No Brasil, o corpo jovem e magro é extremamente
valorizado. Não é à toa que as brasileiras investem tanto tempo e dinheiro na
busca incessante de construir a aparência ideal. Elas consideram o corpo um
verdadeiro capital.
Quando pergunto o que as mulheres mais invejam nos
homens, elas respondem, categoricamente, liberdade, especialmente liberdade com
o próprio corpo.
Quando pergunto o que mais invejam nas mulheres,
elas dizem beleza, corpo, magreza, juventude e inúmeros aspectos relacionados à
aparência.
O que mais me preocupa neste culto ao corpo é o enorme sofrimento que ele
provoca nas mulheres, inclusive nas que são consideradas belas, jovens, magras
e atraentes.
Inúmeras pesquisas revelam que a brasileira é a
campeã na busca do "corpo perfeito": somos as primeiras ou segundas
(após os EUA) em número de cirurgias estéticas, as que mais desejam fazer
alguma plástica, as que mais deixam de ir a festas ou até mesmo ao trabalho por
se sentirem gordas e feias, as que mais pintam o cabelo, as que mais consomem
remédios para emagrecer, para dormir e antidepressivos etc.
Como disse uma professora de 45 anos, a valorização
da juventude só nos faz sentir, cada vez mais precocemente, velhas:
"Quando fiz 40 anos tive a maior crise da
minha vida. Descobri que sou uma mulher invisível, transparente, sem qualquer
tipo de beleza e sensualidade. Não tenho tempo para cuidar de mim, com tantas
obrigações com a casa, filhos adolescentes, marido, trabalho e ainda me sinto
culpada por não conseguir malhar e emagrecer. Estou exausta, deprimida,
irritada e não durmo direito. É uma luta diária com o meu corpo que só me traz
frustração e a sensação de que sou um fracasso como mulher".
A professora revela que algumas amigas são viciadas
em plásticas e fazem qualquer loucura para emagrecer: fumam, comem papinha de
bebê, tomam laxantes etc. Disse que existe uma espécie de
"gordofobia" e "velhofobia" ao seu redor.
Ela mostra a mesma angústia de inúmeras
brasileiras: "Como posso me sentir tão velha e acabada se só tenho 45
anos? Por que tanto sacrifício para conquistar um corpo que eu sei que é
impossível? Como posso lutar tanto por liberdade e ser prisioneira da
insatisfação com o meu próprio corpo?".
Mirian Goldenberg - antropóloga e professora da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autora de 'Coroas: corpo,
envelhecimento, casamento e infidelidade'.
Fonte: coluna jornal FSP