O
copo está meio cheio ou meio vazio? A resposta é individual, imprevisível e, às
vezes, surpreendente. Veja o caso da internet, um mundo povoado por golpistas,
"trolls" e pessoas irritadas. Ou será que não?
Para muitas pessoas, há outro lado. Essa "internet do
bem", conforme a descreveu recentemente o "New York Times",
inclui sites como o Thought Catalog, o Upworthy e o ViralNova, que reúnem e
divulgam fatos positivos e inspiradores. Suas manchetes: "Ouse sonhar mais
do que jamais havia imaginado"; "Quatro lições que eu gostaria que
todas as mães ensinassem a suas filhas".
Essa é a "internet que tem por objetivo elevar, não
derrubar", escreveu Sheila Marikar no "Times". E, embora se diga
muitas vezes que a negatividade vende, essa "internet do bem" também
está provando que é um bom modelo de negócios, atraindo milhares de leitores à
medida que suas histórias positivas são compartilhadas nas redes sociais.
Um desses sites, o Thought Catalog (catálogo de pensamentos),
atraiu 34 milhões de usuários únicos em junho, noticiou o "Times", o
que é bem mais do que os 2,6 milhões do site da revista "Time".
"As pessoas na verdade não querem compartilhar notícias
ruins, embora sejam atraídas por elas", disse Scott Long, fundador do
ViralNova.
Um caso de "copo meio cheio" que poderia se encaixar
em sites desse tipo diz respeito a uma penitenciária na ilha italiana de
Gorgona, onde uma das mais antigas famílias produtoras de vinho do país está
ajudando a transformar uma situação ruim em algo melhor. Nos últimos dois anos,
especialistas da família vêm transmitindo seus conhecimentos aos presidiários,
que trabalham nos vinhedos e executam outras tarefas agrícolas, relatou
Elisabetta Povoledo no "Times".
O objetivo é proporcionar aos detentos habilidades que eles
possam usar quando retornarem à sociedade. Isso também os ajuda a ganhar
confiança.
A prisão funciona como uma fazenda aberta, que ajuda a manter os
corpos e mentes dos presidiários longe da ociosidade, pelo menos durante parte
do dia. "Ainda é uma prisão", disse o detento Santo Scianguetta. Mas
agora, acrescentou, "vejo esperança no futuro". Esse tipo de otimismo
com certeza não surge facilmente se você está na metade de uma sentença de 16
anos, como é o caso de Scianguetta. Tal esperança vem mais naturalmente se o
seu copo está transbordando.
Pergunte a várias pessoas o que elas fariam se fossem ricas, e
elas poderiam listar viagens, carros e imóveis caros. As crianças sonhariam com
montanhas de brinquedos. Mas alguns pais estão ensinando aos seus filhos o
valor de ajudar outras pessoas em vezes de a si mesmos.
Entre eles está Laurie Moret, que disse a Paul Sullivan, do
"Times", que se sentiu oprimida pelo número de presentes que uma de
suas filhas havia recebido em seu primeiro aniversário. Ela então ofereceu uma
opção aos seus filhos quando eles completavam 5 anos: em suas festas de
aniversário, eles poderiam receber presentes ou pedir aos seus amigos
trouxessem coisas necessárias para uma instituição de caridade local. Até
agora, as instituições estão ganhando. Mas as crianças também, ao aprenderem a
estender a mão e ajudar os outros.
Seja no envolvimento com voluntariado em outra parte do mundo ou
no foco em um abrigo para animais, o objetivo é criar uma mentalidade que
ficará com eles até a idade adulta. A esperança de Moret é que o "serviço
comunitário seja a mesma coisa que escovar os dentes: elas fazem porque é a
coisa certa a fazer".
Tess Felder – jornalista do New York Times
Fonte:
suplemento NYT do jornal Folha de São Paulo