A tomada de três pinos, a Olimpíada,
a corrupção e a gastança pública
Pelo menos até agora, e apesar de
problemas com filas, transporte e alimentação, a #Rio2016 transcorreu
muito melhor do que os mais pessimistas temiam. A alegria e simpatia dos
cariocas e brasileiros cativou a maioria dos estrangeiros. Isto não significa
que algumas incongruências brasileiras não tenham causado situações embaraçosas
ou desconfortáveis. Um bom exemplo é a venda de adaptadores para nossas tomadas
de três pinos no mercadinho da Vila Olímpica exclusivamente em pacotes de dez
unidades por R$200,00 cada. Além de precisar comprar algo que só serve no
Brasil, os atletas não têm a opção de comprar um único adaptador e ainda são
forçados a pagar o dobro do preço usual.
Mas por que temos a tomada de três
pinos no Brasil? Pasme, mas a corrupção e a farra com o dinheiro público têm
muito mais a ver com ela do que você imagina. Para bancar a gastança, os
impostos no Brasil são muito altos, diminuindo o que sobra para as compras dos
brasileiros e aumentando os custos para as empresas. Além disso, para financiar
gastos públicos exagerados, o governo toma muito dinheiro emprestado. Como a
oferta de poupança no Brasil é baixa e a demanda grande, em função da ampla
necessidade de financiamento do setor público, o custo do dinheiro no país,
isto é, a taxa de juros, é muito elevada, penalizando mais uma vez empresas e
consumidores. Para completar, salvo durante crises de confiança no país, juros
elevadíssimos atraem muitos capitais estrangeiros, causando uma ampla oferta de
dólares por aqui, tornando a moeda americana no Brasil mais barata do que
deveria ser. Isto barateia produtos importados, o que seria bom para nossos
consumidores, mas dificulta a vida do produtor nacional.
Assim, altos impostos, juros elevados
e uma taxa de câmbio excessivamente apreciada – causados, entre outros fatores,
por gastos públicos excessivos - tornaram a indústria brasileira pouco
competitiva. Ao invés de lidar com as causas da baixa competitividade - o
excesso de gastos públicos, a burocracia, a má qualificação da mão de obra, a
falta de infraestrutura adequada e o baixo grau de automação - o governo Lula
tentou proteger nossa indústria artificialmente, aumentando tarifas de
importação e criando a tomada de três pinos. Assim, eletrodomésticos e
eletroeletrônicos comprados no exterior ficaram mais caros ou não funcionariam
no Brasil. Rapidamente surgiram os adaptadores, gerando um custo desnecessário
para nossos consumidores. Pelo menos, a indústria saiu fortalecida, certo? Não.
Seis anos depois, nossa indústria encolheu e, com frequência, o produto
nacional tem pior qualidade e é mais caro do que no exterior.
Ricardo Amorim - CEO na RICAM Consultoria e apresentador do
Manhattan Connection na Globonews.