O O maior gasto anual da nação – R$ 400 bilhões – é com benefícios
do INSS. Além disso, faltam R$ 50 bilhões para fechar a conta do ano, 70% dos
aposentados e pensionistas ganham só um salário, os que ganham mais que isso
reclamam do reajuste anual e os patrões acham a alíquota de 20% muito alta.
Resumo: ninguém está contente com a Previdência Social e a situação só vai
piorar, pois não há como agir contra a evolução demográfica, que nos dará mais
idosos e menos trabalhadores para pagar as aposentadorias no futuro.
Todos os presidenciáveis se engasgaram quando perguntados se vão
acabar com o fator previdenciário. Sabem por quê? Porque todos eles sabem que
não há como acabar com o fator. Já que não há idade mínima para se aposentar no
Brasil, o fator foi criado para desestimular as pessoas a se aposentarem em
idade precoce. A fórmula combina o tempo, a alíquota de contribuição, a idade e
a expectativa de sobrevida. Se o homem contribuiu durante 35 anos – que é a
única carência –, ele pode se aposentar, mas se o fizer com pouca idade ainda
terá décadas pela frente recebendo aposentadoria, e o valor será pequeno. Já se
ele contribuir por mais tempo e se aposentar com mais idade, a sua poupança
previdenciária hipotética no INSS será maior e, como a sobrevida até a morte
será de menos anos, a aposentadoria fica maior.
Perceberam? Não existe mágica. Recebe-se
aquilo que contribuiu dividido pela expectativa dos anos de vida que se tem
pela frente. E o trabalhador escolhe quando parar. Se caísse o fator, viria a
idade mínima, o que é pior, pois aí o trabalhador não teria escolha.
Embora pareça que não há solução, vou
ajudar a presidente com uma saída viável e que agradará a todos que tenham bom
senso de ceder um pouco em suas reivindicações. Primeiro: o INSS pagará, no
máximo, três salários mínimos para quem entrar no mercado de trabalho agora;
para estes e para suas empresas, cai pela metade o valor da contribuição
social. A outra metade, obrigatoriamente, irá para uma previdência privada de
livre escolha do trabalhador. Parte desta previdência será canalizada para aplicação
em títulos governamentais de longo prazo (sem poder ser sacada antes do
vencimento) que paguem a inflação mais uma rentabilidade real. Investimento sem
risco para o trabalhador. E isso ajuda a financiar a perda de receita do INSS e
o processo de transição.
Segundo: permite-se que parte do FGTS do
trabalhador seja depositado em uma previdência privada. No início, uma
porcentagem pequena, que vai crescendo ao longo do tempo.
Terceiro: acaba a pensão de 100%. Será
proporcional ao número de dependentes. E jovens viúvas e viúvos receberão só
por um tempo, até se inserirem no mercado de trabalho, para não se acomodarem.
Garanto que as contas se equilibrarão no futuro, a poupança interna e os
investimentos crescerão e os privilégios diminuirão.
Quanto aos atuais aposentados e
pensionistas que querem a extinção do fator previdenciário, eu pergunto: acham
mesmo que um regime de previdência deficitário há 20 anos pode melhorar
aposentadorias ou diminuir contribuições? Pergunto, ainda, se com o aumento da
longevidade – só nos últimos 13 anos aumentou em cinco anos a expectativa de
vida – há possibilidade de as pessoas continuarem a se aposentar, em média, aos
53 anos, depois de contribuir por 35 anos, e ficar outros 32 anos aposentados?
Pois bem, há uma forma de não prejudicar
ninguém; nem trabalhadores, nem governo. Eu manteria o fator previdenciário,
mas o usaria a favor do trabalhador: após aposentar-se, se ele continuar
trabalhando e contribuindo para o INSS, a cada cinco anos poderia requerer a
desaposentadoria e aumentar o benefício. Aliás, é direito dele receber tudo o
que contribuiu ao INSS. Simples assim. Como dizia Confúcio, “enquanto a luz não
chega, acendemos uma vela na escuridão”.
Renato
Follador - especialista em previdência social, pública e privada.
Fonte: jornal Gazeta do Povo / PR