https://www.youtube.com/watch?v=O7bgq2V2AMs#t=32
Nenhuma palavra. Durante 30 minutos, ele fica mudo. Não é
exatamente como você imaginaria uma palestra de capacitação corporativa. Mas o doutor em comunicação Dado Schneider prova que é possível dizer muito sem
falar absolutamente nada. Com tênis, jeans e camiseta preta, ele sobe ao palco
e começa a tirar um "pau de selfie" de dentro da embalagem. E então,
estica o acessório em direção à tela. De repente, o ritmo pesado de "Slats
slats slats", do Skrillex, toma conta do ambiente. A plateia grita e
aplaude em comemoração — pela primeira vez dos muitos aplausos que viriam a
seguir.
Dado se apresentou na última quinta-feira (05/02) na oitava
edição da Campus Party, em São Paulo. Uma das primeiras informações que
apresenta durante uma sucessão de slides é a de que até pagaria para palestrar
no evento. Assim como milhares de jovens empreendedores, o professor passa uma
semana acampado no centro de exposições. Em sua apresentação, ele
gesticula enquanto mostra slides rapidamente ao som de canções que
refletem o tema sobre o qual está falando. O método tem motivo: as pessoas não conseguem olhar para o celular. É uma experiência sensorial que impede
dividir a atenção com "outra tela".
"Se
o mundo muda, a palestra também muda", diz um dos slides. Ele pede que
todos descruzem os braços e avisa que tocará sete canções antes de começar a
falar. Ao som de "Staying Alive", do Bee Gees, explica sobre como é
difícil "ser um velho" nos dias de hoje. No passado, os idosos, em
razão de viver menos, não tinham de se atualizar. "É preciso se manter
vivo", diz o palestrante em referência à música. Para Dado, de 53 anos, os
jovens têm de ajudar os mais velhos nesta tarefa. As duas gerações podem
ensinar muito uma para a outra — segundo ele, juventude e experiência tem de
andar de mãos dadas.
Quando
toca "Welcome To The Jungle", Dado defende que o mercado não está
fácil. Os jovens, segundo ele, precisam aproveitar o momento da vida que
permite o maior crescimento. Para vencer, ele diz que é preciso ter uma tríade:
coragem, talento e persistência. Porque, assim como na música do Guns N' Roses,
o mundo "é uma selva". Enquanto o som toca "Roots Bloody
Roots", do Sepultura, ele comenta a relação entre nossas raízes culturais
e o modo como atuamos no mercado. No Brasil, o trabalho dignifica. Para ele, o
trabalho deve ser, no entanto, divertido e as pessoas tem de dosar o ritmo — ou
seja, nada de tarefas "para ontem".
"I
heard it through the grapevine", do Creedence, acompanha Dado enquanto
explica para os campuseiros que não há problema em errar. Pelo contrário, é o
que os fará bons profissionais. Ele destacou ainda a importância de ser ético,
pensar globalmente e saber falar inglês. "Daqui cinco anos, não haverá
mais tradução simultânea na Campus Party", profetizou. A música seguinte,
"You Know That I'm No Good", da Amy Wihehouse, serve fazer
mandamentos "duros" ao público. Ele diz que um bom profissional deve
ter educação (e ela não está liga a instituições de ensino, mas a se comportar
bem), acompanhar o noticiário diário, ser polido, ter postura e elegância (não
no que se refere a roupas chiques, mas à atitude).
A
batida de "Memories", de David Guetta, encerra a sessão de músicas. E
só então Dado apresenta seu currículo: mais de 30 anos de experiência em
marketing e comunicação, em empresas como DM9, RBS e Ogilvy. O gaúcho é um dos
criadores da marca Claro e ministrou aulas em diversas intituições. Hoje,
trabalha como palestrante e treinador de equipes.
Mentalidade
"Não estamos em uma era de mudanças, a mudança é a nossa era", diz
(finalmente em voz alta). Segundo ele, o mundo só ficará cada vez mais
indecifrável para quem não acompanhá-lo. Ele defende que hoje as pessoas não se
dividem mais por idade, mas por mentalidade. "Posso ter barriga, mas meu
cérebro é de tanquinho", brinca. Para o professor, não existe diferença
entre mundo virtual e real — são os mesmos. Assim como não existe diferença
entre quem ensina e quem aprende. "Nunca uma geração teve tanto a ensinar
para os mais velhos."
Ambiente de trabalho
Dado diz que temos de deixar o "emprego do século XX" para trás.
Naquela época, as empresas podiam ser comparadas ao feudalismo, as hierarquias
eram extremamente marcadas. No trabalho do século XXI, ele afirma, as pessoas
devem atuar em rede, cooperar e entender a função dos colegas. Hoje não é mais
preciso escolher a carreira que os pais consideram a melhor. As pessoas podem
fazer o que gostam e "nunca o conhecimento esteve tão acessível" — em
breve, todos vão dominar a tecnologia. Mas, como consequência, terão de lidar
com maior pressão, estresse e metas.
Dado Schneider – doutor em comunicação, trabalhou nas agências MPM,
Ogilvy, DM9DDB, deu palestra no Campus Party