O joio é um vegetal
parecidíssimo com o trigo, que nasce nos mesmos lugares. Só que, em vez de
benéfico, é daninho. Quem planta trigo precisa separar o joio, para não
estragar a colheita. Quem faz jornalismo, também – embora um intelectual e
político americano, Adlai Stevenson, duas vezes candidato à Presidência (e duas
vezes derrotado), costumasse dizer que a função de um editor é separar o joio
do trigo, e publicar o joio.
No
fundo, esta é a questão por trás do SwissLeaks, os vazamentos suíços de contas
bancárias do HSBC. Há 8.667 brasileiros na lista, cujas contas na Suíça
alcançam algo como US$ 8 bilhões. A lista, apurada pelo Consórcio Internacional
de Jornalistas Investigativos (ICIJ), já é conhecida; no Brasil, está em poder
de um integrante do ICIJ, o repórter Fernando Rodrigues (http://fernandorodrigues.blogosfera.uol.com.br/).
Por que não é divulgada?
A questão, como tudo
atualmente na política brasileira, já se transformou em teoria conspiratória:
ou o governo quer usar os nomes da lista para abafar a repercussão das
denúncias de políticos no caso do petrolão, que atingiriam em cheio a base de
apoio da presidente Dilma Rousseff; ou o PSDB, preocupado com seus aliados e
financiadores que estão na lista, tenta abafá-la, para protegê-los, para isso
usando seus contatos na imprensa.
Ambas as versões são
ofensivas para Rodrigues; ambas são falsas. O problema é que, na lista dos que
aplicaram no HSBC suíço, há brasileiros que fizeram depósitos regulares,
declarados, plenamente legais; e a eles provavelmente se misturam os que usaram
os serviços do banco para ocultar rendimentos, fugir de impostos, lavar dinheiro
e sabe-se lá mais o que. Divulgar a lista inteira significa não apenas
injustiçar, mas também causar prejuízos financeiros, comerciais e morais a
todos os citados que estejam dentro da lei. Fernando Rodrigues adotou o caminho
mais técnico: submeteu os nomes às autoridades financeiras, para que cruzem as
informações e informem que está na legalidade e quem apenas oculta rendimentos.
Receita Federal, Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF),
autoridades monetárias em geral têm bom material para trabalhar. Que se
manifestem, pois, o mais rapidamente possível.
E, enquanto isso, a demagogia
come solta. Um repórter anunciou amplamente que está deixando o ICIJ pela
demora na divulgação da lista dos SwissLeaks. Só que ele havia deixado o ICIJ
há muitos anos. Outros jornalistas publicam nomes que eventualmente até possam
estar no SwissLeaks, mas que na verdade apareceram em um vazamento anterior, há
alguns anos.
Enfim, se há demora na
divulgação correta dos nomes de pessoas que utilizaram os bons serviços e a
perícia do banco para cometer atos ilegais, isso não se deve ao repórter: quem
deve se manifestar, já que são as únicas em condições de cruzar os dados, são
as autoridades brasileiras.
Mãos à obra!
E, sem dúvida, a imprensa só
teria a ganhar esquecendo o clima de partidarização que parece contaminar
praticamente tudo neste país.
Carlos
Brickmann - jornalista e diretor
do escritório Brickmann&Associados Comunicação,
Fonte: site Observatório da Imprensa