada de números de
documentos diversos e relação de palestras infrutíferas das quais você
participou só para conquistar um certificado. Seu currículo deve ser objetivo,
capaz de ilustrar em no máximo duas páginas o profissional que você é.
Disponibilize um telefone e e-mail para contato. Evidencie com letras
destacadas seu objetivo profissional. Você precisa declarar ao mundo o que sabe
e quer fazer. Apresente sua formação mais recente, ou seja, nada de relacionar
onde fez o curso primário e cursos extracurriculares dispensáveis. Fale de sua
trajetória profissional, as empresas por onde passou, mencionando o porte de
cada uma delas. Comente suas realizações procurando, sempre que possível,
quantificá-las. Finalize informando sobre suas aptidões com idiomas e os
hobbies que aprecia – um pouco de intimidade e humanismo também merece ser
apresentado. Por derradeiro, mantenha seu currículo sempre atualizado. Não é
porque você encontra-se estável em uma organização que a história de sua vida
profissional deva ser estagnada. Ela está sendo escrita e é preciso que se
registre isso para uma possível recolocação no futuro. Desconfie de sua
memória.
c)
Atitude: aqui estamos falando de competências como: iniciativa,
comprometimento, ousadia, persistência, criatividade, planejamento, persuasão,
liderança, autoconfiança. Todos as temos, mais ou menos desenvolvidas. O
segredo está em se fazer um trabalho de autorreflexão. Reforçar as atitudes que
estão sendo praticadas e identificar aquelas que precisam de um upgrade.
d)
Autenticidade e transparência: a melhor maneira de você conquistar a simpatia,
confiança e admiração das pessoas é sendo exatamente quem você é. De nada
adianta projetar uma estampa fantasiosa, máscara que cai diante da primeira
adversidade. Pratique a naturalidade e abuse da transparência, porém sempre atento
aos bastidores escusos nos corredores das organizações.
e)
Resiliência: falamos da capacidade de superar adversidades. A postura
resiliente deve ser incorporada ao seu estilo de vida e ao seu semblante. Dar
aos problemas a dimensão que efetivamente devem ter. Ser flexível nos acordos,
tolerante nas decisões, paciente com as respostas. E aprender com cada nova
experiência vivida.
f)
Ética: mais do que fazer a coisa certa, significa agir com congruência.
Praticar o que se fala, dizer aquilo em que se acredita.
g)
Positividade: símbolo de um estado de espírito elevado, cultivar um pensamento
positivo é uma prática que se reflete no sorriso franco, no abraço acolhedor e
no bom humor contagiante. É um jeito de viver que atrai quem nos cerca, gerando
uma energia sem precedentes.
Terceiro
passo: a visibilidade
Não adianta fazer a melhor coisa do mundo se ninguém tomar conhecimento. É
preciso comunicar e repercutir. Para construir uma marca, você precisa ser
visto.
a)
Logotipo: assim como os produtos são nomeados e apresentam uma marca que os
identifica, desenvolva um símbolo ou sinal gráfico capaz de remeter
mnemonicamente a você. Pode-se partir de uma grande expertise sua ou até de seu
apelido.
b)
Cartão de visita: pouco importa se você está trabalhando ou disponível no
mercado. Você precisa ter um cartão de visitas. Além de tê-lo, portá-lo, porque
muitos esquecem seus cartões na gaveta do escritório, no porta-luvas do carro
ou no bolso de outro blazer. Você pode ter um cartão corporativo e outro
pessoal, por exemplo, esquivando-se do risco de perder a própria identidade,
sendo chamado por “Fulano da empresa tal”. Mas a regra mais importante neste
quesito é sobre como utilizar o cartão de visitas. Ofereça-o a seu interlocutor
olhando-o nos olhos e peça o cartão dele. Leia o conteúdo do cartão, chame-o
pelo nome para conferir maior proximidade ao diálogo e auxiliar você na
memorização. Nunca dobre a ponta do cartão recebido. Concluído o diálogo, faça
anotações discretas no cartão recebido que o ajudem a lembrar-se da pessoa
posteriormente. Envie-lhe um e-mail no dia seguinte externando seu prazer em
tê-la conhecido. Mas, por favor, evite tornar mecânico este processo, colocando
prazer e sentimento nesta singela ação de troca de cartões.
c)
Website: para ser visto – e achado – em tempos modernos, impossível dar as
costas para a internet. Por isso, é imprescindível manter um site pessoal. Pode
ser um blog, também, mas o site transmite um conceito de maior perenidade, pois
os blogs têm como característica original o fato de serem formatados para
funcionar como um diário eletrônico. Registre um domínio web com o seu nome. O
investimento é ridículo. Basta pagar a anuidade da FAPESP, pouco superior a dez
dólares. Depois, vá elaborando seu site aos poucos, incrementando seu conteúdo.
Insira seu currículo, suas experiências profissionais, artigos que tenha
escrito, links para outros portais. Enfim, faça de seu site um ambiente que
possa tornar-se um ponto de encontro, ou até uma comunidade.
d)
E-mail: procure ter uma única conta de e-mail. Com sinceridade, parece-me
incompreensível como algumas pessoas criam e-mails em todos os provedores
gratuitos como se aquilo fosse sinônimo de status. O gerenciamento de muitas
contas torna-se difícil e inócuo. Pior, você dificulta a memorização de seu
endereço pelos outros. Assim, bastam duas contas, no máximo: uma de caráter
pessoal e outra corporativa. Aproveite para programar seu correio eletrônico
para inserir uma assinatura nas mensagens que enviar. Nada mais desagradável do
que receber um e-mail dentre as dezenas de mensagens que circulam diariamente,
a maioria delas meros spams, sem conseguir identificar o destinatário.
e)
Artigos: se você tem facilidade em escrever promova este talento. Desenvolva
artigos versando sobre temas de seu conhecimento e relacionados à sua
profissão. E publique-os. Primeiro, na internet – são inúmeros os portais que
receberão com prazer sua contribuição. Mais adiante, você poderá buscar a mídia
impressa – jornais e revistas – como veículos de divulgação de suas ideias.
Procure escrever artigos curtos, que facilitem a leitura, e tenha muito cuidado
com o idioma. Coesão e coerência textuais, ortografia e acentuação corretas, é
o mínimo que os editores irão lhe solicitar – e seus leitores também.
f)
Eventos: a regra agora é circular para ser visto. Participe de eventos os mais
diversos. Coquetéis de lançamento de livros, palestras e seminários,
vernissages. E leve consigo seu cartão de visitas.
Quarto
passo: a ênfase
Uma marca, para ser lembrada, precisa ser repetida. Por isso, você deve reunir
um nome curto, associado a uma logomarca e facilitar sua percepção para as
pessoas.
A
rigor, inexiste nome difícil, mas nome pouco pronunciado. De qualquer forma, se
você está no estágio inicial de construção de sua marca, considere até mesmo a
possibilidade de atuar com um pseudônimo, priorizando nomes formados por apenas
duas palavras. Assim, “José Maria da Silva” deverá optar por ser chamado de
“José Maria” ou “José da Silva”. Isso facilita a memorização e a identidade
visual. E tome cuidado com homônimos!
Quinto
passo: a divulgação
Hora de colocar o bloco na rua! Você deve virar notícia – evidentemente não das
páginas policiais. Neste momento, a publicação de artigos e participação em
eventos, conforme relatados no estágio da visibilidade, são instrumentos
certeiros.
Este
também é o momento de você reforçar sua comunicação. Pessoas marcantes são, por
natureza, bons contadores de causos. Não estamos falando de histórias da
carochinha, mas de vivências, experiências, aprendizados.
Face ao
exposto, considere com seriedade investir em um curso de expressão verbal e
corporal. Estudos indicam que falar em público oferece mais medo às pessoas do
que a própria morte...
Por
fim, coloque a palavra networking em seu vocabulário e em sua agenda. Aumente
sua rede de relacionamentos para além dos limites de seu bairro e de seus
domínios na empresa. Há pessoas interessantes esperando por conhecer você seja
em uma fila de cinema ou em uma mesa de bar.
Sexto
passo: a diferenciação
Seguindo todos os passos anteriores você ainda correrá um risco: o de ser
notado como somente mais um player, mais uma marca dentre tantas disponíveis no
mercado. Por isso, você precisa se diferenciar. Praticar o que a teoria
econômica chama de concorrência monopolística. Desenvolver um estilo próprio,
fazer as coisas de forma diferente e, assim, tornar-se único, exclusivo,
admirado e presente no coração e na mente das pessoas.
À luz
deste conceito, observe como estamos o tempo todo exercendo a concorrência
monopolística em nossas vidas. A começar pela vitória do espermatozóide tenaz
que, dotado de agilidade, velocidade e preparo, no ato da fecundação, supera
todos os demais concorrentes. Ao conquistar o par romântico, também nos fizemos
notar em meio aos demais pretendentes. A oportunidade de emprego foi igualmente
sancionada com êxito dentre outros postulantes ao cargo.
“Tu não
és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.
E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Não passo a
teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas se tu me cativas,
nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei
para ti única no mundo...”.
O
Pequeno Príncipe, de Exupéry, conhecia muito de concorrência monopolística
quando cunhou a famosa expressão “tu te tornas eternamente responsável por
aquilo que cativas”. Por isso, abrir a porta do carro para a garota adentrá-lo
torna o cavalheiro admirado. Por isso, o vendedor que procura descobrir a necessidade
de seu cliente para depois lhe apresentar uma solução é preferível ao mero
tirador de pedidos. Por isso, a empresa que identifica o desejo mais subliminar
de seus consumidores pode dar-se ao luxo de vender o que produz ao invés de
produzir o que se vende.
Mas, no
jogo da diferenciação, que fique claro uma coisa. Não é a diferenciação
tecnológica (baseada nas inovações), a qualitativa (sediada na adequação) ou a
mercadológica (ancorada na força e no glamour das marcas) que conferem
perenidade às relações. O mundo está comoditizado. A comunicação está
massificada. A única diferenciação sustentável ao longo do tempo é aquela
baseada em pessoas. No brilho do olhar, na maciez da voz e no calor do toque,
aspectos que máquina ou virtualidade alguma será capaz de reproduzir ou
substituir.
Tom Coelho - educador,
palestrante em gestão de pessoas e negócios, escritor com artigos publicados em
17 países e autor de oito livros.
Fonte: www.tomcoelho.com.br