Nos últimos dois dias úteis (17 e 18 de maio) o site da
plataforma do Tesouro Direto suspendeu as operações devido à intensa
volatilidade do mercado. A variação nos preços dos títulos, chamada de
volatilidade, já estava maior no último mês, mas se intensificou após a surpresa na decisão do COPOM (Comitê de Política Monetária) em manter as taxas de juros. Acumulando perdas
recentes, vários investidores sofrem com a incerteza nos mercados e se
questionam se vale trocar seus títulos por aplicações mais conservadoras.
Avaliando a tabela abaixo, é possível ver que 9 dos 10 títulos
públicos federais disponíveis para venda na plataforma do Tesouro direto
apresentam retornos negativos nos últimos 30 dias. Um dos títulos mais
procurados pelos investidores, o Tesouro IPCA+2035 apresentava um desempenho de
-5,28%. Isso quer dizer que se investiu R$1 mil há 30 dias, hoje teria menos de
R$950. O título que apresentou a maior queda foi o com vencimento de 2045 que
se desvalorizou quase 9% em trinta dias.
Retorno dos últimos 30 dias dos
títulos disponíveis a venda na plataforma do Tesouro Direto. (Fonte: Tesouro
Direto)
Se você comprou esse título com vencimento em 2035 há um mês, o
adquiriu a uma taxa de 5,30% ao ano +IPCA. Assumindo uma taxa de administração
da corretora igual a zero e a taxa da CBLC de 0,30% ao ano, seu retorno será de
5% ao ano +IPCA, caso não o venda antes do vencimento. No entanto, será que
essa é uma aplicação que ganha do CDI?
O gráfico abaixo apresenta a evolução do retorno dos últimos 12
meses do CDI (linha pontilhada laranja) e de uma aplicação que rende IPCA+5% ao
ano (linha sólida azul) desde 2001. Perceba qua a linha azul permanece acima da
laranja no período de 2009 a 2016, ou seja, nesse período uma aplicação que
rende IPCA+5% ao ano ganhou do CDI. No entanto, desde 2016, o retorno do CDI
nos últimos 12 meses superou uma aplicação que rende IPCA+5% ao ano. Isso
ocorreu, pois o IPCA recentemente foi surpreendentemente baixo.
Evolução do retorno de 1 ano do CDI
e de uma aplicação que rende IPCA+5% ao ano.
Avaliando o gráfico abaixo que apresenta a evolução do juros
real implícito no retorno do CDI, ou seja, o retorno do CDI subtraído do IPCA,
verifica-se que ele esteve bem mais elevado no período anterior a 2009.
Entretanto, a média do juros real após 2009 é de cerca de 4,2% ao ano. Considerando
o CDI atual de 6,4% ao ano e que ele permaneça nesse patamar por mais doze
meses, o juros real implícito será próximo de 2,5% ao ano. Assumindo uma
inflação de 5% ao ano, o CDI poderia subir para 10% ao ano e sua aplicação
ainda seria rentável se a mantivesse até o vencimento.
Evolução do juros real dos últimos
12 meses implícito na rentabilidade do CDI (CDI – IPCA).
Portanto, se adquiriu um título de longo prazo com juros real
acima de 5% ao ano e pretende carregar o título até o vencimento, a maior
probabilidade é que será um bom negócio. Entretanto, prepare-se para suportar
volatilidade no meio do caminho.
Michael Viriato - professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do
Investidor.