Acordei com um e-mail do Gerald Thomas: "Oi, meu amor, fico
recebendo coisas do tipo: Marion te adicionou ao TWOO ou algo assim. O que vem
a ser isso? Love, J".
O Gerald, um internauta veterano, resolveu perguntar antes de
sair clicando no link que recebeu por e-mail. Fez bem.
Embora o e-mail tivesse até uma foto minha, não fui eu que
mandei.
Quem mandou foi um site maligno que funciona em 37 idiomas e
inferniza o público disparando e-mails a torto e a direito. Ele se aproveita
dos contatos do seu computador e do seu Facebook.
O site pertence à empresa belga Massive Media e diz atrair 9,6
milhões de pessoas por mês, citando dados da comScore de novembro do ano
passado.
Essa atração é feita com base em traição, o que não chega a ser
novidade na internet.
O principal executivo do Twoo, Lorenz Bogaert, prometeu corrigir
o "mal-entendido" quando foi questionado. Mas o problema persiste.
Mal tinha respondido ao e-mail do Gerald, recebo um outro com
logotipo do Serasa. Trazia um aviso eletrônico de multa do Detran em meu nome e
link para um boleto.
Estranhei. Daí me ocorreu pousar o cursor sobre o link enviado
para observar a URL que aparecia (aquele endereço eletrônico de um site).
Pronto: o endereço não era derivado da família de endereços do Serasa (www.serasa.com.br
ou www.serasaexperian.com.br).
Apaguei.
Há muitos anos não passo uma semana sem receber e-mails
maliciosos, em nome de bancos, empresas ou pessoas, conhecidas ou
desconhecidas, com pedidos ou convites, anexos ou links que nada mais são do
que armadilhas.
Segundo a multinacional de segurança Websense, baseada em San
Diego, Califórnia, apenas o envio de links maliciosos cresceu 600% no último
ano. Do total de e-mails em circulação, apenas 21,6% eram legítimos, sendo
76,4% deles spams (e-mails não solicitados), 1,6% phishing (tentativa de
recolher nome de usuário, senha ou dados de cartão de crédito) e 0,6% malware (software
malicioso).
Como sair ileso? Abrindo mão da curiosidade. Desconfiando de
tudo e de todos, especialmente de mensagens que não sejam evidentemente apenas
para você. Checando endereços antes de clicar em um link. Não abrindo nenhum
anexo a não ser aquele que você já estava esperando. Evitando aplicativos de um
modo geral, a não ser que sejam muito bem recomendados.
Vale fazer tudo isso? Não sei.
Fiquei pensando nos jovens que em vez de e-mail usam celular e
redes sociais. Lembrei que spam, links maliciosos e softwares maliciosos já
aparecem também em celular e redes sociais.
Fiquei matutando sobre quanto tempo e dinheiro gastamos para
driblar as arapucas da internet. Pensei no mote que parece ser: "Crie
problemas e venda soluções". Ou: "Crie pânico e venda
tranquilidade".
Lembrei da arquitetura da violência. Moro num condomínio que se
enche de grades e câmeras de segurança enquanto adolescentes são roubados e
mortos na calçada da frente. Pensei que as estatísticas servem para explorar o
medo e comercializar produtos. Não exatamente para melhorar serviços ou a
qualidade de vida das pessoas.
Marion Strecker - jornalista, fotógrafa e uma das pioneiras da internet no Brasil,
integrou o grupo de fundou o UOL e dirigiu sua equipe de conteúdo por quase 15 anos,
até fevereiro de 2011.
Fonte:
jornal Folha de São Paulo