A crise não diminui a
criatividade das pessoas, aumenta. A dificuldade sempre foi a mãe da invenção.
A IBM era a maior empresa de computadores até antever que não poderia mais
competir no mercado de computadores. Tornou-se uma empresa de tecnologia e
serviços, e hoje é uma das maiores empresas de tecnologia e serviços.
As coisas estão sempre
evoluindo. Mas agora evoluem mais rápido. O Facebook foi de 1 milhão a 1 bilhão
de usuários em nove anos. O tempo de vida médio das empresas do índice S&P
500, que reúne grandes companhias listadas na Bolsa de Nova York, caiu de 60
anos para menos de 20 anos.
As novas plataformas de dados e
serviços permitem a empresas pequenas e iniciantes acessar recursos antes só
disponíveis a poderosos conglomerados. Softwares cada vez mais inteligentes,
impressoras 3D e "crowdfunding" são algumas das inovações que
deixaram o jogo mais equilibrado e transformaram aquela antiga garagem de
empreendedores num hub high tech.
Eu nasci no Pelourinho, em
Salvador, e as chances de chegar aonde cheguei eram, no máximo, mínimas. Na
minha trajetória, o mais importante foi a capacidade de reinvenção. Comecei
redator e ainda sou redator, mas em 1989, com a DM9, me tornei também
empresário e empreendedor. Naquela época, muitas pessoas me questionavam como
Davi enfrentaria Golias.
Mas a questão que está posta
hoje é como Golias vai enfrentar David, que agora não tem só um estilingue, mas
ferramentas e sistemas capazes de lhes dar forças de gigante mantendo a agilidade
e a vivacidade das pequenas estruturas. São como microgigantes, com poder
absurdo de deslocamento, inovação e disrupção. A resposta certamente passa por
tornar as grandes estruturas rápidas e inovadoras. Só assim redes hoteleiras,
por exemplo, poderão competir com o Airbnb, que não possui um quarto sequer.
A reinvenção empresarial e
humana deve ser permanente. O que impulsiona a economia de mercado é a
competição, e toda empresa precisa responder às mudanças do mercado para seguir
viva e competitiva.
Momentos de crise econômica são
indutores de mudanças. Quando a maré sobe, todos os barcos sobem. Mas, para
sobreviver na maré baixa, é preciso ter capacidade de adaptação, resistência e
agilidade. Não adianta se enfiar numa caverna e esperar o inverno passar. A
hibernação funciona para os ursos, não para as empresas.
Por isso crise é boa hora para
se comunicar. Você pode moderar investimento publicitário na bonança, porque
todo o mundo já está comprando. Mas, quando os consumidores se retraem, é
imprescindível ir atrás deles usando as oportunidades de mídia que a própria
crise oferece. Até porque alguns de seus concorrentes podem não estar
anunciando neste momento. E o pior perigo é não anunciar e deixar a atenção do
público para a concorrência.
As vendas podem ter diminuído,
o crédito pode ter sumido, o caixa pode estar estressado. Mas tem algo que
segue disponível e até estimulado pelo ambiente: a criatividade humana. É hora
de acessá-la. Sairá melhor da crise quem souber usar o tempo da crise para evoluir.
Escrevo esta coluna no sábado
(23 de abril), quando a humanidade celebra 400 anos da morte de Shakespeare, um
dos maiores criativos da história. Encerro com ele: "É melhor três horas
adiantado que um minuto atrasado".
Nizan Guanaes - publicitário e presidente do
Grupo ABC, articulista no jornal Folha de São Paulo.
Fonte: Jornal FSP