Nesta
temporada de premiações cinematográficas dos EUA, o filme "Ela", a
história de um homem que se apaixona pelo sistema operacional do seu
computador, vem chamando a atenção. A ideia pode parecer fantasiosa, mas a
história está tocando os espectadores.
Após
se separar da mulher, Theodore, interpretado por Joaquin Phoenix, fica
melancólico e solitário. O sistema operacional, que atende pelo nome de
Samantha, organiza seus arquivos, ao mesmo tempo em que lhe faz companhia e o
consola. Ele a leva para a praia e com ela compartilha seus mais íntimos
pensamentos. Escrevendo no "New York Times", a crítica Manohla Dargis
disse que o filme é estranhamente tocante ao refletir sobre a solidão e nossa
crescente dependência da tecnologia para nos sentirmos conectados.
"Sendo
ao mesmo tempo uma brilhante 'gag' conceitual e um romance profundamente
sincero, 'Ela' é uma história de amor improvável e, no entanto, plausível sobre
um homem que às vezes se assemelha a uma máquina e um sistema operacional que
sugere uma mulher real", escreveu. Samantha salva Theodore de sua solidão,
"puxando-o para fora de si mesmo e então para a própria vida". O
filme se passa em Los Angeles, num futuro não tão distante. É um futuro que
pode estar mais perto do que pensamos. As pessoas já estão encontrando
companheirismo e intimidade por intermédio da tecnologia.
No
Japão, um jogo de simulação de namoro chamado Love Plus foi desenvolvido para o
Nintendo DS, informou recentemente Alex Hawgood no "NYT". Entre
outras interações, ele permite afagar os cabelos de outro jogador usando um
"touch pad".
"Assim
como Samantha está programada para se adaptar à personalidade de Theodore em
'Ela', essas namoradas virtuais modificam suas personas em tempo real, com base
no que o jogador gosta", escreveu Hawgood. "O jogo é popular entre os
'otaku', gíria japonesa para os reclusos nerds de computador, que muitas vezes
postam on-line capturas de tela das suas Samanthas ou saem para encontros na
vida real com o seu console de videogame."
A
tecnologia também está sendo cada vez mais usada entre quatro paredes. Um
produto chamado Fundawear, feito para os amantes à distância, vem com roupas
íntimas masculina e feminina que contêm nódulos vibratórios, os quais podem ser
ativados remotamente via iPhone. Outro produto, chamado Realtouch, promete
"sexo interativo" com outra pessoa pela internet, com a ajuda de uma
webcam. Esses produtos estão sendo apresentados em uma nova série de televisão
na HBO, chamada "Sex //Now".
Muitos
de nós já temos uma voz semelhante à de Samantha em nossos celulares: trata-se
de Siri, o assistente digital da Apple. O roteirista e diretor de
"Ela", Spike Jonze, disse que escreveu o roteiro antes que a Apple
lançasse Siri nos iPhones, em 2011, mas os paralelos são óbvios.
O
usuário pode fazer qualquer tipo de pergunta a Siri, cuja voz originalmente
pertence a Susan Bennett, dubladora que vive nos arredores de Atlanta. Siri é
conhecida por suas respostas inteligentes e brincalhonas. Por exemplo, se você
lhe perguntar sobre o sentido da vida, uma das suas respostas é: "Todos os
indícios até agora sugerem que seja o chocolate".
Antevendo
que as pessoas perguntariam a Siri sobre sua equivalente cinematográfica, os
programadores prepararam uma resposta, escreveu Melena Ryzik no "Times".
Um articulista do site Buzzfeed perguntou: "Siri, você é ela?". Siri
respondeu: "Não. Acho que ela dá má fama à inteligência artificial" e
"Não gasto muito tempo com personagens puramente ficcionais". Ao ser
perguntada sobre a chance de se envolver com um humano, escreveu Ryzik, Siri se
esquivou. "Nunca pensei realmente nisso”, respondeu.
Emma G. Fitzsimmons – jornalista, repórter no
@NYTimes
Fonte: suplemento do jornal New York Times no jornal FSP