O
ano de 2017, apesar de dramático em termos políticos, econômicos e sociais,
pode ser considerado revolucionário por muitas mulheres.
No
Brasil, as lutas libertárias explodiram em 2013, com as manifestações nas ruas
e as reivindicações das chamadas "minorias".
Em
2017, essas lutas se ampliaram e passaram a ser da maioria dos brasileiros e,
especialmente, das brasileiras.
Com
as denúncias contra homens poderosos, muitas mulheres –famosas ou não– disseram
que nunca tinham percebido as incontáveis situações em que sofreram assédio.
Elas acreditavam que era "natural" que os homens fossem mais
agressivos sexualmente. Hoje não é mais possível aceitar uma suposta
"natureza masculina" que justifique a violência contra as mulheres.
O
protagonismo conquistado pelas mulheres que sofreram (e ainda sofrem) violência
impactou toda a sociedade. O sofrimento com a violência e o assédio sexual
deixaram de ser vividos de forma individual e silenciosa para serem
compartilhados por todas as mulheres. Descobrimos que não estamos mais sozinhas
no nosso sofrimento. Foi o ano do "mexeu com uma, mexeu com todas!".
Quantas
vezes sofremos violências verbais, psicológicas e físicas sem poder ou sem
saber como agir? Quantas vezes reagimos a "brincadeirinhas" e fomos
xingadas de histéricas, neuróticas e loucas? Quantas vezes nos calamos ao ouvir
acusações de "vitimismo", "mimimi" e "chatice típica
de mulherzinha"?
Quantas
vezes sofremos silenciosamente por nos sentir invisíveis, ignoradas e
desvalorizadas? Quantas vezes escondemos nossos corpos por vergonha ou medo dos
preconceitos e julgamentos dos outros? Quantas vezes nos sentimos culpadas pela
violência que sofremos?
Estamos
vivendo o momento de gritar, de falar livremente sobre tudo e de denunciar o
abuso de poder. E até mesmo as mulheres que não tinham consciência da violência
que sofriam passaram a ter voz e a se manifestar corajosamente.
Nosso
medo acabou; nossa vergonha acabou. E não tem mais volta. É o fim do silêncio:
não aceitamos mais algo que era corriqueiro nas nossas vidas, dentro e fora de
casa. Finalmente, chegou a nossa hora de dizer em alto e bom som:
"Basta!".
Que
2018 seja o ano de consolidação dessa luta contra o silêncio. Não vamos mais
ficar caladas
Mirian
Goldenberg -
antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de
'Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade'.
Fonte:
coluna jornal FSP