O urso chegou e a Petrobras virou a Geni.
Em
meio a cenário preocupante e investidores estrangeiros ressabiados, dois
principais candidatos à Presidência atacam estatal.
É oficial. O urso ganhou a briga pelo mercado e,
com sua patada, derrubou de bancos a criptomoedas.
Chama-se "mercado do
urso", ou "bear market", o momento em que ficam claros o
pessimismo do mercado e a tendência de queda dos papéis negociados em Bolsa.
O principal selo de um "bear market" é a
queda de mais de 20% em índices amplos, ou seja, aqueles que reúnem papéis de
diferentes setores para dar um retrato geral do mercado (como o Ibovespa).
E foi no último dia 13 que o S&P 500, índice
que reúne as 500 maiores empresas com ações negociadas na Bolsa de Nova York e
na Nasdaq, conseguiu a façanha de registrar uma pontuação mais de 20% abaixo de
seu topo, atingido na virada do ano.
Já o nosso Ibovespa mergulhou abaixo dos 100 mil pontos
na última sexta (17), o que dá um tombo de praticamente 18% desde o
dia 1º de abril e de mais de 23% desde seu topo, de junho de 2021.
O ponto crucial para entender esse tipo de período é que,
enquanto ele durar, mesmo ações de empresas que divulguem bons resultados,
grandes novidades e ótimas perspectivas podem continuar caindo, porque o
chamado "sentimento do mercado" é pessimista.
A boa notícia é que os "bear markets" costumam ter
duração curta. Bem mais curta do que os "bull markets", períodos
otimistas, em que os preços sobem.
Um levantamento da gestora americana First Trust, que vasculhou
o comportamento do S&P 500 de 1942 a 2022, mostra que a duração média de um
"bear market" é de 11,3 meses, com perda acumulada de, em média,
32,1%. Já os "bull markets" costumam durar 4,4 anos, com ganhos
acumulados de 154,9%.
Para quem investe pensando no longo prazo, o urso pode trazer
bons presentes, como ações mais baratas de empresas confiáveis e prósperas, mas
causar ansiedade aos investidores, mesmo mais experientes, por verem o preço de
seus papéis derreterem dia após dia.
Na busca dos governos por reduzir a inflação com o
aumento das taxas de juros, é mesmo parte do plano refrear a economia. E isso
passa por colocar água no chope de investidores.
Como a explicação é dura, chata e lógica demais,
candidatos à eleição e à reeleição presidencial resolveram que a culpada da vez
é a Petrobras.
Os arroubos irritadiços de Jair Bolsonaro contra a petroleira estão dominando
o noticiário e gerando ainda mais insegurança nos investidores em relação às
interferências do governo na empresa, o que derruba o preço das ações.
Ao mesmo tempo em que condena seus lucros, fala
sobre a função social da empresa e culpa sua administração pela alta dos
combustíveis, o governo federal se esforça para colocar a Petrobras no plano de
privatizações.
O esforço retórico para defender função social e a privatização
concomitantemente impressiona.
Transparência nunca é demais. Vale lembrar que a
última grande investigação sobre a Petrobras começou há cerca de oito anos e
ganhou o apelido de operação "Lava Jato".
A operação teve como um de seus desdobramentos
inclusive a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva, que hoje busca voltar à
Presidência.
Em seu esboço de programa de governo, que foi a
público no último 6, o candidato petista diz que a petroleira "será colocada de novo a
serviço do povo brasileiro e não dos grandes acionistas estrangeiros".
Assim, em meio a um cenário preocupante, que pode
afastar ainda mais investimentos estrangeiros do Brasil, os dois principais
candidatos à Presidência alimentam a fantasia de que a maior empresa do país
(em receita) é uma Geni, feita para apanhar, boa de cuspir e que poderiam salvar
a todos, bastando topar o que lhe pedem "o prefeito, de joelhos, o bispo,
de olhos vermelhos, e o banqueiro, com um milhão".
O investidor que acredita que há soluções simples
para problemas complexos costuma terminar seus dias no vermelho, por não se
proteger das inúmeras variáveis do mercado.
MARCOS
DE VASCONCELLOS - jornalista,
assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado