No último dia 20 de julho, a Previc publicou o Informe
Estatístico Trimestral de março de 2016, documento que revela os principais
dados estatísticos das entidades e planos de benefícios do segmento de
previdência complementar fechada. Aproveitamos a divulgação, para analisar os
resultados alcançados pelas EFPC e planos no primeiro trimestre de 2016.
Quantidade de EFPC, planos e patrocinadores
O número de entidades não apresentou alteração no primeiro
trimestre, mantendo-se as 307 observadas ao final de 2015, o que é de certa
forma uma boa notícia, já que nos últimos anos a tendência neste caso tem sido
no sentido de redução das EFPC.
Ao observarmos os planos, também não houve muita alteração,
passando de 1.104 no fim de 2015 para 1.105 em março de 2016, variação
observada no tipo de patrocínio Instituído. A curiosidade nesta estatística
ocorre quando observamos a segregação dos planos por modalidade, pois ao
contrário do que se esperava, observamos uma elevação do número de planos em
Benefício Definido (BD) e redução dos planos em Contribuição Definida (CD). Não
houve alteração no número de planos em Contribuição Variável. Vejam os números
abaixo:
Quantidade de Planos por tipo de Patrocínio
4º Tri 2015
1º Tri 2016
INSTITUÍDO
63
64
PATROCINADO
1.041 1.041
TOTAL
1.104 1.105
Quantidade de Planos por Modalidade
4º
Tri 2015 1º Tri
2016
BD
323
328
CD
421
417
CV
360
360
TOTAL
1.104
1.105
A elevação do número de planos BD pode ser justificada por
eventual reclassificação e ajustes nos cadastros dos planos, ou mesmo pela
conclusão de processos de cisão de planos, já que certamente não devemos
observar criação de novos planos e crescimento, além do vegetativo, nesta
modalidade. Tal conclusão pode ser confirmada quando observamos que,
historicamente, os ativos patrimoniais correspondentes à modalidade de Benefício
Definido são os que têm apresentado menor crescimento, se comparado com os
ativos das demais modalidades.
Por outro lado, a redução do número de planos CD não significa,
necessariamente, encerramento de planos, via retirada de patrocínio. É bem possível
que a maior redução observada no trimestre seja justificada por processos de
incorporação ou fusão de planos, em face de estratégias previdenciais adotadas
pelas EFPC, que visam obter ganhos de escala e reduzir os custos
administrativos.
Apesar da baixa variação observada nas quantidades de EFPC e
planos, chama a atenção, o aumento no número de Patrocinadores: são 19 a mais
em março/16 comparativamente a dezembro/15. Interessante observar, ainda, que
este número é mais de 3 vezes maior do que o crescimento observado no 1º
trimestre de 2015, quando se observou uma elevação de 6 patrocinadores.
Primeiro trimestre de 2016 apresenta melhores resultados do que
2015
Em termos de ativos totais as entidades fechadas apresentaram um
crescimento de 4,40% no 1º trimestre de 2016, ultrapassando a marca de R$ 750
bilhões. Para fins comparativos, no primeiro trimestre de 2015 o crescimento
dos ativos das EFPC foi de apenas 2,53%, menor inclusive que a inflação
acumulada no período (IPCA de 3,83% de jan a mar/2015). Esse resultado
certamente é influenciado pela melhoria do cenário econômico, que tem
propiciado melhores resultados nos investimentos das EFPC.
ATIVO TOTAL DAS EFPC – 1º TRI 2016 (em milhares)
IPCA no período
4º Tri
2015 1º Tri
2016 Var %
INSTITUÍDO 3.249.260
3.463.898 6,61%
2,62%
PRIVADO 271.965.794
283.169.087 4,12%
PÚBLICO 445.365.842
465.669.193 4,56%
TOTAL
720.580.896 752.302.178
4,40%
ATIVO TOTAL DAS EFPC – 1º TRI 2015 (em
milhares) IPCA no período
4º Tri
2014 1º Tri 2015
Var %
INSTITUÍDO 2.516.521
2.690.845
6,93%
3,83%
PRIVADO 250.588.946
258.621.820 3,21%
PÚBLICO 451.069.899
460.662.601 2,13%
TOTAL
704.175.366 721.975.266
2,53%
Nesta análise da variação dos Ativos das EFPC, quando verificada
a abertura por tipo de patrocínio, é interessante observar o fato de que os
Instituídos foram os únicos que apresentaram piora do 1º trimestre de 2015, se
comparado ao 1º trimestre de 2016. Isto certamente motivado pelo fato de que os
planos de instituidores são mais jovens que os planos patrocinados, e, por
isso, seu crescimento depende mais do volume de contribuições e menos do
retorno dos investimentos. Em outras palavras, espera-se que seu crescimento
seja menos influenciado por variações no cenário econômico.
Observando o lado do passivo atuarial, não houve variação
significativa em relação às provisões matemáticas totais, tendo sido observada
uma variação menor no 1º trimestre de 2016 (3,23%) do que no 1º trimestre de
2015 (3,76%). O resultado que merece maior destaque é o crescimento das
provisões a constituir, que passaram de R$40,99 bilhões, em dez/15, para
R$44,79 bilhões, em mar/16, uma variação de 9,27%, justificada pela implantação
dos planos de equacionamento relativos aos resultados de 2014 que foram
aprovados e implementados no primeiro trimestre de 2016, conforme facultou a
Portaria Previc nº 699/2015.
Por fim, em relação à solvência dos planos de benefícios,
observamos uma variação do resultado consolidado, reduzindo o déficit total de
R$64,06 bilhões, em dez/15, para R$57,72 bilhões, uma variação negativa de
9,9%, que pode revelar mais um indício de melhoria do cenário em 2016 em
relação ao que se observou em 2015.
Contudo, se avaliarmos apenas os planos deficitários,
identificamos que o resultado passou de R$77,84 bilhões para R$73,31 bilhões,
uma redução do déficit total de aproximadamente R$4,53 bilhões. Se
confrontarmos essa informação com as variações das provisões matemáticas,
identificamos que a redução do déficit no trimestre pode ser justificada, quase
que exclusivamente, pelos planos de equacionamento iniciados no período, já que
a elevação das provisões a constituir (conta contábil onde se reconhece o
equacionamento do déficit e consequentemente contribui para a redução do
resultado deficitário) foi de aproximadamente R$3,80 bilhões no mesmo período.
Dessa forma, podemos concluir que no primeiro trimestre de 2016, apesar das
melhorias significativas nas estatísticas das EFPC e seus Planos, ainda não é
possível, por exemplo, observar reversões significativas dos resultados
deficitários por ganhos atuariais alcançados pelo retorno dos investimentos no
período.
Ainda assim, vale ressaltar que o cenário esperado para o fechamento
de 2016 é melhor do que o observado em 2015. Além da esperada melhoria no
cenário econômico até o fim deste ano, devemos observar os resultados das EFPC
sendo influenciados por mudanças na precificação dos passivos, motivadas
principalmente pela possível elevação da taxa de juros atuarial (limites
máximos maiores) e a implantação de novos planos de equacionamentos, relativos
aos resultados deficitários de 2015, que precisam ser aprovados até o fim de
2016.
Frederico Schulz Diniz Vieira – atuário, pós-graduando
em Finanças, membro do Instituto Brasileiro de Atuária e Membro da comissão de
Entidades Fechadas do Instituto Brasileiro de Atuária. É Supervisor Atuarial da
MERCER GAMA
Fonte: newsletter MERCER GAMA