Em 2006, dois importantes pensadores da internet fizeram uma aposta
(Yochai Benkler e Nicholas Carr).
O primeiro disse que a maior parte do
conteúdo postado nas mídias sociais seria produzida de graça, motivada apenas
pelo prazer e pela exposição.
Já o segundo disse que, no futuro, as principais
mídias sociais acabariam por pagar aos usuários pelo conteúdo que postam nelas.
Quem ganhou a aposta? Há até pouco tempo, Benkler vencia. Afinal, só um
grupo seleto de celebridades e influenciadores consegue ser pago por seus
conteúdos.
No entanto, há uma mudança sísmica em curso. Carr começa a ter
vantagem. Existe hoje toda uma nova geração de plataformas cujo mote é
justamente fazer com que os criadores de conteúdo sejam pagos, mesmo os
pequenos.
Vale lembrar que produzir conteúdo é sempre uma forma de trabalho. Muita
gente faz isso hoje de graça.
No entanto, esse trabalho cria valor que na
maioria dos casos é apropriado pela plataforma.
Isso está mudando. Novas
plataformas como OnlyFans, Patreon, Substack ou o game Roblox
cresceram justamente porque nelas os criadores podem ser pagos.
Para quem não conhece, OnlyFans, Patreon e Substack permitem que
qualquer usuário possa cobrar uma assinatura mensal (ou um valor individual)
para acessar seus conteúdos.
O serviço permite exibir fotos, vídeos e textos
que ficam trancados por um paywall (o famoso “só para assinantes”).
Desde 2016 o OnlyFans distribuiu mais de US$ 2 bilhões a seus usuários.
Até as antigas newsletters de email foram ressuscitadas.
Muitos dos conteúdos mais
interessantes da internet hoje estão no Substack, que permite criar newsletters
por email e cobrar pelo acesso.
Esses serviços concretizam a profecia que Kevin Kelly, outro pensador da
internet, fez anos atrás.
A de que qualquer pessoa com 500 fãs assíduos seria
capaz de viver deles, bastando que topem pagar algo como US$ 50 por ano para
acessar seus conteúdos.
Isso levaria a uma nova “classe média” de criadores
autônomos.
Claro que essa mudança está colocando uma pressão enorme nas
plataformas tradicionais.
Hoje, é comum esbarrar em contas no Instagram ou no
Twitter que são apenas “amostras” do conteúdo real, que migrou para o OnlyFans
ou para o Substack.
Com receio de virar apenas um mostruário, as plataformas
estão reagindo.
Por exemplo, várias estão começando a abrir o bolso.
O TikTok, por
exemplo, separou um fundo de US$ 2 bilhões para pagar a criadores. Plataformas novatas
como o Zynn foram direto ao ponto: contratam celebridades para se mudarem para
a plataforma, com salário e tudo. Já o Twitter copiou os concorrentes.
Anunciou
que vai criar um serviço de assinatura e
permitir que os tuiteiros mais populares cobrem pelas tuítes.
Todo esse movimento pode ser comparado ao que está acontecendo com os
serviços bancários: antes concentrados nos bancos, hoje estão sendo prestados
de forma desagregada por vários novos entrantes.
É também um triunfo do paywall. Os leitores que toda semana esbravejam
que não conseguem ler meus artigos porque não assinam a Folha em
breve vão esbravejar ainda mais.
A tendência é que tudo que seja relevante na
rede migre para dentro de um serviço de assinatura. Será o triunfo definitivo
da hashtag #sóparaassinantes.
RONALDO
LEMOS - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio
de Janeiro.
Coluna jornal FSP