Nas últimas semanas, o pânico tomou
conta dos mercados financeiros. Bolsas, preços das commodities e o valor da
moeda de países com economias menos sólidas despencaram em todo o mundo.
O pânico dos mercados financeiros
origina-se da paralisação da economia decorrente de medidas adotadas para
conter a transmissão do vírus. Em cada vez mais países, pessoas evitam sair à
rua, ir ao trabalho e viajar, escolas estão fechadas e centenas de milhões de
pessoas estão em regiões em quarentenas.
Os impactos negativos na economia
mundial começaram pela China, de onde o surto originou-se. A China responde,
hoje, por quase 1/3 da indústria mundial. Sua paralisação afeta a indústria de
todo o mundo, que depende de componentes produzidos por lá. Em janeiro e
fevereiro, a indústria encolheu 13,5% e as vendas do varejo caíram 20,5% em
fevereiro na China.
Depois de fazer estragos na Ásia, o
vírus disseminou-se pela Itália. Em pleno inverno - com clima frio - população
envelhecida – e, portanto, mais vulnerável - e fronteiras abertas para a União
Europeia, da Itália, o surto espalhou-se pela Europa e para o resto do mundo,
inclusive para o Brasil.
A paralisação da atividade
econômica causada pela reação ao vírus, por sua vez, derrubou a demanda de
petróleo no mundo. Para controlar a queda de preços, a OPEP – Organização dos
Países Exportadores de Petróleo - liderada pela Arábia Saudita, tentou
convencer, sem sucesso, a Rússia - uma das maiores produtoras de petróleo do
mundo, mas que não faz parte da OPEP – a também cortar sua produção. A Rússia
não topou e a Arábia Saudita, a maior produtora mundial, resolveu, então deixar
o preço despencar, reduzindo recursos para todos os países exportadores de
petróleo, incluindo alguns já em situação delicada, como Venezuela e Irã.
Com menos recursos financeiros
vindos das vendas do petróleo, a economia destes países vai piorar muito e a
insatisfação popular com seus governantes e, possivelmente, as manifestações
contra eles vão aumentar. Como seus governos reagirão? Ninguém sabe, mas não
custa lembrar dos conflitos recentes entre Irã e EUA. Além disso, a queda
substancial do preço do petróleo pode inviabilizar o desenvolvimento de várias
tecnologias promissoras, mas ainda incipientes de energia em todo o mundo.
Este é apenas um exemplo de como a
piora do panorama econômico descortina conflitos adormecidos pela bonança
gerada pelo mais longo ciclo de expansão econômica global ao menos desde a
Segunda Guerra Mundial. Com a brutal destruição de riqueza que está
acontecendo, conflitos eclodem, aumentando os impactos negativos na economia,
em um círculo vicioso tanto a nível global quanto dentro de cada país. No campo
da política, por exemplo, governos de todo o mundo se beneficiaram
politicamente da bonança.
Agora, a oposição aos atuais
governos vai se beneficiar com a insatisfação popular com os atuais governantes
que crescerá, particularmente caso uma recessão global se materialize e impacte
ainda mais negativamente a economia de cada país, o que parece cada vez mais
provável. Em países com eleições presidenciais, como os EUA, estas
consequências serão ainda mais significativas. Aliás, a Goldman Sachs acabou de
cortar a previsão de crescimento da economia americana para apenas 0,4% neste
ano, com queda de 5% no 2º trimestre, que se efetivamente se materializar, será
a maior ao menos desde a Segunda Guerra Mundial.
Ninguém sabe ainda ao certo como o
surto evoluirá no Brasil e no mundo, quais serão as reações da população e de
governos a ele e a magnitude total que estas reações terão na economia mundial
e brasileira, mas a possibilidade que o PIB brasileiro, eventualmente, até se
contraia neste ano, que antes não existia, tornou-se absolutamente real.
Ricardo Amorim
| autor do bestseller Depois da Tempestade, apresentador do Manhattan Connection da Globonews.