Junto com o isolamento social, veio um grande desafio
para os empresários no que tange à gestão financeira de seus negócios. De um
dia para o outro, tudo mudou, as receitas mudaram e as despesas também mudaram.
Checklist de sobrevivência empresarial
Pensando no universo de desafios que as empresas estão
tendo que superar no momento, criei uma espécie de checklist para ajudar os
empresários, gestores e empreendedores a guiar seus negócios nesta época de
incertezas.
Vamos ver a seguir 5 coisas que são recomendáveis fazer,
caso necessário…
1 – Gestão Financeira começa com…
Fluxo de caixa e plano de contas: sim… É verdade. Muitas
empresas não têm sequer um fluxo de caixa e um plano de contas organizados.
Muitas não têm nem como saber para onde está indo o dinheiro e vivem somente do
presente, sem planejamento algum. Se este for o seu caso, faça o dever de casa.
É interessante que alguns empresários ainda apresentam
certa resistência quando eu falo sobre fluxo de caixa e plano de contas. Para
essas pessoas, eu pergunto: faz sentido você tentar direcionar um navio no meio
da tempestade, sem enxergar um palmo na frente do nariz, sem usar uma bússola?
Pois é… A bússola é justamente o fluxo de caixa e o
plano de contas. Sem eles, o navio é abandonado à própria sorte. Fica à deriva.
2 – Encontre o novo ponto de equilíbrio
Como já se passaram mais de 2 meses desde o início da
crise, agora já é possível ter alguma ideia de seu novo patamar de receitas
neste novo cenário. A grande maioria das empresas agora consegue saber o
tamanho da perda de faturamento que tiveram.
Diante desta nova realidade, a medida que se impõe é a
de ajustar os custos e despesas para que se enquadrem dentro desta nova
realidade.
Agora repare que só é possível fazer isso se existir um
fluxo de caixa completo e confiável do negócio. É preciso ter informações
claras e reais.
Além disso, pode ser interessante procurar vender o
estoque com algum desconto. Esta pode ser uma forma de conseguir antecipar
recursos para equilibrar o orçamento e muita renegociação com prestadores de
serviço e fornecedores também podem ser necessários nesse momento.
Pode ser que, mesmo depois dos ajustes, falte dinheiro
para pagar as contas. É aí que entram as possíveis ações que listarei a seguir,
começando pelos empréstimos.
3 – Empréstimos
Houve algumas medidas por parte do Governo para oferecer
ou facilitar linhas de crédito aos empresários.
Embora seja verdade que muitas das empresas ainda não
tenham conseguido dinheiro emprestado, algumas conseguiram condições
diferenciadas, com taxas de juros mais baixas, períodos de carência e prazos
dilatados para pagar.
Dentre as opções disponíveis, vale destacar as linhas de
crédito do BNDES, a criação do FAMPE (Fundo de Amparo à Micro e Pequena
Empresa), o empréstimo para folha de pagamento e, mais recentemente, o PRONAMPE
(Programa Nacional de Apoio à Micro e Pequena Empresa).
Outra ação que merece registro foi a prorrogação de
empréstimos.
4 – Prorrogação e redução de tributos
Ao longo deste período, o governo colocou em prática
algumas medidas para tentar ajudar alguns negócios. Uma dessas iniciativas foi
justamente a prorrogação de tributos e outros… Vamos reforçar algumas:
·
Isenção do IOF para novos
empréstimos;
·
Adiamento da Declaração Anual do
Imposto de Renda;
·
Prorrogação do SIMPLES Nacional;
·
Prorrogação de Parcelamento de
Dívidas com a Receita;
·
Prorrogação do recolhimento do
FGTS;
·
Redução das contribuições para o
“Sistema S”
5 – Benefício Emergencial de Proteção do Emprego e da
Renda (BEm)
Nesse mesmo período, o governo criou o BEm, com o
intuito de preservar empregos e evitar a dissolução de muitos negócios.
Este programa permite que as empresas reduzam ou
suspendam temporariamente a jornada de trabalho dos funcionários, dando uma
compensação monetária para os colaboradores por conta da perda salarial
proporcional nesses meses de crise.
Além
da gestão financeira…
É preciso ir além da gestão financeira! Temos que
admitir que as coisas mudaram, que o consumo mudou… Não dá para ficar parado
esperando que as coisas voltem a ser o que eram.
Muitas empresas precisam se reinventar para poder
atender ao que os consumidores estão precisando nesse momento.
Como já está bem claro, a grande maioria terá que
oferecer os seus produtos ou serviços por meio de plataformas de e-commerce,
oferecer cursos por EAD, ou trocar a produção de roupas por máscaras, por
exemplo.
Inclusive, muitos restaurantes da alta gastronomia, que
eram avessos ao delivery, tiveram que se render e passar a fazer entregas
também.
Não podemos ficar esperando passivos para ver como fica
a situação, é preciso se mexer e tentar novas maneiras de oferecer os seus
produtos e serviços.
É verdade que isso não é fácil para todos e, dependendo
da área da sua empresa, essa mudança para o online é muito mais complicada.
Como oferecer um corte de cabelo online, por exemplo?
Mas, para esses casos, também é possível tentar vender
vouchers de serviços para serem utilizados no futuro. Os amantes do seu
produto/serviço podem contribuir para que seu negócio não feche e lá na frente
poderão voltar ao consumo normal, quando a poeira baixar.
E
o que mais?
Pensando no tamanho do impacto da crise nas empresas,
encontrei uma pesquisa realizada pela “lowtoucheconomy.com” com 9 perguntas que
nos ajudam a compreender o tamanho do impacto da crise nas empresas (clique aqui para baixar o PDF da
pesquisa completa).
Vamos ver as 9 perguntas traduzidas para o português a
seguir, mas a ideia é tentar responder a cada uma das questões dando uma nota
de 1 a 5, sendo:
·
1 – não se aplica à sua empresa
·
5 – aplica-se (fortemente) à sua
empresa
Vamos lá…
1.
Pergunta 01 – Há necessidade de
contato físico entre cliente e colaboradores na operação do negócio?
2.
Clientes e colaboradores precisam
compartilhar os mesmos equipamentos ou objetos?
3.
Clientes e colaboradores precisam
compartilhar o mesmo espaço interno ou instalação?
4.
Os colaboradores trabalham em
grupos e ficam perto uns dos outros?
5.
Os clientes consomem seus produtos
ou serviços em grupo?
6.
Seus colaboradores ou clientes são
parte do grupo de risco (exemplo: idosos)?
7.
Seus clientes ou colaboradores
precisam viajar?
8.
Seu modelo de negócio depende da
cadeia de suprimento local ou internacional?
9.
A sua demanda foi afetada
negativamente pela pandemia?
E então? Qual foi o resultado encontrado?
Se você respondeu 1 ou 2 para todas as perguntas, sua
empresa pode adaptar-se à nova realidade com pequenos ajustes.
Se você respondeu algum 3, 4 ou 5, precisa agir! Isso
pode significar obstáculos significativos para o crescimento do seu negócio
nesse novo cenário.
Se, por outro lado, o somatório das respostas deu algo
superior a 25, será preciso redesenhar uma grande parte do seu modelo de
negócios e/ou modelo operacional para que se adapte.
Ao final, observe que quanto maior for o score, mais
rápido você precisará agir para sobreviver e, estar preparado para os choques
do mercado.
Leticia Camargo
| planejadora financeira pessoal e empresarial, professora de finanças e
palestrante.