Eu não pretendo morrer, mas...
Plano de se
aposentar tem que refletir nos investimentos, ainda que pouquíssimos
investidores façam isso
Eu, particularmente, não pretendo morrer, mas os especialistas
dizem que isso acontecerá em algum momento, mesmo com a saúde em dia.
Em caso
de eu seguir evitando fatalidades, haverá o momento de botar o pé no freio em
relação ao trabalho —por necessidade, digo.
É óbvio que esse plano tem que refletir nos meus
investimentos, mas pouquíssimos investidores fazem essa conta.
Não é exagero.
Segundo a pesquisa "Raio-X do Investidor Brasileiro",
feita pelo Datafolha para a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos
Mercados Financeiro e de Capitais), só 2 a cada 10 pessoas não aposentadas
fazem reservas pensando na aposentadoria.
Nesse mesmo grupo, praticamente 7 a cada 10 querem
se aposentar "entre 50 e 69 anos", ainda que o dobro disso (14%) não
saiba dizer qual será sua fonte de renda para a aposentadoria.
A crendice
popular sopra no ouvido dos incautos que o socorro virá da Previdência pública,
do INSS…
Uma reportagem publicada no O Globo na última
semana dá um banho de água gelada nessa ideia.
Segundo o texto, a relação entre
o número de contribuintes e beneficiários da previdência está caindo de forma
drástica no Brasil.
Pelas projeções, em 2070, teremos praticamente um
beneficiário por contribuinte. Hoje a relação é de 1 para 4.
Não há reforma ou cálculo que ajuste isso de
maneira a pagar uma boa quantia para quem reduz a marcha.
Hoje, a média de
idade de aposentadoria no país está na casa dos 62 anos.
Adiar isso ainda mais
também não parece muito satisfatório para os envolvidos.
Essa insegurança em relação ao futuro é um dos
fatores para o salto na quantidade de fundos de previdência privada que
vimos nos últimos anos.
O número mais do que dobrou, de 2020 para cá, saindo de
2.083 aos atuais 4.262, segundo levantamento feito pela consultoria Elos Ayta.
Os governos têm se empenhado em deixá-los mais
atraentes para quem busca rentabilidade.
Mudanças regulatórias que começaram em
2015 e avançaram em 2019 trouxeram flexibilidade para as aplicações, diminuindo
obrigações, que, para gestores, deixavam esse tipo de fundo muito
"amarrado".
Não à toa, os fundos multimercado hoje representam
65% do total de fundos de previdência disponíveis.
"Com os novos produtos
que surgiram, é possível fazer um portfólio completo só com fundos de
previdência, compostos por ações, investimento no exterior, renda fixa e
até mesmo criptomoedas", como ouvi de Bruno Mérola, analista de fundos da
Empiricus Research.
Novas mudanças, que entraram em vigor no fim do ano
passado, liberaram também a criação de diferentes classes de cotas dentro de um
mesmo fundo, permitindo maior personalização de produtos para diferentes perfis
de investidores.
Como já está em pauta no Legislativo a incidência
de imposto sobre herança (ITCMD) na transmissão da previdência privada, é
provável que a corrida por esse veículo aumente nos próximos meses.
Aliás, o Judiciário tem discutido também se, em
caso de morte, esse tipo de investimento ainda vai direto para os
beneficiários, sem passar pelo inventário.
Talvez, antes de mais taxações e
decisões, este seja o momento certo para se planejar para o destino que todos
buscamos evitar.
MARCOS
DE VASCONCELLOS - jornalista, assessor de
investimentos e fundador do Monitor do Mercado