Por que não somos tão bons investidores quanto achamos


Desde o início, os esforços de pesquisa que ficaram conhecidos como economia comportamental geraram uma grande quantidade de estudos concentrados na prática do investimento.

Esse foco no estudo das finanças comportamentais reflete o fato de que os mercados financeiros fornecem dados robustos para a análise do "ajuizamento sob incerteza" (título de uma coletânea co-organizada porDaniel Kahneman, vencedor de um Nobel de Economia) e da "decisão sob risco" (expressão que figura no subtítulo do estudo "Teoria dos prospectos", que lhe valeu o Nobel).

Os dados do mercado financeiro permitem que pesquisadores entendam como as pessoas fazem escolhas quando está em jogo o dinheiro e o resultado é desconhecido.

Consideremos a "falácia do custo irrecuperável", um motivo básico para que um advogado descontente resista em largar a carreira ou um investidor se recuse a vender ações com as quais está perdendo dinheiro. É altamente provável que ambos fiquem obcecados com seus custos irrecuperáveis -as mensalidades da faculdade e o valor investido na compra de ações.

Diferenciam advogados de investidores, porém, suas justificativas. Advogados são instruídos a fazer aquilo que fazem, ao passo que a maioria dos investidores não o são.

Milhões de investidores amadores continuam a comprar e vender títulos de forma ativa e regular.

Isso apesar da esmagadora evidência de que nem mesmo investidores profissionais têm maior probabilidade de levar a melhor no mercado do que têm macacos lançando dardos em listas de títulos.

Mas por que amadores creem que podem se dar melhor do que os profissionais? Várias propensões e equívocos cognitivos contribuem para esse comportamento.

EXCESSO DE CONFIANÇA

Pesquisa da Universidade da Pensilvânia reuniu mais de 25 mil prognósticos de pessoas cuja ocupação consistia em prever o futuro de alguma forma. Quando ficavam 80% seguras, estavam corretas em menos de 60% dos casos.

Em estudo realizado pelo State Street Center for Applied Research em 2012, investidores foram indagados sobre seu tino para as finanças. Quase dois terços classificaram sua sofisticação financeira como avançada. Mas após aplicação de um teste de alfabetização financeira, a proporção média de acertos foi de apenas 61%.

PROPENSÃO A OTIMISMO

O excesso de confiança é automatizado em nossos cérebros porque é proveitoso.

"Somos evolutivamente programados para acreditar que as coisas vão dar certo", afirmou David Hirshleifer, professor de finanças da Universidade da Califórnia em Irvine. Isso ajuda a explicar por que muitos fumantes acreditam que não vão contrair câncer, muitos motoristas acham que podem dirigir bêbados sem risco e muitos investidores acreditam que podem triunfar no mercado.

CONCEPÇÃO A POSTERIORI

Em experiências conduzidas pelo psicólogo Baruch Fischhoff, participantes do estudo foram orientados a fazer previsões sobre eventos da vida real e depois foram solicitados periodicamente a recordar os eventos e suas previsões. Os achados dele? Os participantes consistentemente se lembravam erroneamente de seus prognósticos, sempre para fazer com que parecessem mais argutos.

PROPENSÃO À IMPUTAÇÃO

Por certo, muita gente recorda fracassos tranquilamente, o que indica que a propensão à concepção a posteriori não é assim tão forte. Mas, mesmo quando nossos fracassos permanecem vívidos em nossa memória, nós os recordamos de uma forma que neutraliza a capacidade deles de inibir nossas decisões atuais.

CONFIRMAÇÃO

Por fim, é altamente provável que investidores omitam indícios de sua incompetência. O culpado é a propensão à confirmação, que nos leva a conferir peso demais a informações que sustentem crenças existentes.
Tendemos a nos lembrar de investimentos altamente rentáveis que pensamos em fazer mas não fizemos e a esquecer aqueles que deixamos de fazer e cujos rendimentos despencaram.

GARY BELSKY - co-autor de "Why Smart People Make Big Money Mistakes and How to Correct Them: Lessons From the Life-Changing Science of Behavioral Economics" (porque pessoas inteligentes cometem erros em finanças, em como corrigi-los, em tradução livre; livro não publicado no Brasil).

Fonte: jornal New York Times - Tradução de Alexandre Morales 

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