As promessas da Web 3.0
Brasil
tem chance de ser competitivo globalmente na nova geração de serviços da
internet.
Para o bem ou para o mal, um dos temas mais falados
de tecnologia atualmente é a chamada Web 3.0.
O termo significa a nova
geração de serviços da internet que serão construídos em cima de tecnologias descentralizadas, como a diversas blockchains existentes.
Só
lembrando, as blockchains permitem a existência das moedas virtuais, que não
são propriedade de nenhuma empresa específica.
A ideia é que, se é possível criar moedas
descentralizadas, é possível também criar outros serviços descentralizados,
tais como aplicativos de entrega de comida, transporte e
música, games, fintechs, redes sociais, identidades
digitais, streaming e assim por diante.
Essas aplicações não pertenceriam a nenhuma empresa
especificamente, mas seriam operadas por meio de contratos inteligentes
autônomos que se autoexecutariam, distribuindo dinheiro automaticamente na
medida em que as tarefas são executadas.
Seria uma espécie de "internet
dos serviços", em que serviços estariam programados na própria rede, em
vez de serem intermediados por uma empresa.
As
críticas à Web 3.0 têm sido também violentas.
O professor da NYU Scott Galloway
escreveu um artigo afirmando que a promessa de descentralização não acontecerá.
Na visão dele, novos intermediários vão surgir, gerando de novo um movimento de
recentralização.
Concentração e desigualdade permaneceriam.
Para outros, a Web
3.0 seria só uma jogada de marketing para inflar expectativas sobre os mercados
de blockchain.
Seja
o que for, para um país como o Brasil, é preciso pensar friamente sobre o que
queremos da Web 3.0.
Se o modelo for para a frente mesmo, o país pode ter uma
oportunidade de participar de um movimento de inovação desde o surgimento da
sua infraestrutura básica.
O
Brasil tem mais chance de ser competitivo globalmente na Web 3.0 do que no
chamado metaverso.
Por exemplo, o país possui projetos
de blockchain estruturantes como a Hathor (criada no Instituto Militar de
Engenharia) e também linguagens de programação poderosas inventadas aqui, como
a Lua (desenvolvida na PUC-Rio), que podem criar ecossistemas globais de
serviços da Web 3.0.
Já o
metaverso é uma inovação que acontece no topo de uma série de camadas que já
estão com jogo definido.
Para que o metaverso funcione, é preciso, por exemplo,
conectividade global de alta velocidade, servidores capazes de rodar e
armazenar dados e, também, milhões de linhas de código que na sua grande
maioria são "proprietárias", isto é, precisam de permissão dos donos
para serem usadas.
Dificilmente
o metaverso será rodado em servidores brasileiros e dificilmente o país terá
acesso viável economicamente às linhas de código necessárias para criar
aplicações globais competitivas.
A Microsoft, por exemplo, acaba de pagar US$ 75 bilhões (R$ 414 bilhões) pela empresa de
games Activision, justamente para ter acesso aos
códigos e outros bens intelectuais da companhia.
Na
Web 3.0, esse jogo não está jogado.
Aplicações criadas em plataformas
brasileiras podem sim ganhar escala global. Por isso, precisamos de um
planejamento como país do que queremos da Web 3.0.
A alternativa de não fazer
nada tem resultado conhecido: o país continuar como consumidor e não como
produtor de inovação.
RONALDO
LEMOS - advogado,
diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.