Se a Reforma da Previdência em curso resolverá
parte do déficit público e será um sistema que proteja os idosos sem punir os
mais jovens, isso ainda não dá para saber. Mas uma coisa é certa! A pauta está
ganhando várias abordagens interessantes e isso, pela perspectiva da Comunicação
e Educação Previdenciária, além de inédito, pode ajudar a diminuir a
distância, desconhecimento, resistência e indiferença da sociedade em relação
ao planejamento do futuro.
No Brasil, jovem tem medo do futuro
Publicada pelo OESP, a matéria A geração que sabe o que vai mudar na Previdência, mas não quer pensarnisso mostra algumas pesquisas, realizadas por
diferentes instituições, que apontam para falha de Comunicação com as gerações
mais jovens. Apesar disso, segundo a FenaPrevi e o Instituto Ipsos, "62%
dos jovens entre 23 e 34 anos já ouviram falar a respeito de mudanças que o
atual governo pretende fazer nas regras da Previdência, número superior à média
geral (54%) e de grupos mais próximos de se aposentar, como a faixa de 50 a 59
anos (46%)".
Mesmo sabendo, o jovem ainda não quer parar para pensar em respostas ao
planejamento de longo prazo. Mas não é sem motivo. No Brasil, historicamente,
não há um ambiente estável o suficiente e incentivo para que o comportamento
seja diferente do consumo e do imediatismo. Não há cultura de poupança de longo
prazo. Em razão da crise econômica, em 2015 e 2016 o Banco Central registrou as
maiores evasões de recursos financeiros das cadernetas de poupança em toda sua
história.
Em países como Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Japão e Holanda, dos
jovens nascidos a partir de 1980 até a virada do século, 77% querem saber como
será sua aposentadoria. No Brasil, esse número é de 48%. Por não saber lidar
com a verdade, por medo do futuro, o jovem brasileiro prefere não saber como
será o futuro financeiro na terceira idade.
Sim, quando queremos, nós fazemos acontecer!
A segunda matéria que quero destacar aqui foi As quatro lições das Olimpíadas para a previdência brasileira,
publicada pela Mercer Gama. A análise mostra que é possível mudar uma realidade,
quando os interesses convergem. É possível fazer uma Comunicação de qualidade,
de respeito que mobilize o interesse coletivo. É possível encontrar soluções
locais, dialogando com modelos globais.
A Reforma da Previdência Social será uma janela de oportunidade? Ainda não
sabemos. Mas sabemos que podemos fazer história! Essa é uma oportunidade real
para o protagonismo. Isso é fato!
Portanto, quanto mais as análises, os comparativos, os pareceres, as
interpretações produzirem eco, melhor será o ambiente para que os jovens - já
sensibilizados pela mudança em curso - vençam o medo do futuro, da terceira
idade, do desamparo social, da exclusão, do preconceito. Tudo isso
não é fantasma! É realidade que pode ser transformada com coragem, responsabilidade,
consciência, envolvimento, com protagonismo.
No passado, nós não tínhamos o nível de orientação que hoje a Educação
Financeira e Previdenciária nos oferece. Hoje, temos o trabalho muito
competente de profissionais como Gustavo Cerbasi, Mara
Luquet, Samy Dana, Conrado Navarro, André
Massaro, Denise Campos de Toledo e tantos outros nomes
envolvidos com a superação desse desconhecimento pela sociedade, porque
interagem diariamente com o público pelo rádio, pela televisão, pelas redes
sociais, em palestras, em salas de aula.
O que eles fazem ainda não é suficiente. Mas é muito mais expressão,
envolvimento, movimento do que eu conhecia quando entrei no mercado de
trabalho.
FGTS para subsidiar a Previdência Complementar
Por enquanto, a notícia publicada pela Época Negócios - Governo Temer quer mudar regras do FGTS -
me parece ser uma das poucas a tratar de uma política pública de
incentivo à poupança de longo prazo. Há controvérsias sobre a utilização do
FGTS. Mas, ao menos, o texto aponta para uma conexão entre reforma e poupança
de longo prazo.
Ainda que as soluções para a poupança de longo prazo não estejam claramente
delineadas, ao menos elas estão em discussão e a mídia está registrando os
movimentos.
Aqui, acho melhor recorrer à literatura, para sustentar essa mudança.
O
livro O mito do governo grátis, de Paulo Rabello de
Castro, trata do tema:
"O
fato é que uma parcela significativa da poupança do trabalhador é arrecadada
pelo INSS e pelo FGTS. São recolhimentos compulsórios. Mais de 20% da renda
mensal do trabalhador brasileiro é desviada para a formação de uma 'poupança'
compulsória, - poupança entre aspas, porque a arrecadação previdenciária é
convertida em consumo pelos aposentados atuais, em função do regime em vigor,
de participação simples da receita do INSS. No caso do FGTS, o fundo até
existe, porém sem a participação decisória dos trabalhadores na direção da
aplicação dos recursos.[...] No futuro processo de acumulação de capital pela
população, o governo deixará de carregar passivos previdenciários que não
tenham lastro em ativos. Esta é a proposta em síntese. Só um governo grátis
deixa de formar reservas para honrar seus futuros compromissos. É,
infelizmente, o caso do Brasil atual (2014). O governo terá que renegociar sua
presença ineficiente como gestor nos recursos de seguridade social da
população. Em seguida, o governo terá que lastrear passo a passo, os direitos
previdenciários preexistentes, com ações e direitos reais, hoje em poder do
Estado, a serem incorporados à riqueza coletiva da sociedade [...]. O governo
diminuirá, então, sua exposição futura a novas obrigações sem lastro, usando
ativos existentes em seu balanço patrimonial para reduzir o passivo
previdenciário a descoberto no futuro". [p.440 e 441]
Previdência
está longe de ser um tema trivial.
Mas
- devidamente gerido - é um instrumento de geração de alto impacto social (para
o bem e para o mal). Por isso, exige empenho de todos.
De
quem tem medo.
De
quem sabe.
De
quem trabalha com no Sistema.
De
quem quer um futuro melhor.
Tudo
pode somar para que esse seja realmente um processo de evolução daquilo que
conhecemos. Daquilo que sabemos que não pode mais ser como é.
Eliane
Miraglia - mestre em Ciências da Comunicação,
especialista em Gestão de Processos Comunicacionais e consultora de
comunicação, tem participado em projetos com a Suporte Educacional.
Fonte: blog da Eliane: www.elianemiragliablogspot.com.br