Você ainda vai comer insetos


Várias empresas startups estão surgindo nesse mercado da entomofagia.

Há pouco tempo uma amiga que mora no Brooklyn, em Nova York, me falou que tinha comprado "cricket flour" (farinha de grilo) para fazer cookies. A princípio achei que "grilo" se tratasse de uma nova marca, mas estava completamente enganado. Ele se referia precisamente à farinha —cada vez mais popular— feita dos abundantes insetos, sobre os quais pouca gente no Brasil pensa como comida.

O fato é que insetos estão lentamente se tornando a nova onda gastronômica no ocidente. Prova disso é que várias startups (muito bem financiadas) estão surgindo nesse mercado da entomofagia.


Lagartas de bambu fritas acompanham a salada com melancia, em restaurante que serve pratos finos com insetos, em Bangkok, na Tailândia

 

Um exemplo é a Aspire, que acaba de receber US$ 18 milhões em capital risco. Dentre seus produtos estão grilos, larvas e barras de proteína feitas de insetos comestíveis.

A irmã de Mark Zuckerberg, Arielle Zuckerberg, acabou de investir em duas empresas nessa área (Tiny Foods e Bitty Foods), ambas fabricantes de produtos à base insetos.

Basta um passeio rápido pela internet (e pelos principais supermercados de produtos orgânicos nos EUA) para ver a chegada desses produtos.

Quer fazer um lanche rápido à tarde? Que tal um saquinho de Wormbites, contendo larvas-de-farinha nos sabores churrasco, pimenta e original? Quem faz atividades físicas pode se interessar pela barra de grilos Chapul, que tem muito muito mais proteína por grama do que os suplementos tradicionais.

Para quem é gourmet, há o pacote de "Mixed Bugs", que vem com gafanhotos, bichos da seda, larvas e grilos.

Os rótulos são bem claros: nenhum desses produtos contêm glúten, aditivos, corantes ou alimentos geneticamente modificados. Além disso, a cada 10 gramas, 6 em média são de pura proteína.

Para quem está com o estômago revirado, vale lembrar: são 2 bilhões de pessoas no mundo hoje que comem insetos todos os dias como parte de sua alimentação básica, conforme relatório das Nações Unidas.

Mais do que isso, a alta-gastronomia descobriu há algum tempo esse nicho. Restaurantes que estão no topo da lista dos melhores do mundo, como o Noma em Copenhague, o Mi Tocaya em Chicago ou o D.O.M. em São Paulo têm pratos com insetos em seu cardápio.

A ONU publicou até o ranking dos insetos-comida mais populares. Em primeiro lugar estão os besouros, com 31%, seguidos das lagartas (18%), abelhas, vespas e formigas (14%). Gafanhotos e grilos vêm a seguir com 13%. As posições seguintes são ocupadas pelas cigarras, os cupins e as libélulas.

Do ponto de vista da sustentabilidade e da segurança alimentar insetos fazem todo sentido como comida. Por terem o sangue frio, convertem 10 vezes mais plantas em proteínas quando comparados com rebanhos tradicionais, além de consumirem pouquíssima água. Do ponto de vista nutricional são ricos também em ácidos graxos, açúcares e têm altas concentrações de vitaminas como B e K. Além disso são baratos. Uma barra de grilo custa cerca de US$ 2,60, um pouco menos do que barras tradicionais.

É claro que o aspecto cultural no ocidente torna o consumo de insetos praticamente um tabu entre nós. Mas as barras de proteína e a farinha de grilo adicionada a outros produtos (como bolos e cookies) funcionarão como a porta de entrada para a entomofagia ocidental.

Ronaldo Lemos  - advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro

Fonte: coluna jornal FSP

 

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