Uma questão de imagem: como os brasileiros enxergam os fundos de pensão?


Concebidos com a finalidade de complementar a proteção oferecida ao trabalhador e sua família durante e após o período laborativo, os fundos de pensão brasileiros são regidos por uma das mais modernas e bem estruturadas legislações do mundo, integrando, juntamente com os regimes obrigatórios, um sistema previdenciário sólido e estabelecido em bases sustentáveis. Os benefícios sociais e econômicos trazidos pelos fundos de pensão para o país, enquanto instrumento de democratização do capital e de formação de poupança de longo prazo, são indiscutíveis.

Mas nem sempre os fundos de pensão são lembrados de maneira positiva. Em 15/11/13, oito das dez notícias mais relevantes do país sobre “fundos de pensão” associavam o sistema a fatores negativos, segundo pesquisa realizada no buscador Google. Encabeça este ranking a manchete “
Fundos de Pensão têm prejuízo de R$528 milhões” – Veja.com – 11/11/13, seguida por “Ministérios ignoram irregularidades em Fundos de Pensão” – Estadão, publicada no mesmo dia da anterior, ambas referindo-se aos recentes escândalos envolvendo os regimes próprios de previdência social, os quais, diga-se de passagem, nem são fundos de pensão. Em terceira posição, por ordem de relevância, está “Caso Aerus pode se repetir em outros fundos de pensão, alertam debatedores” – Agência Senado – 04/11/13.

De fato, o noticiário nacional parece ter se habituado a dar maior ênfase a escândalos e problemas ao mencionar os fundos de pensão e o predomínio de manchetes negativas pode ser um indicativo de que a imagem destes não anda bem perante a sociedade. Segundo Daniel Kahneman, em seu livro “Pensando, Rápido e Devagar”, a mídia privilegia, ao escolher suas manchetes, aquilo que ela entende estar atualmente na cabeça das pessoas. Por sua vez, as pessoas tendem a avaliar a importância relativa das situações de acordo com a facilidade com que as mesmas são lembradas em suas memórias – e isto é altamente determinado pela extensão da cobertura feita a respeito de um fato pela mídia. Assim, tópicos frequentemente mencionados são os mais lembrados pelas pessoas e, se há uma profusão de notícias ruins acerca de um determinado segmento, é possível que as pessoas possuam referências negativas sobre o mesmo.

E quão importante são questões como boa imagem e reputação para os fundos de pensão?
São, sem dúvidas, primordiais.

Os fundos de pensão são responsáveis por gerir mais de seiscentos bilhões de reais. Mais que isso: é neles que milhões de brasileiros depositam seus sonhos de uma aposentadoria tranquila. O vínculo existente entre o participante e o fundo de pensão que administra seu plano de benefícios é permeado, essencialmente, pela confiança. Quem entregaria seu dinheiro e seu futuro a uma instituição na qual não tivesse plena confiança, ou de cuja credibilidade e seriedade desconfiasse? Assim, uma imagem ruim pode levar uma pessoa a não aderir a um plano que lhe é oferecido; a não elevar seu nível contributivo tanto quanto lhe for possível, quando participante; e, até mesmo, a não permanecer no plano, quando opções que julgue mais atraente lhe forem oferecidas.

Pesquisas já realizadas no Brasil buscaram analisar o tema sob a ótica dos participantes. Dentre elas tem-se a “Fundos de Pensão na visão dos participantes”, realizada em 2009 com quase quarenta mil participantes pela então Towers Perrin, em parceria com a ABRAPP. Uma das principais conclusões da pesquisa foi que “as entidades precisam estar atentas aos itens acesso e credibilidade da entidade”, após apurar 25% de respostas desfavoráveis em pergunta acerca da qualidade da gestão dos fundos de pensão e respectivos planos.

Igualmente importante é saber qual a percepção das demais pessoas – não participantes – a respeito dos fundos de pensão. Infelizmente, sobre este tema, pouco se sabe, pela ausência de pesquisas direcionadas. Mas contamos com uma fonte atualizada de informação a respeito da visão das empresas, graças à pesquisa realizada neste ano pelo Ministério da Previdência Social, cujos dados prévios acabaram de ser divulgados no 34º Congresso dos Fundos de Pensão. Nela, dentre várias conclusões importantes, verificou-se que a maior parte das empresas que ainda não oferecem planos de previdência a seus empregados - e sabemos que há, no Brasil, milhares delas - optariam por aderir a planos de entidades abertas (oferecidos por bancos e seguradoras) ao invés de patrocinar planos de entidades fechadas (fundos de pensão). Seria esta uma consequência dos investimentos em publicidade e divulgação de produtos feitos pelas entidades abertas, que são notadamente maiores que os realizados pelos fundos de pensão?

A preocupação com imagem é comum aos sistemas de previdência complementar de outros países. Estudo divulgado em outubro deste ano pela Associação Nacional dos Fundos de Pensão do Reino Unido (NAPF, na sigla em inglês –
clique aqui para lê-lo), com participantes e não participantes, apontou um índice de confiança da ordem de 44% - o que indica que os outros 56% não confiam no sistema. O resultado, que a primeira vista não parece ser dos melhores, foi muito comemorado pelos especialistas locais, pois mostrou uma clara evolução em relação aos anos anteriores. É um fruto direto do amplo processo de comunicação em andamento no país, que até 2018 irá implementar a adesão automática para todos os trabalhadores do país.

Voltando para o Brasil: ainda nos faltam dados precisos e constantemente atualizados sobre o tema, mas é certo que imagem e reputação são elementos centrais para os fundos de pensão, assim como o são para qualquer outra organização, com ou sem fins lucrativos. São necessárias novas pesquisas para diagnosticar os níveis atuais em que o sistema se encontra, que ouçam, inclusive, aqueles que ainda não são participantes ou patrocinadores, a fim de identificar formas de atrair sua atenção e confiança. Em paralelo, deve-se investir em ações amplas e contínuas de comunicação, voltadas não apenas aos participantes e empregados de patrocinadores, mas sim à população em geral.

Saber qual a visão dos brasileiros acerca dos fundos de pensão e agir com base neste diagnóstico são elementos imprescindíveis para o fomento e para o crescimento do sistema. Enquanto tais ações se desenvolvem, todo esforço na divulgação dos fundos de pensão é bem-vindo.

Guilherme Brum Gazzoni
- Administrador, graduado pela Universidade de Brasília – UNB, com Pós-Graduado em Finanças pelo IBMEC, e Especialização em Entrepreneurship pela Babson College – Boston / Massachussets. É Diretor Administrativo e Operacional da GAMA Consultores Associados.

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