O Caso HSBC - 3 Análises Distintas: 2. O joio e o trigo


O joio é um vegetal parecidíssimo com o trigo, que nasce nos mesmos lugares. Só que, em vez de benéfico, é daninho. Quem planta trigo precisa separar o joio, para não estragar a colheita. Quem faz jornalismo, também – embora um intelectual e político americano, Adlai Stevenson, duas vezes candidato à Presidência (e duas vezes derrotado), costumasse dizer que a função de um editor é separar o joio do trigo, e publicar o joio.

No fundo, esta é a questão por trás do SwissLeaks, os vazamentos suíços de contas bancárias do HSBC. Há 8.667 brasileiros na lista, cujas contas na Suíça alcançam algo como US$ 8 bilhões. A lista, apurada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), já é conhecida; no Brasil, está em poder de um integrante do ICIJ, o repórter Fernando Rodrigues (http://fernandorodrigues.blogosfera.uol.com.br/). Por que não é divulgada?

A questão, como tudo atualmente na política brasileira, já se transformou em teoria conspiratória: ou o governo quer usar os nomes da lista para abafar a repercussão das denúncias de políticos no caso do petrolão, que atingiriam em cheio a base de apoio da presidente Dilma Rousseff; ou o PSDB, preocupado com seus aliados e financiadores que estão na lista, tenta abafá-la, para protegê-los, para isso usando seus contatos na imprensa.

Ambas as versões são ofensivas para Rodrigues; ambas são falsas. O problema é que, na lista dos que aplicaram no HSBC suíço, há brasileiros que fizeram depósitos regulares, declarados, plenamente legais; e a eles provavelmente se misturam os que usaram os serviços do banco para ocultar rendimentos, fugir de impostos, lavar dinheiro e sabe-se lá mais o que. Divulgar a lista inteira significa não apenas injustiçar, mas também causar prejuízos financeiros, comerciais e morais a todos os citados que estejam dentro da lei. Fernando Rodrigues adotou o caminho mais técnico: submeteu os nomes às autoridades financeiras, para que cruzem as informações e informem que está na legalidade e quem apenas oculta rendimentos. Receita Federal, Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), autoridades monetárias em geral têm bom material para trabalhar. Que se manifestem, pois, o mais rapidamente possível.

E, enquanto isso, a demagogia come solta. Um repórter anunciou amplamente que está deixando o ICIJ pela demora na divulgação da lista dos SwissLeaks. Só que ele havia deixado o ICIJ há muitos anos. Outros jornalistas publicam nomes que eventualmente até possam estar no SwissLeaks, mas que na verdade apareceram em um vazamento anterior, há alguns anos.

Enfim, se há demora na divulgação correta dos nomes de pessoas que utilizaram os bons serviços e a perícia do banco para cometer atos ilegais, isso não se deve ao repórter: quem deve se manifestar, já que são as únicas em condições de cruzar os dados, são as autoridades brasileiras.

Mãos à obra!

E, sem dúvida, a imprensa só teria a ganhar esquecendo o clima de partidarização que parece contaminar praticamente tudo neste país.

Carlos Brickmann - jornalista e diretor do escritório Brickmann&Associados Comunicação,

Fonte: site Observatório da Imprensa

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