Classe média está cada vez mais distante dos aviões
Passagens
aéreas tiveram alta de quase 60% em um ano.
Nos céus do Brasil do caos econômico e social, não
foi o piloto que sumiu, e sim os direitos e a renda do consumidor que viraram
fumaça.
A classe média está perdendo a opção de transporte aéreo. Quem pretende
viajar de avião no final do ano ou nas férias de verão deve pesquisar muito e
comprar sua passagem com a maior antecedência possível, porque os preços subiram quase 60% em um ano.
Quem tiver condições físicas de suportar várias
horas de estrada talvez possa encarar uma longa viagem de ônibus. Mas nem
sempre esta é uma opção, em função da saúde e dos prazos da viagem.
É uma situação que só irá melhorar com estabilidade
política e uma gestão pública ao menos razoável, que façam as cotações do dólar
cair.
Também com mais concorrência, porque três empresas dominam o mercado
–Azul, Gol e Latam. Mais recentemente, a Itapemirim, do transporte rodoviário de
passageiros, passou a disputar este mercado.
Longos trajetos em outros países costumam ser
servidos por bons trens de passageiros, mas isso não ocorre no Brasil. Seria
uma excelente e confortável opção, mas não é. Também utilizamos muito mal o
modal hidroviário.
Além disso, é uma ironia que cidadãos e cidadãs,
que subsidiaram as companhias aéreas nestes meses de pandemia, agora tenham
grandes dificuldades para receber o reembolso do que pagaram por voos
cancelados.
Subsidiaram porque o apoio às companhias aéreas foi
feito com o bolso dos passageiros.
Medida provisória, que depois virou
lei, deu até 12 meses para as empresas deste segmento reembolsarem
clientes.
Os
Procons receberam, de janeiro a setembro deste ano, quase 65 mil reclamações
relacionadas ao transporte aéreo, 36% a mais do que em igual período de 2020.
Os consumidores reclamaram, dentre outras coisas, de dificuldades na remarcação
de passagens.
O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), do
Ministério da Justiça, notificou Azul, Latam, Gol e TAP, solicitando
esclarecimentos sobre esta situação.
PS: eu sei que o querosene de aviação, principal
insumo deste transporte, ficou quase 92% mais caro no segundo semestre de 2021,
em comparação a este período do ano passado.
E que parte expressiva das
despesas das empresas que atuam neste ramo é paga em dólar.
Nos Estados Unidos, as companhias aéreas fazem
promoções mais perto das viagens, com saldos de passagens, mas no Brasil as
companhias preferem manter alguns assentos vazios.
Atender bem é o mínimo que
se deveria fazer por um consumidor empobrecido, que tenta voltar à vida de
antes da pandemia.
MARIA INÊS DOLCI - Advogada especializada na área da defesa
do consumidor.